António Costa refém do fogo e de Sócrates

Desde que Sócrates deixou de ser o ‘menino de oiro’, o PS só tem a esperar o pior.

António Costa tem, não uma, mas duas espadas de Dâmocles a pairar-lhe sobre a cabeça. A primeira são os incêndios, a segunda é a boca de Sócrates. A primeira tem data marcada e vai até outubro, a outra é quando Sócrates quiser falar. 
Esta semana tivemos uma troca de galhardetes sobre incêndios entre o primeiro-ministro e o Presidente da República, sendo que o tema é um daqueles poucos onde têm mostrado discórdia, mas acaba por ser determinante em última instância. 

O primeiro-ministro afirmou há três semanas que não se demitiria caso se repetisse a tragédia, mas convenhamos que, se morrerem mais cem pessoas, não lhe restarão muitas opções – pese embora o homem não gostar de assumir responsabilidades. Se bem se lembram, teve de ser Marcelo Rebelo de Sousa a fazer o duro discurso de 17 de Outubro (de 2017) para que a ministra da Administração Interna finalmente se demitisse.

Alguns dias depois, os jornais noticiavam que o Governo tinha ficado chocado com as palavras do Presidente. No dia seguinte, nos Açores, Marcelo responderia lapidar: «Chocado ficou o país».

E, apesar dos avisos presidenciais de então para cá – de que estará atento à preparação da época para o combate aos incêndios florestais, e de que não permitirá que se voltem a repetir erros –, os sinais que têm vindo a público são alarmantes.

Rui Rio, líder do PSD, juntou-se esta semana às críticas, sobretudo relativamente à mudança no Comando, tendo até acrescentado que «a maior falha do Governo desde que tomou posse foi justamente nesta área da Proteção Civil». 
Mas disse mais: acrescentou a provada falta de equipamento diverso para os bombeiros e a noticiada «falta de meios aéreos, que este ano são menos do que no ano passado».

Rio disse ainda que «o Governo não tem tido a capacidade que se impunha» na preparação para o combate aos incêndios de Verão.

Moral da história: António Costa está dependente dos fogos. Se Portugal arder – e, pior, se morrerem pessoas –será responsabilizado por isso.

Presumo que não se fará política até outubro. Apesar do tanto que é necessário fazer, vai tudo ficar de braços cruzados na expectativa a ver se arde. Cinco meses parados à espera que passe o verão.

Acresce que, agora que Sócrates deixou de ser o ‘menino de oiro’ do PS e se transformou numa fera ferida, só temos a esperar o pior. Acossado, sozinho, sem nada a perder, abandonado pelos companheiros, vexado em público, nada indica que permaneça calado. 

Num PS minado pela corrupção, qualquer pista que dê sobre governantes seus que agora estejam com Costa será letal.
Portanto, de cada vez que virem António Costa sorridente, desconfiem. Deve ser para não chorar. 
sofiarocha@sol.pt