PSD esmagado em Lisboa

O PSD não podia ter apoiado Cristas, pois o CDS é um adversário

No PSD saltou-se diretamente de uma derrota autárquica em Lisboa e no Porto para a luta pela liderança do partido, sem passar pela análise da campanha eleitoral.

Se olharmos para as linhas de força da campanha de Teresa Leal Coelho e da sua equipa, descobrimos que já estava latente aquilo que se discute agora: o que é o partido, como se posiciona?

Já muito se disse sobre a candidatura do PSD a Lisboa, algumas coisas acertadas, outras erradas, mas a maioria foi bastante superficial. O que ainda ninguém disse ou escreveu é que o que matou a campanha em Lisboa, mesmo antes de ela começar, foi o PSD não saber se é de centro-direita ou de centro-esquerda.

Vou tentar provar o que digo.
A campanha teve três linhas de força: a primeira foi a relação com o CDS, a segunda foi a relação com Fernando Medina e a terceira foi a ‘fixação’ nos bairros municipais.

Depois do resultado de Lisboa, em que Assunção Cristas teve o dobro dos votos do PSD e se consagrou como a segunda força política (e a voz da oposição a Medina), muita gente vem dizer que Pedro Passos Coelho deveria ter apoiado Cristas. Ora, tal não poderia acontecer. Não há forma nem jeito de o líder de um partido grande assumir que, em muitos anos, não formou ninguém nem se preparou.

Se o maior partido da oposição não servir para fazer um candidato a Lisboa ou ir buscá-lo, se tiver de apoiar o líder de outro partido (pequeno), então mais vale apagar a luz, fechar a porta e entregar as chaves, porque não serve para nada.

E não só não o pode apoiar, como tem de o ver como aquilo que é: um adversário político. E aos adversários políticos não se facilita a vida.

Em Lisboa, cada voto que o CDS tivesse acima dos 6% era um voto ‘roubado’ ao PSD, um voto ‘natural’ do PSD, de acordo com os resultados das últimas legislativas.

No distrito de Lisboa, os concelhos são vasos comunicantes, toda a gente faz a vida em pelo menos dois concelhos. O CDS não podia ser aliado nuns concelhos e adversário noutros. Porque baralha e confunde os eleitores que gostam de clareza na mensagem.

Ao CDS NÃO se podia dar o direito de escolher os concelhos onde lhe dava jeito ser aliado do PSD. Tinha de ser como nos casamentos: na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza.

Quando Assunção Cristas quebra o pacto em Loures, não aceitando a coligação com André Ventura, devia ter sido confrontada com o inevitável: caía Loures, caíam todas as coligações. O facto de o PSD ter cedido nisso prejudicou objetivamente a candidatura de André Ventura e de Teresa Leal Coelho, porque os seus eleitores não gostam de fraqueza.

A única que obteve ganho de causa foi Assunção Cristas, no único sítio que lhe interessava: Lisboa. Neste particular, Cristas mostrou sangue frio e killer instinct. E disso o povo gosta.

Sobre a relação com Medina e a ‘fixação’ nos bairros municipais, falarei na próxima semana.

sofiarocha@sol.pt