Schulz nega estar a negociar coligação com Merkel

O Bild  avançou que o líder do SPD já tinha tido conversas exploratórias para uma nova coligação com a chanceler: ‘As notícias são pura e simplesmente falsas’, garantiu Schulz

Schulz nega estar a negociar coligação com Merkel

O líder do Partido Social Democrata (SPD) alemão negou ontem ter tido qualquer conversação exploratória para uma nova grande coligação de Governo na Alemanha. «As notícias são pura e simplesmente falsas», garantiu Martin Schulz, referindo-se às informações avançadas pelo jornal Bild que dava conta de uma reunião entre o líder do SPD, a chanceler Angela Merkel, e o líder do partido gémeo da CDU na Baviera, CSU, Horst Seehofer, sobre a possibilidade de renovar a coligação de governo da anterior legislatura.

Schulz adiantou que telefonou à chanceler a protestar por aquilo que classificou como informações «inaceitáveis» passadas à imprensa por alguém da CDU-CSU. E sublinhou que o seu partido continuava a estudar todas as possibilidades, depois de o Presidente Frank-Walter Steinmeier lhe ter pedido que cedesse na sua posição de querer ser apenas líder da oposição nesta legislatura, assumindo que o mau resultado do SPD nas eleições de 24 de setembro teriam sido uma penalização do eleitorado por o partido ter estado coligado com a CDU.

«Há muitas opções para uma formação do governo e vamos falar sobre todas elas, não há necessidade automática de assegurar uma grande coligação, deixei claro isso nos últimos dias», adiantou Schulz.

Steinmeier, que é do SPD e foi por duas vezes ministro dos Negócios Estrangeiros, representa uma das alas do partido que defende a reedição da coligação pelo bem do país. A outra ala, com Schulz à cabeça, considera (ou considerava) imprescindível para bem do futuro do partido que este se recupere com uma passagem pela oposição.

Ainda para mais quando na campanha eleitoral se extremaram tanto as posições, com Merkel a conduzir aquilo que Schulz considerou uma «campanha escandalosa» e a acusar a chanceler de «ser incapaz de estar no Governo».

No entanto, depois de Steinmeier se ter reunido na quinta-feira com Merkel e Schulz a possibilidade de uma reedição da grande coligação parece ganhar cada vez mais forma. Mesmo tendo em conta que os resultados eleitorais e o impasse na política alemã derivam exatamente da rejeição que o eleitorado alemão demonstrou em relação ao Executivo de coligação. Tanto a CDU, como a CSU e o SPD foram penalizados nas urnas, reeditar uma coligação de poder com três políticos que lideraram os seus partidos para maus resultados e foram responsáveis pela maior crise política do pós-guerra na Alemanha parece à primeira vista uma traição ao que ditaram as urnas.

Será, pois, a concretizar-se, um Governo enfraquecido à partida pela fragilidade que as urnas trouxeram aos seus líderes. De que maneira é que isso poderá refletir-se na política alemã? Ainda para mais com um Bundestag em que a oposição estaria liderada por um partido da extrema-direita (AfD), exatamente na primeira vez que uma formação política com tal ideologia se senta no parlamento alemão desde que Adolf Hitler e o seu III Reich foram derrotados na guerra.

A Der Spiegel alerta para o «grande perigo» de vir a acontecer na Alemanha o mesmo que já se passou na Áustria: o de, ao atenuar a alternância entre os dois grandes partidos, esbatendo as diferenças pela participação nos mesmos governos, se abrir caminho a oposições mais extremistas que apelem a um eleitorado cansado de estar sempre a ver mais do mesmo.

A estabilidade é um fator caro aos alemães e a convocação de novas eleições está longe de ser uma solução a que se recorra de ânimo leve. Até porque o resultado é imprevisível e é bem provável que não cortasse o nó górdio em que se viu metida a política alemã. E como o mais provável é que tanto a CDU como o SPD pudessem baixar a sua votação, não admira que nenhum deles tenha o regresso às urnas como grande prioridade.

Se voltar à fórmula da grande coligação parece a única maneira de evitar eleições antecipadas, o SPD ainda diz que continua a tentar analisar alternativas que permitam ultrapassar a crise política, apoiando, por exemplo, um Governo minoritário entre a CDU-CSU e os Verdes. No entanto, também essa hipótese começa a parecer mais teórica do que prática.

Em entrevista à Der Spiegel, Schulz deu a entender que estava preparado para dar o dito por não dito e de inflexível opositor de uma nova grande coligação passar a seu defensor, porque o SPD «sempre assumiu a sua responsabilidade pelo bem-estar comum». Aos jornalistas, ontem, afirmou que «há um amplo consenso para não pôr de parte nenhuma opção em relação à formação do novo Governo», num claro eufemismo de quem já abre as portas à coligação.

Schulz vai debater com a liderança do partido na segundas-feiras as possibilidades em cima da mesa. No entanto, o líder social-democrata garante que não se sente pressionado para decidir rapidamente: «Temos um governo em funcionamento na Alemanha, não há pressão em termos de prazos».