13 de março de 1970. Osaka continua à espera do ano de 6970

Dizem que na terceira cidade do Japão, as pessoas não se cumprimentam dizendo “bom dia”. Preferem perguntar: “Já ganhou dinheiro hoje?” Destruída pela ii Guerra Mundial, ergueu-se das cinzas com uma pujança extraordinária

O Japão anunciava com orgulho: “Quando o relógio atómico, alimentando os 110 relógios da exposição, marcar amanhã as 11 horas em ponto, Osaka, que espera a pé firme cerca de um milhão de visitantes, será durante seis meses a cidade mais em foco no nosso país.”

Um milhão de visitantes a que propósito?, perguntará, e com toda a propriedade, o estimadíssimo leitor.

Ora bem, tinha início a Expo-70.

Tudo foi previsto para que fosse um momento absolutamente futurista, dando do Japão a imagem de modernidade que os nipónicos tanto ambicionavam.

Os organizadores criaram um rolamento de aço inoxidável com mais de dois mil artigos científicos e culturais num cofre de cimento colocado a 15 metros de profundidade e que deveria ser aberto em 6970, ou seja, cinco mil anos após a exposição universal que se desenrolou em Osaka entre os dias 13 de março e 19 de setembro de 1970.

Nós, por cá, também tivemos a nossa expo e, por isso, sabemos o entusiasmo que o momento suscitou.

Para Osaka, terceira cidade japonesa depois de Tóquio e Yokohama, no sul da ilha de Honshu, com quase três milhões de habitantes, considerada como o segundo centro financeiro mais importante do país, era uma consagração. 

Reza a lenda que os seus habitantes não se cumprimentam dizendo bom dia ou boa tarde, ou ohaiu-gozaimazu, mas perguntando: “Ganhou dinheiro hoje?”

A resposta, depois, virá em consequência. Mas a anedota avisa que quem tiver de entrar pela negativa prefere confessar: “Estou a morrer! Estou a morrer!”

Japonesices à parte, não restavam dúvidas de que nesse ano de 1970, a cidade de Osaka, que fora capital do império no séc. v, estava na vanguarda da vitalidade de uma economia em pleno crescimento. Devastada e incendiada durante a ii Guerra Mundial, ergueu-se das cinzas com uma pujança extraordinária, chegando ao ponto de assegurar 40% das exportações do país do sol nascente.

Progresso “Progresso e harmonia para a humanidade” – era este o lema de Osaka-70. Dois princípios basilares: atrair para o mesmo lugar a sabedoria de todos os povos do mundo; e estabelecer uma filosofia mais de festival do que propriamente de uma exposição.

Alguns pavilhões foram emblemáticos. O do Canadá, por exemplo, mostrava uma visão de todo o país, de costa a costa, filmada de dentro de aviões em voos rasantes. Os Jardins de Música, do pavilhão da República Democrática Alemã, apresentaram ao mundo a primeira sala de concertos em formato esférico, com o som a ser espalhado em redor de forma tridimensional.

O pavilhão dos Estados Unidos expunha uma grande pedra lunar trazida pela Apolo xii no ano anterior.

Revolução das revoluções: havia demonstrações sobre o funcionamento de telefones celulares.

Os arquitetos Arata Isozaki e Kiyonore Kikutake projetaram aquilo que apelidaram de Zona Símbolo: coberta por um teto espacial gigante, serviria para levar as pessoas a socializarem. Em seu redor, e igualmente cobertos por esse teto, os pavilhões de todas as proveniências seriam como flores e estariam ligados por um caule através do qual os pedestres fariam as suas visitas.

Como é habitual neste tipo de exposições universais, a maior parte dos pavilhões foram entretanto destruídos, restando pouco da imagem futurista da zona das colinas de Senri, nos arredores da cidade.

Continua intocável a Cápsula do Tempo, na sua longa espera até esse ano que haverá de chegar em 6970…