Legionela. Falta de análises e autópsias foi decisiva no caso de Vila Franca

Acusação deixou de fora maioria das vítimas por falta de provas.

O Ministério Público justificou esta semana a ordenação das autópsias dos dois doentes que não sobreviveram à doença dos legionários como “essenciais para a investigação em curso”. Fontes do setor admitem que o caso de Vila Franca de Xira poderá ter pesado na intervenção do MP, que na noite de terça-feira viria a dizer estar “consciente da sensibilidade da situação”, lamentando o sofrimento causado às famílias que tiveram de interromper os velórios.

Na acusação do caso de Vila Franca de Xira, conhecida em março, o MP acabou por ter de excluir a maioria das pessoas que contraíram legionela por não haver os indícios probatórios suficientes. Apesar de a DGS ter contabilizado 375 casos neste surto de legionela de novembro de 2014, o Ministério Público só conseguiu 152 amostras clínicas de doentes e em apenas 77 casos foi confirmada a presença de legionela, sendo que destes apenas 73 coincidiam com a estirpe detetada na torre de arrefecimento da Adubos de Portugal, acusada pelo crime de infração de regras de construção, dano em instalações e perturbação de serviços.

Fontes próximas do processo admitem que o facto de não terem sido feitas análises a todos os doentes mas também não terem sido feitas autópsias a todas as vítimas mortais contribuiu para esta falta de indícios, erro que o MP poderá não ter querido repetir. Por exemplo dos 14 doentes que morreram em 2014, apenas em oito casos a investigação conseguiu apurar nexo de causalidade. Seis vítimas mortais, de acordo com a acusação a que o i teve acesso, foram declaradas doentes sem estirpe, ou seja, não havia análises suficientes e um pedido de indemnização poderá ser dificultado. Para já, o processo aguarda ainda a abertura da fase de instrução.