Catalunha. Depois da operação policial, Madrid quer negociações

Tudo parece negociável para o governo de Mariano Rajoy menos a possibilidade de a Catalunha poder decidir que quer ser independente

Nos bairros de muitas cidades e vilas da Catalunha ouvia-se o barulho ensurdecedor feito com milhares de tachos e panelas. Alguns moradores contactados pelo i descreviam que em muitas localidades da nação, sobretudo em Barcelona, o ruído era completamente infernal, com milhares de pessoas, às janelas, fazendo o máximo de barulho possível. Uma imigrante portuguesa, dona de uma cafetaria, ironizava que mais do que a Guarda Civil, quem estava a sofrer com os protestos dos catalães era o cão dela.

Milhares de pessoas concentraram-se frente ao Departamento de Economia do governo catalão, obrigando, por volta das três da manhã, a que a polícia de intervenção carregasse sobre os manifestantes que aí acampavam, de modo que os guardas civis que tinham entrado às oito da manhã pudessem sair da prisão em que involuntariamente se tinham colocado.

Na manhã que se seguiu, as ruas apareceram milagrosamente limpas pelos serviços municipais, ficando apenas muitos cartazes nas paredes. Mas foi uma calma que durou pouco: milhares de estudantes universitários começaram a cortar as ruas do centro de Barcelona e a deslocarem-se para o local onde iriam ser ouvidos, pelo juiz do 13.o julgado, os vários membros do governo catalão detidos na quarta-feira. Milhares de pessoas cercaram o tribunal ainda decorriam as audiências.

Vários dignitários do governo de Madrid reiteraram que a operação policial de quarta-feira apenas foi feita para impedir a realização do referendo “ilegal” do dia 1 de outubro, e que o governo autónomo se mantinha em funções, havendo espaço negocial para se poderem fazer ajustes nos poderes autonómicos atualmente concedidos aos catalães. Nesse sentido, a mesa do Congresso reuniu-se para vir a criar na próxima quarta-feira uma comissão para “negociar” com os catalães. Os deputados independentistas, com o aplauso da bancada do Podemos, protestaram contra as prisões “arbitrárias” dos governantes e ativistas catalães e reafirmaram a sua disposição de decidir, pelo voto democrático, se a Catalunha quer continuar a ser uma região subordinada a Madrid ou uma nação independente. 

Apesar da operação policial, das prisões e da apreensão de mais de 10 milhões de boletins de voto, o presidente do governo da Catalunha publicou às 17h29 de quinta-feira, na sua conta do Twitter, o endereço eletrónico em que os eleitores podem saber onde é a sua secção de voto a 1 de outubro.