Nem mais um cêntimo para os transportes públicos

Transportes públicos gratuitos exigem um fortíssimo investimento em redes de mobilidade

Quero-os gratuitos. Como na Alemanha. Esta semana foi notícia que o governo federal estuda a gratuitidade universal da rede de mobilidade nas suas maiores cidades. Pressionada por Bruxelas devido à fraca qualidade do ar em grandes urbes germânicas – e não, desta vez não tem a ver com as emissões dos Volkswagen – a ideia do governo é combater a poluição. Na era da consciência ambiental, é difícil não olhar com simpatia para esta medida bem-intencionada. Mas há mais subprodutos interessantes desta política que, na verdade, já não é absolutamente nova. (Há 29 países e 127 cidades que têm a correr programas de borlas semelhantes).  

Transportes públicos gratuitos exigem, para começo de conversa, um fortíssimo investimento em redes de mobilidade. Qual é o ponto de tornar gratuito o que não funciona agora? É preciso investir em novas redes: mais modernas, mais abrangentes, mais confortáveis. Levar o transporte público para próximo dos cidadãos e dar-lhes oportunidade de escolha é decisivo.  

Em segundo lugar, a construção dessas redes são um convite à fixação de talento nas cidades. Elas exigem inovação e integração tecnológica, bem como pesquisa e desenvolvimento de novas soluções. Fomentam o nascimento de novas empresas e o estabelecimento dos players consolidados.

Outro argumento em favor da gratuitidade dos transportes prende-se com a renovação e requalificação do espaço público. As cidades têm sido feitas mais a pensar nos carros do que nas pessoas. Por cada cidadão que se conquista para o sistema, por cada carro a menos na rua, não é apenas menos poluição no ar: é também uma nova oportunidade para a cidade.

Termino com o mais importante argumento em favor de uma mobilidade tendencialmente gratuita: democratizar a cidade e alargar a qualidade de vida. Se a mobilidade não for um custo, todos os cidadãos poderão viver a cidade e os seus equipamentos em circunstâncias de igualdade. Se matarmos o custo de deslocações das escolas para as bibliotecas, dos lares para os museus, dos bairros para os campos desportivos, estamos a promover a inclusão, a igualdade de oportunidades e uma democracia mais madura.  

Adaptando de forma livre Maria Antonieta, vivemos num tempo em que há falta de pão (transporte público) os cidadãos têm de gastar tudo no brioche (carro). Também agora há uma revolução a caminho. Com mais cabeça do que guilhotina, são as gerações mais novas que podem liderar a mudança de paradigma.  

Em Cascais, concelho onde tenho responsabilidades políticas, o objetivo já assumido é o de constituir uma rede de transporte verdadeiramente público e verdadeiramente gratuito.   

Isto não se faz da noite para o dia. Tem de haver gradualismo. Hoje, num concelho como Cascais, a rede é de acesso gratuito a todas as crianças até aos 12 anos e tem preços simbólicos para os maiores de 65. O crescimento da rede será acompanhado da universalidade e gratuitidade de acesso.

Vice-presidente da JSD