Ser contra Margaret Court e defender o seu estádio

Quando os clubes de Lisboa celebram os títulos de futebol no Marquês de Pombal algum clérigo proclama deitar abaixo a estátua do ministro de D. José I por ter perseguido os jesuítas?

Alguma organização judaica exigiu a remoção da estátua de D. João III da Universidade de Coimbra, o rei que trouxe a inquisição para Portugal, por aquele monumento ser um insulto aos estudantes judeus?

Então expliquem-me porque deverão o Governo do estado australiano de Victoria e a Tennis Australia rebatizar a Margaret Court Arena, o segundo estádio mais importante de Melbourne Park, a sede do Open da Austrália?

É o que exigem as campeoníssimas do ténis Billie Jean King e Martina Navratilova, defensoras dos direitos da chamada comunidade LGBT, alegando que Margaret Court, de 75 anos, hoje em dia reverenda pentecostal, tem proferido declarações homofóbicas.

Há um ano trouxe a esta coluna essas declarações de Court, que são, sem dúvida, violentas, repulsivas e repudiantes.
Mas Margaret Court não tem o nome naquele estádio pela sua atividade e ideologia religiosa. É simplesmente a recordista mundial de títulos do Grand Slam, com 24 de singulares, sendo uma das três únicas mulheres que completaram o chamado Grand Slam, isto é, venceu no mesmo ano os quatro Majors. Na Austrália ainda é considerada a melhor tenista de sempre.

Nos Estados Unidos e na Europa os seus feitos desportivos têm sido esbatidos por estar sempre no lado errado nas chamadas questões fraturantes, e por ter sido contra a separação do circuito profissional feminino do masculino, cuja principal porta estandarte foi… Billie Jean King, vencedora de 12 troféus de singulares do Grand Slam.

As duas quase se odeiam. Foram grandes rivais dentro e fora do campo. Em currículo desportivo Court superou King, com 22-10 no ‘mano-a-mano’, incluindo vitórias nas duas finais de Majors que decidiram entre si.
Mas em tudo o resto foi a versão dos acontecimentos de King que prevaleceu. É mais mediática, mais influente e é… americana. Basta ver no recente filme Guerra dos Sexos, com a atriz Emma Stone a representar Billie Jean, quem sai favorecida no guião!

Odeio quase tudo o que defende Court, mas insurjo-me igualmente contra a ditadura do politicamente correto em que vivemos cada vez mais, vigiados até ao tutano pelas redes sociais.
E a ironia reside na intolerate Court, nunca ter exigido que o nome de King – uma homossexual, que para ela representa o diabo – fosse removido do complexo de ténis de Flushing Meadows, onde se realiza o Open dos Estados Unidos.