Vital Moreira acusa os partidos de cobardia por não enfrentarem o lóbi das touradas

Os defensores do fim das corridas de touros não podiam ter ficado mais satisfeitos com a decisão dos estudantes de Coimbra de acabar com a garraiada na Queima das Fitas. 

Vital Moreira acusa os partidos de cobardia por não enfrentarem o lóbi das touradas

O resultado do referendo, em que participaram cerca de cinco mil estudantes num universo de cerca de 24 mil, foi claramente no sentido de acabar com evento no programa oficial da Queima das Fitas. Mais de 70% manifestaram-se contra a tradicional garraiada.

“Tem um peso histórico”, diz ao i Rita Silva, presidente da Animal. O deputado do PAN, André Silva, considerou, numa declaração à agência Lusa, que o resultado desta consulta “vem reconfirmar que a esmagadora maioria dos portugueses rejeita a tortura de animais para divertimento e pede o fim da tauromaquia”. A decisão foi também saudada por alguns deputados socialistas e do Bloco de Esquerda. “De vez em quando a evolução acontece”, escreveu, nas redes sociais, o deputado bloquista Moisés Ferreira.

Vital Moreira, que há muito tempo defende o fim das corridas de touros, admite mesmo a hipótese de realizar um referendo a nível nacional. O constitucionalista diz que não é “fã de referendos”, mas neste caso “pode vir a concluir-se que a única maneira de pôr fim à barbárie é mesmo com recurso a um referendo”.

Num texto que publicou no blogue Causa Nossa sobre o referendo em Coimbra, Vital Moreira condena “a cobardia dos partidos políticos em enfrentar o poderoso lóbis das touradas – que vai desde os criadores de gado bravo até aos toureiros, passando pelos empresários do degradante espetáculo e demais interesses que rodam à volta dele”. Rita Silva, presidente da Associação Animal, rejeita a hipótese de uma consulta popular a nível nacional com o argumento de que não se referendam direitos fundamentais.

Os amantes da tourada também reagiram à decisão dos estudantes de Coimbra. A Federação Portuguesa das Associações Taurinas garante, em comunicado, que é “contra todo e qualquer fundamentalismo e não pode deixar de criticar a intolerância demonstrada por um pequeno grupo de estudantes que quer impor a sua vontade à dos outros e proibir um evento com 115 anos de história”. Ao contrário dos movimentos anti-taurinos, a Prótoiro argumenta que “o resultado de uma sondagem, levada a cabo pela Eurosondagem em 2011, demonstrou que 86,1 % dos portugueses não defende qualquer proibição das corridas de toiros”.

Menos corridas de toiros

Os dados da Inspeção-geral das Atividades Culturais revelam que, em 2017, realizaram-se em Portugal 181 espetáculos tauromáquicos. Um número que tem vindo a reduzir nos últimos dez anos. Em 2008, por exemplo, realizaram-se mais de 300 espectáculos. Assistiram a corridas de toiros quase 378 mil espetadores. Mais 15 mil do que em 2016, mas muito longe dos mais de 698 mil espectadores registados em 2008.