Alemanha. Merkel consegue que a CDU engula o sapo

CDU já aprovou o novo governo de grande coligação. A atenção volta-se agora para o referendo do SPD, em que os militantes votam por correio

Alemanha. Merkel consegue que a CDU engula o sapo

O congresso da CDU, o partido da chanceler Angela Merkel, aprovou nesta segunda-feira o acordo de coligação com os sociais-democratas do SPD. 

Os cerca de mil delegados democratas cristãos reunidos em Berlim aprovaram a chamada grande coligação entre as maiores forças políticas alemãs (CDU, CSU e SPD) com apenas 27 votos contra. 

Agora, para o novo governo entrar em funções só falta a aprovação dos cerca de 464 mil militante do SPD, que desde 20 de fevereiro até à próxima sexta-feira estão a votar num referendo interno para decidirem se ratificam o acordo. O resultado desta consulta só será anunciado no próximo domingo. 

“As esperanças colocadas na Alemanha são grandes, também para além das nossas fronteiras”, disse a chanceler, que acenou aos delegados com a necessidade de “um novo começo para a Europa”, numa altura em que a líder do governo alemão considerou que se vivem tempos incertos, perigosos e pejados de desafios: “Nós queremos contribuir para a formação de um governo federal estável e capaz de agir”, disse Angela Merkel aos delegados. “O facto de nós estarmos a votar hoje, cinco meses depois da realização das eleições, a realização de um acordo de coligação mostra como estamos confrontados com uma situação muito difícil, como nunca estivemos no nosso país”, enfatizou, garantindo aos delegados do seu partido que, apesar de a pasta das Finanças ser entregue aos sociais-democratas do SPD, o novo governo não vai aumentar os impostos nem fazer crescer o volume da dívida pública.

O congresso também significou a indigitação de uma espécie de mini-Merkel e sua eventual sucessora: os delegados elegeram como secretária-geral do partido Annegret Kramp-Karrenbauer. A antiga ministra-presidente da região do Sarre foi votada favoravelmente por 98% dos votantes. Esta católica de 55 anos, que é apoiante da linha centrista de Angela Merkel, opõe-se como a chanceler à corrente que defende as posições mais à direita, como forma de estancar o crescimento dos xenófobos da Alternativa para a Alemanha. Recorde-se que, nas últimas eleições, os partidos tradicionais da política alemã tiveram dos piores resultados de sempre, com a CDU/CSU a perder mais de um milhão de votos para a extrema-direita que, caso o acordo de governo seja confirmado pelos militantes do SPD, passa a ser o maior partido político da oposição no parlamento de Berlim, com mais deputados que os liberais, verdes e ex-comunistas. 

A ex-chefe do governo do Sarre pronunciou um discurso muito aplaudido em que pediu ao partido “para ouvir o descontentamento das ruas”. Kramp-Karrenbauer considera que os tempos mudaram e que é preciso renovar o partido: “A base do programa do partido é de 2007, o ano em que apareceu o iPhone”, disse.

A aprovação da grande coligação no congresso da CDU exigiu o empenhamento de Merkel e a colocação dos seus adversários no partido no governo.

No domingo, na véspera das votações no congresso, a chanceler Angela Merkel divulgou publicamente a lista de ministros do partido no futuro governo da Alemanha. Nele se inclui Jens Spahn, 37 anos, figura de ponta da ala mais à direita da CDU. Spahn será o novo ministro da Saúde alemão.

Apesar de todos estes esforços, a popularidade dos partidos do governo, antes mesmo de ele começar, já é baixa: as últimas sondagens dão menos de 42% à soma dos votos da CDU/CSU com os sociais-democratas do SPD.