3 de outubro de 1960. O estranho desaparecimento de Brigitte Bardot

Eram visíveis, nos pulsos, marcas de uma tentativa de suicídio recente. Brigitte Bardot tinha 26 anos. Segundo o seu médico pessoal, estava num ponto de fragilidade preocupante. Como num filme de mistério, foram buscá-la à Clínica de Saint François e levaram-na para parte nenhuma

Não se pode dizer que os acontecimentos tenham apanhado toda a gente de surpresa.

Afinal, ainda há bem pouco tempo, o dr. J. Dupoy, de Paris, médico pessoal de Brigitte Bardot, tinha afirmado publicamente: “Brigitte ainda se sente atingida por uma reação de desespero. Se não forem tomadas ações imediatas, não tenho dúvidas de que continuará com as suas tentativas de suicídio.”

Pobre menina rica.

Continuava o dr. Dupoy: “Acima de tudo, preocupa-me a transformação que tenho encontrado nela. Encontrei-a mais madura, descansada e tranquila, mas ao mesmo tempo dá a sensação de que perdeu o contacto com o mundo exterior.”

Pouco tempo antes, Brigitte Bardot ingerira uma dose de barbitúricos.

Foi por pouco. Por muito pouco.

Questão de uma hora ou duas. Se não tivesse sido encontrada naquele estado, a morte seria certa.

Tinha 26 anos.

Pressões

O médico também não mostrava dúvidas em relação ao peso que a exposição pessoal da atriz tinha tido neste seu comportamento suicidário.

O polémico filme “E Deus Criou a Mulher”, realizado pelo seu marido Roger Vadim, atribuíra-lhe uma notoriedade desenfreada. A revista “Time” considerara-a uma das pessoas mais influentes do mundo.

E, de repente, era como se desaparecesse da face da Terra.

Dr. Dupoy outra vez: “Brigitte tem pedido informações sobre os filhos e sobre os seus animais de estimação, aos quais dedica um enorme carinho. Se perguntou pelo marido? Não vou responder a isso.”

Nessa altura, ela era casada com Jacques Charrier, que foi aconselhado a manter–se distante da mulher.

Francis Corne, produtor do filme “Quer Dançar Comigo?”, prometera à imprensa que Brigitte responderia a uma série de perguntas no momento de abandonar a clínica onde estava internada, sob o compromisso de não ser seguida por fotógrafos na viagem para o seu misterioso exílio.

Pouco antes do meio-dia do dia 3 de outubro de 1960, a atriz abandona as instalações da Clínica de Saint François.

Muitas câmaras de televisão estavam assestadas para a porta do estabelecimento de saúde.

Havia um nervosismo no ar.

Mas, ao mesmo tempo, pouco se sabia sobre este desaparecimento planeado de forma tão misteriosa.

Ninguém mas mesmo ninguém exterior ao seu círculo íntimo sabia qual o destino de Brigitte.

Pulsos feridos

Francis Cosme, grande amigo de B.B. e produtor de alguns dos seus filmes, dirigiu-se à mole de repórteres que esperavam no exterior do edifício: “Estou convencido de que será respeitado o acordo feito convosco. Se assim não for, tomaremos medidas enérgicas. Peço-lhes por tudo porque é muito grave o estado da doente que vai sair daqui!”

Brigitte Bardot era uma silhueta frágil, alquebrada.

Hesitante, surgiu no alto da escadaria, usando calças compridas e largas, uma camisola cinzenta e um véu branco que lhe envolvia o cabelo.

Uma palidez de morte numa mulher tão cheia de vida.

Uma rosa vermelha na mão direita.

Rosto pálido, feições vincadas de um sofrimento impossível de disfarçar.

Deixou-se cair pesadamente no assento do automóvel que a esperava.

Nem um som saiu dos seus lábios cerrados.

Nos punhos eram visíveis tiras de adesivos.

Partiu para algures sem que ninguém a seguisse.

Era a sua vez de ir para parte nenhuma.