Boa figura não chega para fazer frente à crueldade dos maiores

Benfica e Sporting deram boa conta de si – surpresa maior até do lado encarnado –, mas erros próprios ditaram os desfechos já esperados a priori. As águias estão praticamente fora; os leões têm mais um round para fintar o destino

Voltámos à triste sina das vitórias morais. Quer Benfica, quer Sporting exibiram-se ontem a um nível bastante interessante frente a duas das melhores equipas do futebol mundial, jogando de igual para igual e deixando a impressão de que era possível sonhar; quer Benfica, quer Sporting acabaram derrotados. A juntar ao desaire portista na véspera, em Leipzig, ficou assim concluída uma semana negra para as equipas portuguesas na maior prova europeia de clubes.

O encontro na Luz, que assinalou o regresso em jogos oficiais de José Mourinho ao recinto encarnado após 13 anos, ficou marcado por uma estreia: com 18 anos e 52 dias, o belga Svilar tornou-se no mais jovem guarda-redes de sempre da prova, batendo um recorde que datava de 1999 e que pertencia a Iker Casillas (18 anos e 118 dias quando foi lançado na baliza do Real Madrid). Havia de ser, porém, também Svilar a marcar de forma inapagável a história do jogo, com um erro a roçar o insólito que valeu o triunfo aos red devils.

Além de Svilar, Rui Vitória apresentou no onze mais duas grandes novidades: a estreia absoluta de Diogo Gonçalves a titular e a mudança de esquema para 4x3x3, depois das críticas ferozes que tem sofrido nos últimos tempos por manter a insistência no 4x4x2 antigo. Uma mudança que ditou também a despromoção de Jonas para o banco, com Raúl Jiménez como ponta-de-lança e um meio-campo reforçado com Filipe Augusto. Do outro lado, o mesmo esquema e dois velhos conhecidos: Lindelof e Matic.

Estranhamente, tendo em conta as mais recentes demonstrações futebolísticas encarnadas, o Benfica fez um bom jogo. Especialmente na primeira parte. Rondou a baliza do United, criou ocasiões (Luisão viu um golo negado por Smalling e Salvio falhou um golo que parecia feito, depois de excelente combinação entre Diogo Gonçalves e Grimaldo) e conseguiu com sucesso manter o adversário relativamente longe da zona de finalização – com exceção de um corte belíssimo de Rúben Dias a um cruzamento venenoso e uma defesa de Svilar a remate de Matic.

No segundo tempo, menos presença no campo adversário, mais tempo remetido perto da sua área… até ao momento do jogo: num livre lateral cobrado por Rashford, Svilar optou por agarrar a bola em vez de a socar. O problema é que acabou por passar a linha de golo – bem se esforçou por “provar” que não o tinha feito, mas na Champions existe tecnologia da linha de baliza. Azar para o jovem guardião belga, que acabou a pedir desculpa aos adeptos.

Os segundos 45 minutos resumem-se ao golo do United, mais um ou dois lances de relativo perigo e à expulsão de Luisão nos últimos segundos. Os red devils venceram as águias pela sétima vez em 11 confrontos e cimentaram o primeiro lugar no grupo A – no outro jogo, o Basileia foi vencer por 2-0 ao terreno do CSKA de Moscovo e subiu para segundo. Já o Benfica ainda não está matematicamente afastado da discussão, mas é só mesmo isso: uma questão matemática.

O desperdício também acaba

Em Turim, num encontro inédito na história das competições europeias, o cenário não foi muito diferente. O Sporting voltou a apresentar muita qualidade nos seus processos, entrou praticamente a vencer – com sorte à mistura, é verdade –, mas acabou por sucumbir ao poderio dos italianos e às suas próprias deficiências.

No esquema habitual, com Coentrão de regresso ao onze e Bas Dost a titular pela primeira vez nesta edição, os leões adiantaram-se no marcador logo aos 12 minutos, em mais uma jogada de sonho de Bruno Fernandes: um passe a rasgar que isolou Gelson Martins. Buffon defendeu o remate do internacional luso, mas Alex Sandro, que vinha a correr atrás do jogador do Sporting, acabou por tocar involuntariamente a bola para a própria baliza.

Não durou muito: aos 29’, Pjanic restabeleceu o empate num livre direto perfeito. Rui Patrício nem se mexeu. A Juventus começou então a somar ocasiões, mas Mandzukic e Higuaín foram desperdiçando. Até aos 84’, quando o croata ganhou de cabeça a Jonathan Silva, que havia entrado pouco antes devido a problemas físicos de Fábio Coentrão – outra vez… –, e fez o 2-1 final. No último lance do encontro, Doumbia, lançado por Jorge Jesus no sufoco, ainda falhou uma ocasião gritante na cara de Buffon – o lendário guardião italiano até jogou as mãos à cara, num misto de alívio e surpresa. No final, o Sporting voltou a não vencer em Itália (já lá vão 14 tentativas goradas) e perdeu terreno na luta pelo apuramento: é agora terceiro no grupo D, a três pontos da Vecchia Signora e a seis do Barcelona, que venceu o Olympiacos por 3-1.