Windsor. O palco dos casamentos de segunda linha

A Capela de São Jorge, mesmo desarrumada, manteve-se aberta para os turistas verem o cenário onde vai decorrer o enlace de Harry e Meghan. A novela da família Markle atrai as atenções e o “Evening Standard” esgota edições

“Oh, no, thank God!”, respondeu sinceramente aquele funcionário veterano à entrada da Casa de Bonecas do Castelo de Windsor, uma das grandes atrações turísticas do local onde amanhã se casam o príncipe Harry e Meghan Markle. A pergunta para tamanho desabafo foi se estaria a trabalhar no sábado e o alívio mostrou que o entusiasmo com este casamento real não parece generalizado.

Na verdade, os guias aproveitam, no seu jeito snobe de serem britânicos (com um certo trejeito de desprezo de guias que se acham quase como membros da família real), para explicar aos turistas que Windsor está reservado para os casamentos de divorciados – como é Meghan Markle –, uma espécie de segundo escalão da família real. Carlos casou com Diana na Catedral de São Paulo, em Londres, mas as segundas núpcias, com Camilla Parker-Bowles, realizaram-se em Windsor.

Ainda assim, o casamento de Harry e Meghan atrai a atenção de um país talvez demasiado enfastiado com as notícias de Theresa May. O “Evening Standard”, com as novidades do drama familiar de Meghan, é mais disputado que pão quente. E há anúncios nos meios de comunicação recomendando que as pessoas saiam de casa às quatro da manhã para evitarem a confusão.

Mas os britânicos, mais do que interessados no casamento, parecem intrigados com a novela da família Markle. Pode ser que no sábado saiam das suas tocas para ver in loco mas, por agora, tirando os repórteres de televisão a marcar lugar, não se vislumbram aqueles fascinados pela monarquia que acampam dias antes nos melhores lugares para ver passar os cortejos reais.

A sensação para quem está de passagem por aqui, não apenas em Windsor, mas também em Londres, é de que o casamento é uma espécie de Superbowl, a final do Campeonato do Mundo de Futebol ou do Festival da Eurovisão. Serve como gancho de publicidade dos mais diversos produtos. Também se vende de tudo para levar de lembrança, desde porcelanas a cachecóis como se fossem de clubes de futebol, só que em vez de Chelsea ou Arsenal levam escrito “Harry & Meghan” a cor-de-rosa.

A velha questão dos gastos da monarquia e o republicanismo parece arredada da discussão pública nos últimos anos, até porque, diante do que é gasto em impostos pelos turistas, movidos por esse fascínio pela realeza – não apenas em Windsor, também na Torre de Londres, que guarda as joias da coroa, ou na Abadia de Westminster, cenário de coroações –, a monarquia mais do que se paga e até sobra. O que seria do turismo de Londres sem a monarquia? Algo que poderia comparar-se em clima a uma capital do leste europeu?

E os turistas andam por aqui, absolutamente fascinados por esse mundo real. E a indústria turística tenta equilibrar as necessidades de preparação do casamento e as obrigações de segurança com o fascínio dos visitantes. A Capela de São Jorge, em Windsor, onde vai realizar-se a cerimónia religiosa, manteve-se aberta ao público esta semana. Apesar de os bancos estarem todos pelos corredores e de haver já muitas câmaras de televisão instaladas, aos turistas ainda se lhes permite vislumbrar o cenário da boda. O que não pode o turista comum, tal como já não podia antes, é tirar fotos do interior, o que permite disfarçar toda a desarrumação.

Resta aos turistas e à imprensa estrangeira que já chegou a estas zonas olhar à volta, observar os preparativos e pouco mais. A falta de assunto traz os 15 minutos de fama a pessoas que nunca a iriam ter como, por exemplo, as duas sósias de Meghan que vimos a dar entrevistas a canais de televisão, matéria para alimentar apontamentos de reportagem enquanto não se consegue mais nada para transmitir.

No entanto, ninguém parece importar–se muito, sobretudo os turistas, que nem sequer as filas de quase uma hora para conseguir franquear as portas do Castelo de Windsor incomodam.

Em matéria de segurança, não parece especialmente diferente do habitual para uma cidade como Londres, que já foi cenário de vários atentados. É certo que em lugares estratégicos da capital britânica existem barreiras colocadas para evitar atropelamentos em massa, sobretudo instaladas em lugares estratégicos de acumulação de turistas.

De resto, não se nota muito a sua presença, nem sequer em Windsor, palco do casamento. Até porque o número maioritário de turistas que andam pelas ruas chegam do Extremo Oriente, sobretudo chineses, e não chamam muito a atenção das forças de segurança.

O sentimento para quem anda por aqui, quer por Windsor, quer por Londres, é que estamos perante um cenário de caos controlado. A excitação à volta do casamento real pode ser grande e atrair muita gente, mas não parece envolver ameaças à segurança.