Sporting e Benfica. Imagem imaculada vs humilhação histórica

Houve goleada na noite europeia dos dois portugueses em prova,mas não foi no jogo em que participou o Barcelona. Os leões saíram do duelo com Messi de cabeça erguida; as águias voltaram depenadas da Suíça

Incrível. Absolutamente incrível. É o único adjetivo aplicável àquilo a que se assistiu na noite europeia de ontem. Na verdade, não será propriamente o único – tanta coisa havia para dizer sobre o que se passou na Suíça. Mas fiquemo-nos por incrível. Numa das exibições defensivas mais aterradoras da história da Liga dos Campeões, o Benfica saiu vergado ao peso de uma derrota absolutamente humilhante: 0-5 perante o pior Basileia dos últimos anos – a mais pesada de sempre na competição. Ao mesmo tempo, em Alvalade, o Sporting bateu-se de igual para igual com o Barcelona, rondou a baliza de Ter Stegen e acabou por ser derrotado (0-1) por um golo fortuito, numa bola que tabela em Coates e entra assim na baliza à guarda de Rui Patrício. Um leão de cabeça erguida, apesar da derrota; uma águia depenada que mete pena, tamanhas as fragilidades deixadas à vista no St. Jakob-Park.

pouco messi e azar de coates

Estava tudo à espera de ver um recital de Messi em Alvalade. Afinal de contas, não é todos os dias que se tem a honra e o privilégio de ver de tão perto um dos melhores executantes da história da modalidade. Da última vez que tinha vindo jogar a casa do Sporting, em 2008, havia marcado um golo na vitória do Barça por 5-2; em 2012, na Luz, fez as assistências para os dois golos com que os blaugrana bateram o Benfica (0-2).

Ontem, porém, não se viu nada disso. A espaços, sim, houve lampejos de Messi – foi ele, de resto, a bater o livre que resultou no único golo do encontro –, mas que foram quase sempre bem neutralizados pela defesa leonina, que com qualidade ou simplesmente na garra – destaque para Mathieu e Coentrão – foi anulando os lances mais perigosos dos catalães. Não só de Messi, obviamente, mas também de Luis Suárez, o avançado do Barcelona mais em foco no encontro, e que protagonizou um duelo feroz com Rui Patrício – ganho a larga escala pelo guarda-redes do Sporting, uma das figuras da partida.

O Sporting não criou ocasiões flagrantes de golo. Realce para a tentativa de Piccini aos 17 minutos, numa arrancada pelo flanco direito que culminou num remate forte de longe que saiu por cima da baliza de Ter Stegen, e para algumas tentativas de Bruno Fernandes. Bas Dost, lançado em cima do intervalo para o lugar do lesionado Doumbia, também se esforçou bastante, mas faltou algo mais para chegar ao golo. No fim, e já depois de uma enorme defesa de Patrício a remate de Paulinho – após perda de bola de Coates, num jogo para esquecer –, os leões ficaram pela primeira vez em branco numa receção a uma equipa espanhola e sofreram a primeira derrota da temporada, mas os mais de 48 mil espetadores que marcaram presença em Alvalade não se devem ter importado muito com isso, dada a excelente resposta perante uma das equipas mais fortes do mundo. Enormes expectativas em relação ao Sporting-FC Porto de domingo.

desnorte total

O caro leitor leu todos os elogios que foram feitos aos leões nos parágrafos anteriores? Então, esqueça tudo isso nesta parte do texto: aqui vai falar-se de uma das exibições mais hediondas de sempre de um clube português na Liga dos Campeões.

Ora… por onde começar? Pode ser pelo princípio, na verdade, porque foi precisamente assim que começou o Basileia-Benfica: com as águias a sofrer um golo. No primeiro lance de ataque do jogo, os suíços deixaram bem à vista os problemas gritantes da defesa encarnada. Júlio César ainda defendeu a tentativa de Steffen, mas Lang, “assistido” por André Almeida, não perdoou na recarga.

O Benfica não se ficou, é verdade, e ainda esboçou algumas tentativas – mas o problema desta equipa não é, de todo, o ataque. Como ficou novamente demonstrado aos 20’, quando toda a defesa subiu… menos André Almeida, deixando Oberlin sozinho na cara do guarda-redes encarnado. Estava feito o 2-0. E ainda vinham mais: o terceiro chegou aos 59’, numa grande penalidade bastante duvidosa convertida com sucesso por Van Wolfswinkel – esse mesmo, o antigo avançado do Sporting. Na primeira parte, refira-se, dois lances igualmente duvidosos na área do Basileia – um choque entre Balanta e Raúl Jiménez e uma bola no braço de um helvético – foram considerados não faltosos pelo árbitro.
Mas havia mais para acontecer. Aos 62’, a cereja em cima do bolo de uma exibição a todos os níveis desastrosa de André Almeida: uma entrada a pés juntos e vermelho direto mais que justo.

E Rui Vitória a mexer… no ataque (Seferovic por Jonas), quando era toda a defesa que desabava. Num erro tremendo, Pizzi isolou Oberlin, que aumentou para 4-0. E já no quarto-de-hora final, após uma jogada em que a bola bateu nos dois postes da baliza de Júlio César, o recém-entrado Riveros selou a humilhação encarnada – que podia ter ganho contornos ainda piores, não fosse Júlio César e também o desacerto dos jogadores da equipa suíça. O Benfica nunca tinha perdido na Suíça; aconteceu ontem, naquela que foi a maior vitória de sempre do Basileia na Liga dos Campeões.