Mediterrâneo também banha a ocidental praia

Portugal vai participar no próximo mês de junho pela primeira vez nos Jogos do Mediterrâneo, uma competição que existe desde 1951.

Não se pode dizer que Portugal seja autenticamente um país Mediterrânico já que as águas do Mare Nostrum romano não lambem as areias da ocidental praia lusitana, nem numa minúscula linguinha de terra já que a expressão cai aqui a propósito. Seja como for, sempre houve esta aproximação alimentada ao longo dos anos e que se compreende pela ligação forte com os países que o rodeiam.

Jogos do Mediterrâneo?, perguntarão alguns e com a sua dose de razão. É, na verdade, uma competição desportiva que raramente atinge as páginas dos jornais cá do rincão. Mas, a partir desta semana, tornou-se inevitável. O Comité Olímpico Português confirmou a presença, pela primeira vez, de uma delegação nacional nos Jogos do Mediterrâneo de 2018 que terão lugar entre os dias 22 e junho e 1 de julho emTarragona, Espanha: «O Comité Olímpico de Portugal foi aceite como membro de pleno direito na Assembleia Geral do ICMG (em outubro de 2017), o que significa que a estreia do nosso país na competição se pode efetivar na edição deste ano. A participação portuguesa aos Jogos do Mediterrâneo terá mais de duas centenas de atletas, em representação de quase todas as modalidades que fazem parte do calendário competitivo».

Mais de duzentos atletas obriga, como se calcula, a um esforço significativo. Trinta e três modalidades estarão em competição, da natação ao basquetebol, do atletismo nas suas diferentes vertentes ao futebol, do boxe à canoagem, do ciclismo ao voleibol, passando pela ginástica, a luta livre, o golfe, o ténis ou a vela.

A verdade é que a edição nº 18 destes Jogos doMediterrâneo deveria ter tido lugar no ano passado. Só que 2017 foi um ano difícil para a Catalunha e o conflito político aconselhou ao adiamento. Assim sendo, há que esperar pelo próximo mês de Junho para que esta espécie de Jogos Olímpicos em mais pequeno salte para os relvados, as estradas, as piscinas e os pavilhões.

Portugal será o 26º país a participar numa prova que existe desde 1951, seu ano de estreia em Alexandria, no Egito. Os outros vinte e cinco listam-se: Albânia, Algéria, Andorra, Bósnia Herzegovina, Croácia, Chipre, Egito, França, Grécia, Itália, Kosovo, Líbano, Líbia, Macedónia, Malta, Mónaco, Montenegro, Marrocos, São Marino, Sérvia, Eslovénia, Espanha, Síria, Tunísia e Turquia.

A ideia

Foi durante os Jogos Olímpico de 1948, em Londres, que Muhammed Pasha, presidente do Comité Olímpico do Egito e vice-presidente do Comité Olímpico Internacional lançou a ideia. O apoio grego veio de imediato. E a I edição dos Jogos do Mediterrâneo viu a luz do dia no mês de Outubro de 1951, em Alexandria, englobando treze modalidades.

A IIEdição, quatro ano depois, teve lugar em Barcelona: 734 atletas de dez países entraram em liça. E as primeiras onze edições foram sempre agendadas para o ano anterior aos chamados Jogos Olímpicos de Verão. A partir de 1993 ficou estabelecido que passariam a realizar-se nos anos posteriores, talvez para preservar o aparecimento surpresa de atletas que deveriam explodir nos JO. E assim, por uma única vez, não houve quatro anos de diferença entre duas edições e sim apenas dois.

Até ao momento, as cidades-sede foram: Alexandria, Egito (1951), Barcelona, Espanha (1955), Beirute, Líbano (1959), Nápoles, Itália (1963), Tunis, Tunísia (1967), Esmirna, Turquia (1971), Argel, Argélia (1975), Split, Jugoslávia (1979), Casablanca, Marrocos (1983), Latakia, Síria (1987), Atenas, Grécia (1991), Languedoc-Roussillon, França (1993), Bari, Itália (1997), Tunis, Tunísia (2001), Almería, Espanha (2005), Pescara, Itália (2009) e Mersin, Turquia (2013). Já se sabe que a edição seguinte será na Argélia outra vez. Em Oran. Ficaremos à espera da primeira candidatura de uma cidade portuguesa, mesmo que não banhada pelo Mediterrâneo que dá nome aos Jogos. Enfim, não se pode ter tudo. E o Atlântico já nos dá muita água pela barba, principalmente quando avança poderoso no Inverno. Além disso, já têm participado nos Jogos do Mediterrâneo outros como nós, distantes das suas margens: vejam o caso de Andorra, de São marino, da Sérvia ou da Macedónia.

Não se pode dizer que o conceito mediterrânico não seja alargado. Aliás como o próprio adjetivo que tanto serve para catalogar o clima como a vegetação, a fauna ou a dieta…  

Os excluídos

Há pelo menos dois países cujas costas são bordejadas pelo Mediterrâneo que, até ao momento, têm ficado teimosamente de fora dos Jogos: Israel e Palestina. E contra a sua vontade, pelos vistos, sobretudo depois das duras palavras de Allen Guttmann, um sociólogo que tem estudado o movimento olímpico ao longo das últimas décadas. No seu livro The Games Must Go On: Avery Brundage and the Olympic Movement, considera o afastamento de Israel como «profundamente antissemita e levado a cabo por causa de implicações unicamente políticas que têm como mentores os vários países árabes que participam na competição».   

Há outro país que tem estado na fronteira da entrada nos Jogos do Mediterrâneo e que tem ficado de fora também por questões políticas: o Reino Unido. Ah! Mas esse fica longe à brava do Mediterrâneo, para lá da Mancha, no Mar do Norte, dirão os que me leem.

Pois não é tanto assim. Há um pequenino pedaço do Reino Unido banhado pelo Mar Mediterrâneo. Gibraltar, precisamente, o que permite tal candidatura não fosse a contrariedade que tal assunto continua a merecer por parte dos espanhóis.

Assuntos que passam ao lado do estreante Portugal.