Cuba. Sem um Castro na presidência com lema de #SomosContinuidad

Raúl Castro, que deixa de ser presidente, mantém-se líder do Partido Comunista até 2021, condicionando o poder de Miguel Díaz-Canel

A 11 de março, quando parte dos 605 parlamentares que escolheram os 31 deputados do Conselho de Estado na nova legislatura que ontem começou na Assembleia Nacional do Poder Popular de Cuba, vulgo parlamento, foram escolhidos em eleições, Miguel Díaz-Canel, o novo líder cubano, votou numa assembleia em Santa Clara, 300 km a leste de Havana, e numa rara afirmação pública sublinhou: “Aqui estamos a construir uma relação de governo e povo.”

É um sinal de que o primeiro chefe de Estado que Cuba vai conhecer em quase 60 anos que não é um dos irmãos Castro representa mais uma evolução na continuidade que uma mudança no rumo cubano.

Díaz-Canel foi ontem proposto como candidato à presidência do Conselho de Estado, sucedendo a Raúl Castro, que lhe deixa o cargo cumprindo a palavra anunciada de que não queria continuar na liderança do órgão máximo do poder em Cuba para além da legislatura anterior.

O engenheiro, que exercia até agora o cargo de primeiro vice–secretário do órgão de 31 membros que conduz os destinos do país, era apontado há meses como o sucessor natural e, ontem, a lista apresentada e que hoje é votada não causou qualquer surpresa. Díaz-Canel será o líder e Salvador Valdés Mesa, ex-dirigente sindical que até agora era um dos cinco vice-presidentes, assumirá como número dois, numa mudança que é apenas o rearranjo do Conselho de Estado com a saída de Castro.

O até agora líder, que herdou o poder do irmão, Fidel Castro, quando este adoeceu em 2006 – mas só em fevereiro de 2008 assumiu realmente o cargo, que até aí exercia interinamente –, sai do conselho de Estado, mas não deixa a vida política ativa. Nem se afasta muito do poder.

Até 2021, Raúl Castro continuará a ser o secretário-geral do Partido Comunista de Cuba, sinal de que manterá um papel fundamental na definição das políticas do governo nos próximos anos.

Aliás, ontem, antes do começo da sessão parlamentar de dois dias, o próprio parlamento apelou aos cubanos para que enchessem o Twitter de mensagens (um “tuitazo”, como lhe chamaram) com a hashtag #SomosContinuidad, numa clara demonstração de que, se há mudança de rosto e de apelido, não há mudança de políticas. Ou, pelo menos, assim se quer fazer crer.

Pela votação de ontem percebeu-se que as alterações se mantiveram reduzidas ao essencial. No Conselho de Estado, só um terço são novos rostos; ao mesmo tempo, o presidente do parlamento, Esteban Lazo, foi reconduzido no cargo, tal como a vice–presidente, Ana María Mari Machado, e a secretária, Miriam Brito Sarroca.

Díaz-Canel recebe em mãos uma economia em crise, a precisar de unificar a moeda (Cuba tem duas, o peso cubano e o peso convertível, o primeiro para os locais e o outro para os turistas), com défice habitacional e o sempiterno racionamento. As reformas que tinham sido iniciadas estão aparentemente paradas e as perspetivas de futuro parecem tudo menos risonhas.