Quando vi a notícia das agressões aos jogadores do Sporting na Academia de Alcochete estava em casa com os meus filhos. O mais velho não conseguia perceber o que se passava:
– Mas são os adeptos do Sporting?
– Parece que sim – respondi.
– E bateram nos jogadores do Sporting?
– Pois…
– Mas porquê?
– Porque perderam.
– E, como perderam, foram bater-lhes?!
– Tens razão, não faz sentido. Mas infelizmente há demasiadas pessoas parvas.
Foi esta a resposta igualmente parva que consegui dar na altura, mas também eu estava estupefacta com as imagens. Os mais novos, entretanto, pediam-me assustados para mudar de canal.
O que aconteceu é difícil de compreender e ainda mais de explicar. Sobretudo a uma criança que vê as coisas com a simplicidade e a clareza que os adultos tendem a perder.
No dia seguinte, na escola, não se falava de outra coisa. Porque os rapazes agora vivem intensamente o futebol. Quase todos vestem, penteiam e respiram futebol. E muitos também praticam este desporto. Pensava eu até ontem que é nessas idades que é mais difícil saber perder e os treinos dos mais pequenos – pelo menos com treinadores sensatos… – incidem muito nesse aspeto. O meu filho de seis anos sempre teve muita dificuldade em lidar com a derrota mas desde que anda no futsal que tenta interiorizar que não faz mal se perderem, porque o mais importante é participar e divertirem-se. No dia em que viu as imagens ficou baralhado.
Claro que no desporto profissional as coisas não podem ser assim tão puras. Há uma série de interesses que dependem dos resultados, mas o ponto a que o desporto português chegou deve encher-nos de vergonha. Subornos, ameaças, agressões, é tudo miserável e o oposto do que seria o objetivo do desporto. Instalou-se um clima de desconfiança em que nunca sabemos se os resultados são verdadeiros, se o que pensávamos serem erros de arbitragem são afinal decisões propositadas e no final não ganha o melhor, mas o mais desonesto. Lá fora, onde somos conhecidos por termos ganho o Campeonato Europeu de Futebol, pelo Luís Figo e o Cristiano Ronaldo, passa a imagem de o clube que projetou estes jogadores ser violento e desgovernado.
Sempre gostei de ver jogos de futebol com amigos, de assistir a rivalidades saudáveis entre adeptos de clubes diferentes, dos pais a incitarem os filhos a serem do seu clube e outros a tentarem ‘desencaminhá-los’. Sempre gostei de ver crianças e adultos a jogar à bola. Da facilidade com que se vão juntando outros que passam e do magnetismo que tem uma simples esfera.
Talvez também seja demasiado ingénua, mas sou só uma adepta pouco ferrenha que gosta de assistir a jogos de futebol, que sempre esteve rodeada de amigos que jogavam à bola e agora mãe de quatro rapazes que vivem com uma bola no pé. Não sou o presidente de um clube que amua como uma criança pequena, que denigre a própria camisola e os seus jogadores, que distribui insultos, castigos, incita indiretamente à violência e, com a sua gritante imaturidade, destrói não apenas um clube mas também a ideia que os mais pequenos têm do futebol.
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