Mateus Solano e Miguel Thiré. ‘O paparazzi perdeu o emprego, somos todos paparazzi de nós próprios’

Foi no Teatro Tivoli BBVA que os atores se sentaram com o SOL para falar da peça que protagonizam. “Selfie” estreia hoje

Um homem passou a vida toda a armazenar a sua vida em computadores, redes sociais e na enigmática – e útil em igual medida – nuvem. Um dia, os sistemas colapsam e o dito homem, chamam-lhe Cláudio, acostumado a usar os sistemas digitais ao invés da memória, nada se lembra do seu passado. Esta é a história da peça “Selfie”, que conta com a interpretação dos atores brasileiros Mateus Solano, 36 anos, e Miguel Thiré, 35 anos, neto da falecida Tônia Carrero, para ver a partir de hoje e até dia 18 de março no Tivoli BBVA, em Lisboa. Um tema do quotidiano, encenado por Marcos Caruso, transversal a idades e culturas de qualquer parte do mundo, que nos sentou em mesa redonda, dentro do teatro, para uma conversa que começou com Mateus Solano a recordar os tempos em que, bem pequeno, morou em Lisboa – o pai era diplomata. Miguel, que trocou há dois anos o Rio de Janeiro por Portugal, juntou-se ao bate-papo, como eles dizem, uns minutos depois. Uma vez que o tema era o uso excessivo dos meios digitais, o aparelho usado para gravar a entrevista – um telemóvel, justamente – foi tantas vezes tocado e usado como exemplo que, por pouco, a gravação ia sendo apagada. Um susto que passou rápido: a conversa segue já abaixo.

Qual é a primeira memória que tem de Portugal?

A Basílica da Estrela. Eu entrando no Beiral, que era a escola onde estudava, e todos me cumprimentando, eu era o único brasileiro lá, isso com 3 ou 4 anos. Lembro muito também do avião dentro do parque, acho que era Monsanto, e eu brincava lá dentro e tenho uma memória muito forte disso. Longos passeios pela Infante Santo. Depois os meus pais separaram-se e voltei para o Rio com quatro anos.

Quando voltou agora mais tarde a Lisboa encontrou uma cidade muito diferente?

Vim pouco a Lisboa como adulto. Vim uma vez com a minha mulher, mas estávamos numa viagem grande, visitámos cinco países. É a primeira vez que estou cá sem a minha mulher e trabalhando, mas com mais tempo, por isso agora é que eu vou começar a ver Lisboa pelo olho de um homem feito.

Vamos então falar do mote desta vinda, a peça “Selfie”. Como veio parar a este projeto?

O Carlos Grum, nosso produtor e amigo querido, viu que eu tinha terminado uma novela, e que o Miguel também. Chamou-nos, e disse: “Em 2013 a palavra mais escrita na internet foi selfie. Vamos falar sobre isso”. 

A peça foi escrita nesse ano?

Em 2014. No início desse ano, começámos a encontrar-nos, mas o mote inicial foi o título. E chamámos o [Marcus] Caruso, pedimos para nos dirigir. E ele perguntou: “Vocês têm um texto?”, “Não!”. “Têm uma ideia?”, “Não”. “Então, o que é que vocês têm?”. “Nós temos uma palavra: selfie.” E ele disse: “Tou dentro”. A partir daí, dessa confiança e da larga experiência que tem o Marcus Caruso a gente começou a construir com muito mais segurança essa peça. Eu digo com mais segurança porque eu e Miguel tínhamos outros projetos em que ficámos muito sozinhos, tentando tirar leite de pedra, como a gente diz. Então o Caruso foi fundamental nesse sentido e, enfim, a alma da peça é ele. Nos lançámos em três meses e meio de improvisações, que eram anotadas e organizadas em texto pela Daniela Ocampo. Isto foi uma coisa entre amigos a única pessoa que conhecemos no processo foi o próprio Caruso. Todos os outros, desde o iluminador ao sonoplasta, são nossos queridos amigos do teatro.

Foi um processo completamente atípico então, começaram pelo título, a última coisa.

Sim, mas ao mesmo foi um processo muito grávido de possibilidades porque sabíamos que íamos falar de uma coisa muito atual e então as discussões eram sempre muito passionais, de irmos buscar referências [do dia a dia] e o resultado com plateia também mostra isso. 

Usaram essas referências de comportamentos de familiares e amigos?

Não diretamente, mas o tema perpassa a todos hoje em dia. Se você não é viciado em tecnologia, certamente que já tentou conversar com alguém que o é. Abordamos essa esquizofrenia com o telemóvel que há muito tempo não é só um aparelho para fazer ligações.

Miguel Thiré: Tem uma parte da peça, já me intrometendo, logo na abertura, em que começamos na idade da pedra, quase como uns macacos. É uma pequena brincadeira inspirada num cartoon justamente sobre o tema. Sabe aquele mapa da evolução do Darwin? O macaquinho vai ficando ereto, depois pegando no telemóvel e se curvando, virando um macaco de novo. A gente está ficando assim [pega no telemóvel e curva as costas]. Tínhamos muitas referências à nossa volta porque é um tema que está pulando na nossa cara. 

A peça já esteve em Miami e Orlando, no Brasil já fizeram mais de 250 atuações. Mudaram alguma coisa no método para apresentar esta “Selfie” do outro lado do Atlântico?

Miguel: No método não, mas mudámos no conteúdo. Por estar cá a morar há praticamente dois anos, desde março de 2016, fui eu que fiz a pesquisa. Sentei-me com um jornalista meu amigo e aluno da escola de teatro, cinema e televisão e fizemos todo um paralelo, não só de ruas e lugares, até a um bom apanhado das últimas brincadeiras da internet que são referência em Portugal.

Há uma atualização do texto, então.

Miguel: Sim, sempre tem – por exemplo, de repente virou moda usar o pau de selfie e incluímos na peça. É assim que chamam aqui?

Selfie stick, não traduzimos.

Miguel: Ah, vamos chamar isso na peça então (risos).

Mateus: O texto já tem uma enorme identificação com o celular mas tem outras coisas. Falamos do Google Maps, por exemplo, e usamos um nome da rua que tem que ser local. Arrisco dizer que nós mudamos mais de peça para peça, vamos vendo o que o público aceitou mais ou menos. Não sei como os portugueses vão aceitar mas vai ser certamente muito diferente da nossa estreia no Brasil. 

Pelo que entendi, esta peça fala desta realidade de uma forma aumentada e cómica. Acham que este é um trabalho mais para divertir ou para refletir?

Mateus: Na minha opinião ela é fundamentalmente para divertir e aos poucos a gente foi vendo como ela era potente para fazer pensar, afinal de contas estamos falando de uma coisa de que nós [a sociedade] não tem ainda nem domínio. Não passou tempo suficiente para termos um olhar crítico. Então é uma peça muito efervescente. 

Miguel: O fermento do humor é você ser uma das primeiras pessoas a falar de algo que um grupo está vivendo e que ainda não notou. Há uma potência muito grande de fazer comédia sobre isso hoje porque é uma grande novidade da vida das pessoas mas que está entranhada. Tem quatro, cinco anos que está todo o mundo assim, até a nossa avó fala: “Me dá um telemóvel então”. É realmente recente, então o caminho do humor talvez seja um grande acerto para se falar disto porque, como o Mateus falou, ainda não estamos distanciados para ter propriedade e perceber o que vai acontecer com a nossa vida… São as dores e as delícias, não é? Porque isto aqui [aponta para o telemóvel] traz coisas maravilhosas, mas está deixando as pessoas esquizofrénicas, está facilitando o síndrome do pânico. Estas são as minhas opiniões pesadas. Acho muito complicado passarmos o dia vendo outras pessoas felizes noutros lugares, porque na maioria dos casos as pessoas só postam um lado colorido da vida. Você vai sempre vendo alguém num lugar muito melhor do que você está, fazendo uma coisa muito mais legal. Este é um aspeto das redes sociais, mas há outros: os telemóveis vão substituindo parte do nosso cérebro, e um exemplo muito forte é o GPS. Você vai usar tanto e perde a sua capacidade de se localizar. Ou a história do Cláudio na peça, que não se lembra do passado. Você sabe de cor o número de alguém?

Por acaso sei uns três ou quatro.

Miguel: Deve ser a única (risos). 

Mateus: Mas dantes sabíamos uns 15, hoje são dois ou três. Concordo com o Miguel, mas não sou tão radical. Acho que quando tiramos funções do cérebro outras vão ser colocadas, da mesma forma que um cego tem um tato maravilhoso. Acredito nisso, mas por outro lado é assustador porque a gente cresceu na década de oitenta, guardávamos aquele fio de cassete porque ele podia embolorar e estragar, e hoje tudo está tudo num lugar que não existe [a nuvem]. Não só as nossas fotos e coisas pessoais, como o nosso próprio dinheiro. A maior parte do dinheiro que está na bolsa não existe. É muito esquizofrénico.

A pergunta que não dá para fugir: Qual é a relação de cada um com o telemóvel?

Miguel: Respondendo minimamente pelos dois, acho que em relação à média somos um bocado menos [dependentes]. Respondendo por mim, uso bem menos, uso pontualmente as redes sociais. Me dá um pouco de angústia a relação das pessoas com isso, de precisarem de mostrar as coisas para os outros enquanto as vivem. A gente faz uma viagem, posta uma foto e começa: “Olha que fulano gostou minha foto, esse comentou”. Conclusão: você não está mais na viagem, está naquela mesa do bar em que a gente contava aos amigos que tinha ido naquela praia deliciosa quando voltava. Hoje você faz questão de acoplar esse momento à experiência, só que eu tenho a sensação que você pára de viver a experiência. Em vez de viver aquilo e contar depois, você precisa de contar enquanto está vivendo e já fica vendo o retorno. Já propus isso umas duas vezes para a minha mulher – fotografar na mesma mas não postar e ficar lendo os posts, porque assim saímos da viagem e deixamos de estar vivendo o ócio. Mas passo o dia inteiro com o telemóvel na mão: whatsapp, previsão tempo, trânsito…

Mateus: Mas tem raiva disso?

Miguel: Tenho! E de vez em quando desligo.

Por exemplo, têm as apps do Instagram e do Facebook instaladas no telemóvel?

Miguel: Não! Tirei porque descobri que o Facebook e o Messenger têm acesso à sua câmara e microfone mesmo que a app esteja fechada. E não achei a menor graça, arranquei os dois do telemóvel no mesmo dia. 

E o seu caso Mateus, como é a sua relação?

O negócio de ser famoso me empurrou também para isso, de ter um perfil, de ser alguém nesse mundo virtual para provar que sou alguém no mundo real. E a peça fala muito disso, mas acesso um pouco mais do que o Miguel.

Miguel: Você sempre foi uma pessoa de fotografar e filmar, nas festas Mateus ficava fazendo foto e vídeo mesmo sem ser para passar para ninguém.

Mateus: Mas estou notando uma coisa em mim que não estou gostando nada. Gostava de tirar fotos de que eu gostava e postar [publicar]. Aos poucos, fui percebendo que há um tipo de foto que não dá muitos likes, e eu passei a fazer outro tipo de foto para ganhar mais like. Então tenho dois Instagrams: um fechado, onde posto coisas dos meus filhos e um pouco mais desse meu olhar da foto. Depois no outro oficial, em que basicamente agora é só espetáculo.

Têm os dois contas oficiais no Instagram. Acham que é absolutamente fulcral para um artista hoje comunicar o seu trabalho desta maneira? Já vos passou pela cabeça não ter essa via de contacto?

Mateus: Me passou muito, mas aos poucos vai importando menos se você é um bom ator e importando mais se você tem muitos seguidores. Você vê pessoas e artistas incríveis que são preteridas por outras porque são famosas na internet.

Há uma necessidade de acompanharem essa onda para sentirem que uma ausência das redes não vai prejudicar o vosso trabalho?

Mateus: Nós e todo o mundo.

Miguel: Sou um pouco mais radical. Por exemplo, quando lancei a peça ‘Cidade Maravilhosa’ no Brasil – uma peça que apresentei cá no Chapitô em outubro e novembro -, chamei uma pessoa para tratar as redes sociais. Teve uma hora em que ela insistiu profundamente que eu precisava de girar [andar na rua] não sei se no Instagram da peça ou no meu, a dizer: “Oi, estou chegando no teatro, etc.” Esse não sou eu, não adianta, isso não vou fazer. Há muitos colegas meus que falam que isso é trabalho. O que faço em cima do palco e em frente da câmara, agora estou dando aula na escola de vídeo, isso sim é. Tenho milhões de braços para trabalhar – esse eu não tenho e me dá aflição. E depois há o aspeto de uma imprensa marrom [cor-de-rosa] que cola diretamente na sua intimidade. O Mateus falou isso noutro dia: o que é que o paparazzi vai fazer?

Mateus: O paparazzi perdeu o emprego dele, somos todos paparazzi de nós próprios.

Miguel: A pessoa já tirou uma foto de cueca em casa, qual é a vantagem de ir apanhar uma foto dela à porta do restaurante?

Mateus: É isso. Concordo com o Miguel, essa parte para mim é muito difícil, a dos stories. ‘oi gente, eu estou aqui’. Não sou nem eu nem estou aqui, nem sei que gente é essa. É tudo uma grande mentira.

É curioso porque tanto o Mateus como o Miguel têm os dois um pé atrás em relação às redes sociais.

Mateus: Talvez tenha a ver com isso. Se a gente estivesse muito dentro, ia falar que não era tão ruim assim. No entanto esta não é uma peça que faz só uma crítica, levanta de forma bem humorada as coisas como estão.

Quais são então os contrapontos positivos das redes sociais?

Miguel: Apesar do título da peça, ela não é sobre a nossa auto exposição na internet, é sobre a nossa híper conectividade que também envolve a rede social, é sobre tudo o que é comunicar hoje. A janela para o mundo, o armazenamento das nossas informações, tudo isso junto. Nos pontos positivos temos que falar também da comunicação, da formação de grupos. Um exemplo clássico que é a Primavera Árabe, que o pessoal conseguiu se mobilizar na rua; e agora as grandes manifestações no Brasil. Se você quer congregar pessoas num tema você o faz muito rápido, e ao mesmo tempo isso está gerando um confronto louco. A gente está na era da caça às bruxas, qualquer coisinha é alvo de crítica e ataque, todo o mundo cai em cima de todo o mundo. Mas o maravilhoso é conseguir juntar pessoas e o maravilhoso disso aqui [pega no telemóvel] é que te dá acesso. Uma vez li uma matéria muito interessante que dizia que primeiro a internet começou a dar-nos acesso ao que estava longe. Primeiro você começou, mesmo no Rio de Janeiro, vendo a programação do Museu do Prado. Depois a internet começou a dar-nos a possibilidade de selecionar o que há de mais interessante do seu lado: estou na Avenida da Liberdade, escrevo melhor restaurante perto de mim e pronto, aparece ali a nota dos usuários.

Mateus: E sobre tudo o que esse aparelhinho tirou aqui de dentro [aponta para a cabeça]. É mais por aí do que pela questão da exposição das redes sociais. 

As pessoas sempre tiraram fotografias, por uma necessidade de guardar memórias, simplesmente os suportes foram mudando. Acham que o conceito de selfie ainda se insere nessa lógica ou é apenas um exercício de alimentar o ego?

Mateus: As duas coisas. A gente coloca, às vezes, essa coisa toda na responsabilidade do Steve Jobs ou em alguém de fora, e a Dany [a autora do texto da peça] diz que não, que foi a nossa necessidade de tirar foto de si próprio que gerou essa câmara daqui da frente do celular e não o contrário. Portanto de alguma forma a humanidade foi indo nesse caminho. Hoje em dia com essa conectividade eu tenho um amigo virtual do outro lado do mundo e me quero sempre vangloriar de estar neste ou naquele lugar, e nesse sentido entrou totalmente no ego, na sociedade do espetáculo. 

Miguel: Acho que o termo selfie e a ação de tirar uma destas fotos em si fica tão famoso justamente porque a gente está na era do ego. Vejo isso no comportamento de jogadores de futebol, de atores de televisão e teatro – não quero dizer o nome aqui, mas tenho opiniões com nomes, de pessoas que quanto mais colocam o ego delas, mais sucesso fazem. As selfies foram inventadas num dia e pouco depois estava na boca de todas as pessoas do planeta. Três anos depois disso tudo achámos que a peça seria velha mas ela não é! É muito atual. 

Mateus, acha que os seus filhos vão lidar com essas linguagens? As crianças hoje nascem de tablet na mão.

Não tem como saber. Não sei se vão trabalhar numa profissão que ainda não existe, não sei o dia de amanhã, quanto mais o futuro dos meus filhos. O que posso dar para eles, como educador, é humanidade.

Miguel: Posso falar de fora, porque vejo que o Mateus é um pai muito ativo, sempre propondo atividades, vamos jogar isso e aquilo, vamos sair, vamos pedalar. É bem perigoso e muito confortável se você enfiar um tablet na cara do seu filho para ele ficar jogando três horas. Vejo o Mateus e Paula [Braun, mulher de Mateus Solano e também atriz] como pais muito provocadores da vida prática, e acho isso muito importante.

É um desafio extra da parentalidade dos dias de hoje?

Mateus: Não sei se é extra porque a educação é um desafio o tempo todo. 

Miguel: Me estou lembrando que tivemos uma palestra no fim de um dos espetáculos e alguém do público disse que era muito importante que educadores e crianças viessem ver esse trabalho. Isso tudo para lembrar que vamos fazer aqui em Portugal uma coisa que gostamos muito de fazer no Brasil, e que é bater um papo com a plateia fora do espetáculo. Cá vamos fazer em todos os espetáculos: depois de terminar a peça vamos tomar um banho em cinco minutos e voltamos para falar com as pessoas, no geral fica mais de metade da plateia. É muito legal que nessa conversa falamos um tempinho sobre a peça e rapidamente o público só quer falar sobre o tema, sobre como os filhos ficam muito tempo no telemóvel e por aí.

Mateus: Sim, rapidamente fica individual, com cada um contado a sua história, com uma sede, uma necessidade, não sei de é de vomitar aquilo, de botar para fora, ou se é de pedir ajuda. Tinha uma menina que nos falava com um desespero que não conseguia tirar o telemóvel da mão. 

O Miguel escolheu vir morar para Lisboa, o Mateus está no Brasil. Enquanto artistas, qual sentem que é o vosso papel na situação política e social do vosso país?

Mateus: Falar tudo o que está acontecendo. Hoje em dia tenho dito não a projetos que me chamam só porque é legal. Não dá mais para fazer teatro porque aquele texto é bacana. Há que fazer teatro para falar do momento. Se é para se divertir não precisa de se levantar do sofá, basta pegar no comando. Por isso acho que o teatro tem cada vez mais uma responsabilidade muito grande porque a pessoa para sair de casa para ver uma peça, está querendo alguma coisa. 

Miguel: Precisei sair do Rio há dois anos quando tinha terminado de fazer a tal peça que fiz aqui no Chapitô, que era sobre a ‘carioquice’. Inclusive no Rio, na primeira temporada, o nome da peça era “Para mim chega”. Quando vi que tinha feito uma peça sobre a minha cidade com esse nome percebi que precisava de sair, senão ia ser um dos primeiros a explodir. Hoje vivo uma relação complicada: é maravilhoso estar morando aqui, mas volta e meia me dá um peso na consciência de ter sido um dos que teve as condições para ter escolhido isto e de haver lá tantas pessoas a batalhar pelo pedaço de chão onde cresci e morei a minha vida inteira.