Comissão tem seis meses para estudar mudança do Infarmed

Ministro da Saúde nomeia hoje grupo de trabalho com mais de 20 peritos que serão presididos pelo anterior presidente do Infarmed, Luz Rodrigues. Decisão será tomada depois de junho

Só em junho os trabalhadores do Infarmed vão saber o seu futuro. É que o ministro da Saúde só a partir de junho vai chegar a conclusões sobre a mudança de 70% da estrutura da autoridade do medicamento para o Porto.

Antes de tomar qualquer decisão, Adalberto Campos Fernandes vai nomear um grupo de trabalho – hoje publicado em Diário da República – que será presidido pelo antigo presidente do Infarmed, Henrique Luz Rodrigues, e do qual vão fazer parte mais de 20 peritos com valências de várias áreas e de pontos diversos do país. Serão estes peritos que vão estudar todos cenários e impactos provocados com a mudança do Infarmed para a Invicta.

Esta foi uma das medidas ontem comunicadas por Adalberto Campos Fernandes à comissão de trabalhadores da autoridade do medicamento com quem esteve reunido.

De acordo com o coordenador da comissão de trabalhadores, Rui Spínola, o ministro terá garantido que o trabalho dos peritos “não terá qualquer condicionalismo político” e que a partir da publicação do grupo de trabalho em DR, que o governo “vai sair de cena e vai deixar os peritos trabalhar”, contou ao i Rui Spínola no final da reunião com a tutela.

No entanto, a comissão de trabalhadores não vai estar incluída no grupo de trabalho. “Lamentamos que mais uma vez os trabalhadores não foram tidos em conta. O Infarmed não é a placa, são os trabalhadores que o construíram e que detém o conhecimento”, avisa Rui Spínola.

Mas Adalberto Campos Fernandes terá garantido que “o governo não iria deixar de ter em conta os relatórios produzidos” pelos peritos para a decisão final.

Por isso, acrescentou Rui Spínola, os trabalhadores estão “convictos de que o relatório final não será muito diferente daquilo que nos preconizámos desde o primeiro dia: Acreditamos que nem o ministro e nem o governo tomará qualquer decisão que ponha em risco a instituição, a saúde pública e acima de tudo Portugal”.

A polémica

O governo quer transferir para o Porto 70% da estrutura do Infarmed, a partir de janeiro de 2019 de forma progressiva. A decisão foi comunicada no final de uma conferência e um dia depois de a Invicta ter sido rejeitada para acolher a sede da Agência Europeia do Medicamento (EMA).

Tanto a presidente do Infarmed como os trabalhadores foram apanhados de surpresa e não tardou a estalar a polémica.

De acordo com advogados ouvidos pelo i, a decisão do governo é ilegal. E, por isso, os trabalhadores podem impugnar a sua transferência para a Invicta.

De acordo com a Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas, antes de tomar esta decisão, Adalberto Campos Fernandes teria obrigatoriamente de pedir um parecer prévio à comissão de trabalhadores – o que não aconteceu, garantiu ao i o Infarmed.

Desta forma, o ministro da Saúde violou a lei ao tomar a decisão sem ter pedido previamente qualquer parecer escrito, de acordo com alguns advogados ouvidos pelo i. O parecer dos trabalhadores “não é vinculativo” mas, se assim o entender, a comissão de trabalhadores “pode impugnar judicialmente a sua transferência para o Porto com o fundamento de ausência de parecer prévio”, disse ao i o advogado Filipe Azoia, também ex-presidente do Infamed.

Os trabalhadores reuniram em plenário na sede da autoridade nacional do medicamento, durante o qual fizeram um inquérito cujos resultados foram enviados ainda ontem ao ministro da Saúde e ao Presidente da República. De acordo com a informação divulgada pelo Infarmed, 291 funcionários (91% do total de 321 trabalhadores inquiridos) já fizeram saber que não vão trabalhar para o Porto. Apenas 20 se mostraram disponíveis para se mudarem para a Invicta. E há 312 (97% dos inquiridos) que “não concordam com a decisão da mudança”.

Há 40 anos que o Infarmed está em Lisboa.