Alemanha. Nova política europeia com Scholz em vez de Schäuble

A entrega de três ministérios-chave ao SPD e aos conservadores bávaros desata críticas na CDU. Merkel fica nas mãos de Schulz e Scholz

Alemanha. Nova política europeia com Scholz em vez de Schäuble

A Europa aplaudiu o anúncio de que na Alemanha se conseguiu chegar a acordo para um novo governo, mas que políticas trará o novo executivo liderado por Angela Merkel, que renova a grande coligação entre os dois partidos que dominam a política alemã do pós-guerra, CDU/CSU e SPD?

Com Emmanuel Macron à espera da Alemanha para promover reformas na Europa, Merkel entregou dois ministérios-chave aos sociais-democratas. Martin Schulz, o ex-presidente do Parlamento Europeu e federalista convicto, fica ao leme dos Negócios Estrangeiros, e outro social-democrata, Olaf Scholz, presidente da Câmara de Hamburgo, vai ficar com as Finanças.

Scholz, que já foi dois anos ministro do Trabalho de Merkel (2007-2009) durante a primeira grande coligação CDU-SPD, é adepto do aumento do salário mínimo, mas sabe que a política de controlo das finanças e de défice zero levada a cabo por Wolfgang Schäuble é muito popular na Alemanha. Daí que seja provável não haver grandes mexidas nessa matéria.
A grande mudança deverá estar reservada para a posição da Alemanha na Europa, com uma posição menos radical de Berlim em relação às derrapagens orçamentais das economias mais débeis da zona euro, como a portuguesa.

O acordo da grande coligação inclui um compromisso para transformar o fundo de resgate da zona euro num Fundo Monetário Europeu e o recurso a meios orçamentais para defender a zona euro das crises, adianta a Reuters.

Adepto do aprofundamento da integração europeia, Scholz afirmou em dezembro, em entrevista ao “Die Welt”, que a “União Europeia não é apenas uma união aduaneira. Tem de desenvolver políticas comuns nas áreas de negócios estrangeiros e segurança, migração, finanças, economia”.

Para o provável novo ministro das Finanças – os militantes do SPD vão ratificar o acordo agora alcançado através de uma votação por correio que decorrerá entre 20 de fevereiro e 2 de março, e Schulz prometeu vetar o acordo se for essa a decisão dos militantes –, os alemães precisam de ser “mais arrojados” em relação à UE.

A nova política alemã “tem de ser diferente da da chanceler, que deixa muitas coisas por dizer e negoceia acordos à porta fechada em Bruxelas, no meio da noite”, diz Scholz. O social-democrata considera que é preciso “dizer claramente aquilo que estamos a pensar para a frente política europeia”.

Com Scholz nas Finanças e Schulz nos Negócios Estrangeiros, a política europeia da Alemanha deverá mudar substancialmente. O ainda líder do SPD é um federalista convicto que ameaçou com o “Brexit mais duro possível”.
No entanto, o acordo de coligação de 117 páginas só se refere de passagem ao Brexit: “Face à saída em breve do Reino Unido da UE, vamos tornar a Alemanha mais atraente para as instituições financeiras”, lê-se.

Críticas internas Há gente dentro da CDU (e fora) que não viu com bons olhos aquilo a que chama graves cedências por parte da chanceler. Afirmam que para garantir mais quatro anos no poder, Merkel entregou demasiado ao SPD (que também terá ficado com o Ministério do Trabalho) e inclusivamente ao partido gémeo da Baviera, a CSU, a quem caberá uma Administração Interna reforçada com a construção para o seu líder, Horst Seehofer.

O “Bild” garantia ontem que Merkel queria ser “chanceler a qualquer preço” e acabou a “dar de presente o governo ao SPD”. “A configuração do governo tal como está é um erro político”, disse à ARD o deputado da CDU Christian von Stetten. “Abdicar do Ministério das Finanças não causa propriamente muito entusiasmo entre os membros da CDU”, acrescentou.

Wolfgang Steiger, líder do conselho empresarial da CDU, afirmou no site do mesmo que “a distribuição dos cargos no governo em nada reflete o resultado eleitoral”.

Merkel tentou minimizar o impacto das críticas a um acordo que ela sabia não iria agradar às suas hostes – mesmo tendo em conta que a alternativa seriam eleições antecipadas – dizendo aos jornalistas que não estava nada preocupada porque não é importante a distribuição de ministérios por partidos, pois “só podemos gastar o dinheiro que temos”.