Quebramar insolvente passa para as mãos de dois empresários brasileiros

Cláudio Haber Laranjeira e Maurício Espíndola Dias são os novos donos depois de operação de saneamento e transmissão dos ativos. Prometem criar 150 empregos

A Quebramar já tem novos donos. A empresa insolvente foi vendida a dois empresários brasileiros, tendo a operação sido aprovada pelos credores, que se reuniram ontem em assembleia no Tribunal de Santo Tirso. O sucesso da operação dependeu do aval do Novo Banco, o principal credor, que detinha 83% (25,1 milhões de euros) dos créditos reconhecidos sobre a cadeia de vestuário.

De acordo com o “Jornal de Notícias”, os empresários brasileiros Cláudio Haber Laranjeira e Maurício Espíndola Dias são os novos donos da marca, depois da aquisição dos ativos associados à Quebramar, e em contrapartida pagaram os créditos sobre a Terra Mítica, avaliados em 23,3 milhões de euros.

A Terra Mítica foi a sociedade criada por Gonçalo Esteves. fundador da Quebramar, e pelo grupo Regojo no final do séc. xx, para gerir e expandir a marca em Portugal e a nível internacional.

Gonçalo Esteves, que ainda hoje se mantém na administração da empresa, desenhava e vendia t-shirts alusivas à vela, atividade que era a sua paixão e praticava no Clube Naval de Cascais. O objetivo era ganhar dinheiro para as férias. Mas, três anos depois, o projeto tornou-se um negócio e foi criada a Quebramar.

A marca, que no início tinha quatro trabalhadores, começou por ser vendida em catálogo. Em 1999, altura de expansão no consumo e construção de centros comerciais em Portugal, Esteves juntou-se ao grupo Regojo (que detinha o master-franchising da rede de lojas Massimo Dutti em Portugal até 2012).

Falhanço do PER

Os sócios criaram a empresa Terra Mítica que, quase 20 anos depois e com dívidas de mais de 30 milhões de euros, aderiu ao processo especial de revitalização (PER) em abril de 2016. Este fracassou devido ao chumbo do Novo Banco, depois de as negociações relacionadas com o reconhecimento dos créditos não terem corrido da melhor forma. A Terra Mítica entrou em insolvência.

Mas foi durante o PER que a empresa encontrou um grupo de investidores brasileiros que estava interessado em criar uma rede de retalho em Portugal.

Ontem, de acordo com o noticiado pelo “JdN”, a assembleia de credores aprovou uma operação de “saneamento por transmissão” da Terra Mítica. Esta estabelece o compromisso da sociedade de Laranjeira e Espíndola Dias em adquirir os créditos de 22,8 milhões de euros da sociedade onde estão os créditos reconhecidos ao Novo Banco.

Os empresários pagarão também, em prestações, as dívidas da Quebramar à Segurança Social (409 mil euros) e à Autoridade Tributária (251 mil euros).

O plano de insolvência da Terra Mítica revela ainda que a dupla de investidores brasileiros se compromete ainda a criar, no âmbito da exploração da marca e no prazo de três anos a contar da data de trânsito em julgado da sentença de homologação do plano, “um mínimo de 150 postos de trabalho, dando preferência, em igualdade de circunstâncias, aos ex-trabalhadores da insolvente”.

Incumprimento

Para a Terra Mítica, a operação de “saneamento por transmissão” é a que melhor “concilia os interesses” dos intervenientes neste processo, que começou depois dos três milhões de euros de prejuízos registados nos últimos dois anos, que levaram a que a empresa entrasse em incumprimento com a banca, fornecedores e Estado.

Mas, no início do século, o panorama era diferente. Quatro anos depois da sua criação, a Terra Mítica empregava 330 pessoas, tinha uma faturação de 20 milhões de euros e uma rede de 22 lojas em Portugal. No ano de 2003 tinha inaugurado uma segunda loja em Madrid, a sua segunda unidade na capital espanhola, e esperava abrir 70 lojas no país vizinho no espaço de quatro anos.

Desde 2011, quando a Quebramar detinha 42 lojas, quatro das quais em Espanha, o grupo Lanidor adquiriu 31% do capital da marca, que passou a integrar um universo empresarial que tem, para além da Lanidor, a Companhia do Campo, a Globe e a Casa Batalha.

Com 36 lojas (34 em Portugal, uma em Doha (Qatar) e outra em Maputo (Moçambique), as vendas da Terra Mítica em 2016 foram de 14,7 milhões de euros, tanto quanto faturou em 2002. Nos últimos anos teve prejuízos de três milhões de euros.