X-Wife. O tempo reencontrado

Dez anos de exclusividade depois, os X-Wife saíram de casa. Alter egos satélite, uma mudança para Lisboa e a passagem do tempo provocaram a questão: “Ainda fazia sentido?” O single “Movin’ Up” deu a resposta que o novo álbum subscreve 

Em 2011, a internet ainda era um almoço grátis, a sociedade civil ainda confiava no Facebook, o Instagram ainda era o embrião de uma rede, o Spotify ainda não tinha chegado a Portugal, os putos ainda sonhavam em ter bandas e os X-Wife ainda operavam como um grupo tradicional. 

Sete anos depois, é uma outra era. O intervalo de separação entre “Infectious Affectional”, álbum que não satisfez por inteiro João Vieira e Rui Maia, e “X-Wife”, a fotografia sonora do reencontro. “Este álbum foi sendo gravado ao longo de bastante tempo”, recapitula o vocalista. “Íamos aos sítios e perguntavam-nos: ‘Então e os X-Wife?’ E nós questionávamo-nos: será que ainda faz sentido?”, conta.

Haveria de fazer. Nesse longo hiato, o ensaio doméstico de Rui Maia, o alter ego Mirror People, converteu-se num projeto de vida, gerando álbuns, remisturas, produções, live acts, DJ sets e uma mudança para Lisboa. João Vieira deu folga ao entretanto ressuscitado DJ Kitten e testou novos horizontes como White Haus. E o baixista Fernando Sousa envolveu-se com uma mão-cheia de bandas do Porto e arredores. Por exemplo, os Best Youth. 

Sem nunca abandonarem a região sonora do rock permeável à maquinaria, os X-Wife foram obrigados a reformular o método tradicional de trio fechado numa sala de ensaio à procura da perfeita canção. O oxigénio indispensável haveria de ser “Movin’ Up”, single isolado do verão de 2015, agora recuperado no longa-duração que serviu de real provação à existência. “Ainda fazia sentido”, concluiu a banda.

A canção tornou-se a mais popular dos X-Wife, com múltiplas partilhas, números elevados de streaming e a convocatória para a banda sonora de um dos mais populares jogos de futebol, na mesma formação com Bastille, Beck, Foals, Icona Pop e Unknown Mortal Orchestra: a edição 2016 do FIFA – um golo de fora da área para os X-Wife.

O processo de readaptação a um novo método de trabalho e consequente mudança de ritmo resultaram numa maturação mais lenta de “X-Wife”. E não só. “Não tínhamos pressa”, confirma. “Não fazer uma coisa imposta. Tínhamos de voltar de acordo com a disponibilidade, vontade e prazer de cada um”, enfatiza. “Quisemos voltar ao [som] do início dos X-Wife”, explica Rui Maia, o alquimista do estúdio. “Não necessariamente às guitarras, mas à energia dos três juntos que, a meu ver, no disco anterior a este ficou um pouco perdida”, assume. “É um disco muito cuidado na produção e muito trabalhado antes de ir para estúdio”, complementa João Vieira, sem esquecer que “as canções têm de funcionar por si”.

“Tudo mudou”, então. “As idades, a disponibilidade”, refere João Vieira, e o contexto. Quando os X-Wife surgiram, em 2002, fizeram parte de um caldeirão planetário de bandas devotas do período punk/pós-punk e que tanto deu origem aos Strokes, do lado rockeiro, como aos LCD Soundsystem, na corrente dançável. “O que marcou o nosso primeiro álbum no panorama nacional, além de ser um bom disco, foi o timing”, defende João Vieira. “Quando o editámos era de uma frescura muito grande, e foi feito ao mesmo tempo do que se estava a passar lá fora. Não foi adiantado nem atrasado. Foi no momento. E aconteceu. Fomos para os EUA porque havia um hypezinho, na blogosfera, dos X-Wife. Tocávamos em vários sítios e as pessoas diziam-nos: ‘Man, you’re gonna make it.’” 

Mas não aconteceu. Rui Maia não ficou a matutar no assunto. João Vieira reconhece ter ficado “um pouco aborrecido”. O que faltou então para os X-Wife terem acesso ao circuito internacional? “É preciso investimento. É preciso estar presente”, elucida o vocalista.

E, agora, os X-Wife têm em mãos um disco “intemporal” que pode ser ouvido “daqui a dez anos”, a apresentar dia 21 no Estúdio TimeOut (Lisboa) e 28 no Hard Club (Porto).