21D. Ciudadanos ganha, mas os independentistas podem ser maioria no parlamento

Os dados fundamentais das eleições são a vitória de Inês Arrimadas, além da capacidade de Puigdemont de resistir à ultrapassagem da ERC, e os independentistas podem continuar a ter a maioria dos deputados

Os catalães bateram recordes de participação nestas eleições de 21 de dezembro, superando, com 83%, a ida às urnas de 2015 que já tinha tido a participação quase recorde de 75% dos eleitores. A votação teve um ritmo diferente do habitual. Por ser em dia de trabalho, as pessoas tinham quatro horas para faltar ao emprego. Às 12h a participação era ligeiramente menor do que em 2015, tendo-se alterado ao longo da tarde. O maior aumento na afluência às urnas foi sobretudo em circunscrições normalmente não independentistas.

A situação radicalizada, nos últimos anos, pela luta pela independência, o referendo de 1 de outubro, a repressão policial, a suspensão da autonomia com o artigo 155, e a prisão dos dirigentes catalães, criaram uma situação tão extraordinária, com uma campanha eleitoral com vários candidatos independentistas presos, que nenhuma televisão teve a coragem de fazer sondagens à boca das urnas. A única sondagem foi a do jornal “La Vanguardia”, feita com 3200 entrevistas por telefone. Paga pelo grupo Godot dava ao início da noite, dois cenários contraditórios, uma possível vitória do Ciudadanos e a manutenção da maioria absoluta independentista.

Ao longo da noite, no momento em que fechamos a edição e tendo em conta o atraso nas contagens, os dados mais importantes confirmam-se: a mais que provável vitória do Ciudadanos, que ganham mais cerca de dez deputados, e a possibilidade dos independentistas continuarem a ter a maioria absoluta no parlamento; mas também um dado que nenhuma sondagem previa: JxC consegue impossibilitar, ou minorar, a ultrapassagem do presidente do governo autonómico, Carles Puigdemont, pelo partido do seu vice-presidente preso, Oriol Junqueras, a Esquerda Republicana da Catalunha.

Se isso se verificar até ao fim da contagem, os independentistas vão continuar a governar a Catalunha, mas com algumas dificuldades complicadas: os líderes dos dois partidos não vão conseguir tomar posse no parlamento, um está preso e outro tem uma ordem de prisão, caso volte a Espanha. Os seus números dois estão numa situação quase semelhante: Jordi Sànchez, antigo presidente da ANC e número dois da força política de Puigdemont, está preso, e Marta Rovira, a segunda candidata da Esquerda Republicana da Catalunha, é acusada num documento da investigação da Guarda Civil dos crimes de “rebelião” e “sedição”, podendo caso o juiz do Supremo Tribunal, Pablo Llarena, aceite os argumentos, voltar à prisão.

O que quer dizer, que é possível que um próximo parlamento nomeie como presidente do governo catalão, um homem que quando for tomar posse vai parar à prisão.

O grande derrotado da noite parece ser o governo de Madrid, apesar destas eleições decorrerem com a aplicação de uma intervenção do executivo de Rajoy, suspendendo a autonomia e prendendo os líderes dos partidos independentistas, os catalães voltam a dar maioria aos partidos independentistas. A derrota é mais amarga porque o candidato do Partido Popular conseguiu perder sete deputados, dos 11 que tinha, perdendo até a possibilidade de formar grupo parlamentar.

A extrema-esquerda independentista também paga o preço nestas eleições, com menos seis deputados, ficando com quatro dos dez que tinha. Os catalães parecem não acreditar na possibilidade de declarar a República de uma forma unilateral.

A situação na região vai continuar complicada, até porque as forças da ordem a mando do governo de Mariano Rajoy, continuam a apostar na confrontação com o independentismo. Exemplo máximo deste comportamento é o documento que a investigação da Guarda Civil entregou ao Supremo Tribunal, para além de querer prender a dirigente da ERC, Marta Rovira, querem proibir as manifestações independentistas e processar Pep Guardiola

O documento que a Guarda Civil entregou ao juiz do Tribunal Supremo, Pablo Llarena, com elementos da sua investigação para acusação dos dirigentes catalães pelos crimes de “rebelião” e “sedição”, defendem que as manifestações do dia da Catalunha (a Diada, celebradas a 11 de setembro), são “um perigoso gérmen do sentimento de recusa e ódio, contra o Estado espanhol e as instituições que o respaldam”, para além desse dedo acusador contra o direito à manifestação livre, também o antigo treinador do Barcelona, e atual do Manchester City, Pep Guardiola é acusado neste documento, entregue pela Guarda Civil ao juiz Pablo Larena, e pode sofrer as consequências disso.