Itália. Buffon em lágrimas diz adeus à seleção (com vídeo)

O lendário guarda-redes italiano não conseguiu esconder a frustração após o 0-0 frente à Suécia, que ditou o afastamento do Mundial do próximo verão

Será provavelmente a ausência mais lamentada pelos adeptos de futebol no próximo Mundial. Com o desastre da eliminação italiana perante a Suécia, Gianluigi Buffon ficou arredado do Campeonato do Mundo da Rússia e foi em lágrimas que anunciou a despedida internacional, ele que é o recordista do mundo, com 175 jogos pela seleção A italiana. "Sinto muito por mim, mas por todos os italianos. Falhámos algo importante até a nível social, esse é o único lamento que tenho. É um desgosto que esta última partida oficial pela seleção coincida com a eliminação de um mundial. Somos italianos, sempre capazes de ressuscitar. Deixo agora a baliza para o grande Donnarumma e para o Mattia Perin, que é um ótimo guarda-redes", assumiu o guardião de 39 anos, elogiando também o adversário: "Não era fácil ultrapassar a Suécia, ao contrário do que alguns adeptos italianos poderiam esperar. Não desprezámos em nenhum momento a Suécia, mas não fizemos o melhor que pudemos. Era difícil recuperar de um golo, a nível mental, psicológico. Perdemos o discernimento poder marcar e a Suécia soube jogar com isso."

Buffon referiu ainda que, além dele, também outros três jogadores deverão deixar a seleção. "O tempo passa e é um tirano. É um desgosto que a última partida oficial coincida com o falhanço de uma qualificação mundial. Não quero roubar a cena aos outros rapazes, como Chiellini, Barzagli ou De Rossi, que creio que vão deixar a seleção depois de mim. Foi uma honra conviver com eles todos estes anos e o meu único objetivo hoje era não fazer chorar todas aquelas crianças que sonham em chegar à seleção, como eu fiquei desapontado com o remate ao poste de Rizzitelli em 1992, com a Rússia [qualificação para o europeu…da Suécia]. Não o conseguimos fazer e por isso peço desculpa", lamentou.

 

Buffon: "Lo siento".
Las lágrimas de un mito.#DestinoRusia pic.twitter.com/zLDaPUhfbS

— La Casa del Fútbol en Movistar+ (@casadelfutbol) 13 de novembro de 2017

 

Buffon, diga-se, é reconhecido não só pelos seus dotes extraordinários como futebolista, mas também pelo cavalheirismo e comportamento exemplares. Como voltou a demonstrar ainda antes do encontro desta segunda-feira, quando contrariou os apupos dos adeptos ao hino sueco com aplausos.

 

Ao ver as imagens de Buffon em lágrimas, Iker Casillas, guarda-redes do FC Porto que há vários anos mantém uma amizade com o guardião italiano, deixou uma mensagem via redes sociais. "Não gosto nada de ver-te assim. Quero ver-te como até agora, como continuas a ser para muitos: uma lenda. Orgulhoso de conhecer-te e orgulhoso de ter ter enfrentado muitas vezes. Ainda tens de nos deleitar no futebol, amigo", escreveu o guardião espanhol na sua conta do Twitter.

 

No me gusta nada verte así! Quiero verte como hasta ahora, como lo que sigues siendo para muchos: una LEYENDA. Orgulloso de conocerte y orgulloso de haberme enfrentado a ti muchas veces. Aún nos tienes que deleitar en el fútbol amigo! #1 pic.twitter.com/gs9o0irCqo

— Iker Casillas (@IkerCasillas) 13 de novembro de 2017

 

Pouco depois de Buffon adiantar o adeus de outros companheiros à seleção, Daniele De Rossi confirmou as palavras do capitão da squadra azzurra. "É um momento negro para o nosso futebol, negríssimo para nós que fizemos parte deste biénio. Haverá tempo para analisar tudo. Creio que a federação deverá refletir para perceber como deve recomeçar. A única coisa a guardar é o espírito e a vontade que tivemos até ao último segundo desta aventura. Apesar de tudo o que estava mal, taticamente, tecnicamente e fisicamente, não merecíamos ser eliminados Parabéns a eles [suecos], que fizeram a partida deles. Temos muitos jovens e devemos recomeçar com eles a todo o custo. São 16 ou 17 anos a andar por Coverciano [onde a equipa se junta] e pensar que a última vez que visto esta camisola corre assim… Depois da partida havia um ambiente fúnebre com os outros colegas", assumiu o médio da Roma, ele que protagonizou um dos momentos da noite: com a Itália a precisar urgentemente de marcar um golo, o selecionador mandou De Rossi aquecer. O médio, cujas características são sobretudo defensivas, insurgiu-se contra a ordem, apontando para Insigne e lembrando que Itália precisava de vencer, não de empatar. "Foi um momento frenético e pedi para entrar um avançado. Talvez Insigne ou El Shaarawy pudessem ser mais úteis do que eu", disse no fim. El Shaarawy, seu colega em Roma, acabou mesmo por entrar.

 

#DeRossi: "Che cazzo entro io? Non dovemo pareggià, dovemo vince!", indicando Insigne. pic.twitter.com/Vr2uTy9wnF

— Valerio Curcio (@ValerioCurcio) 13 de novembro de 2017

 

Também Andrea Barzagli confirmou no final do jogo a sua despedida da seleção italiana. Um adeus muito diferente daquele que tinha planeado. "Futebolisticamente é a maior deceção da minha vida. A seleção dá arrepios, cria amizades entre todos os adeptos, une-os. É, realmente, uma pena acabar assim. É uma desilusão incrível. Para mim foi a última vez: é um golpe duro na minha carreira. Fecha-se um ciclo para quatro ou cinco veteranos e abre-se outro com jovens que chegam com vontade", sentenciou.

Debaixo de fogo está agora o selecionador italiano, Giampiero Ventura. No fim do jogo, pediu desculpas aos adeptos e disse apenas não ter ainda falado com o presidente da Federação. "Não me demiti porque não falei com o presidente. Há muitas considerações a ter, tenho de falar com a federação. A responsabilidade é do selecionador, é banal dizê-lo: é um resultado pesadíssimo porque estávamos convencidos de que conseguíamos a qualificação. Estou orgulhoso de ter feito parte deste grupo, de ter trabalhado com grandes campeões e com outros que espero que venham a sê-lo. Pela enésima vez, percebi o que é orientar a seleção, qualquer coisa de excecional. Agradeço ao público, a verdade é que merecíamos passar. Lamento pedir desculpas aos italianos pelo resultado, mas não pelo empenho. Sei que o que conta é o primeiro", salientou.

A verdade é que a Itália fica de fora de um Mundial pela primeira vez em 60 anos – participou em todos desde 1958, cuja fase final se disputou… na Suécia. Esta é também a primeira vez em 12 anos que um campeão do mundo falha um Mundial: o último havia sido o Uruguai, em 2006.