Os americanos regressam à trama das armas superssónicas

Os sintomas e lesões encontrados em 24 funcionários americanos em Havana reapareceram num homem de serviço na China.

À Guerra Fria sucede-se por estes dias um obscuro conflito ultrassonoro entre americanos, cubanos e chineses, cujo   principal efeito, até agora, parece ser o de deixar os três países mais confusos que machucados. O governo norte-americano está de novo a soar o alerta a sintomas bizarros sofridos por funcionários seus fora do país. Desta vez aconteceu na China, e, como em Cuba, há ano e meio, os sinais estão também relacionados com sons de baixa frequência.

Washington revelou esta quarta-feira que um americano do consulado de Guangzhou comunicou “sensações subtis, vagas, mas anormais, de sons e pressão” no fim do ano passado e que continuou a sofrê-las até ao mês passado.O mesmo indivíduo, entretanto regressado aos Estados Unidos, apresenta agora lesões cerebrais ligeiras, aparentemente a origem dos sintomas. “O governo americano está a encarar este caso com seriedade e já informou o seu pesoal na China”, anunciou o Departamento de Estado. 

Repetem-se os sinais do caso cubano e adensa-se a trama do mistério. Nos finais de 2016, 24 diplomatas e funcionários americanos na embaixada de Havana deram conta de sintomas entre os quais se incluíam tonturas, náuseas, problemas de audição e a impressão de estar sob diferentes pressões atmosféricas em divisões distintas do edifício. Alguns funcionários canadianos, num edifício próximo, sofreram o mesmo. 

O caso nunca foi resolvido, mesmo passados vários meses, e os funcionários regressaram entretanto aos Estados Unidos. Pelo caminho, ainda sem certezas sobre o que se passou mas disposto a apontar o dedo ao governo cubano, Donald Trump expulsou 17 diplomatas cubanos de Washington.

Alguns norte-americanos regressados de Cuba sofreram traumas cerebrais parecidos com os que se encontrariam numa pessoa acabada de sofrer golpes no crâneo. Esta quarta-feira, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, afirmou que os sintomas do paciente vindo da China são “clinicamente semelhantes”. 

Conspiração?

Havana nunca reconheceu os supostos ataques e ofereceu-se para colaborar com investigadores americanos do FBI – uma posição muito rara no governo cubano. A China seguia esta quarta-feira o mesmo caminho de aparente confusão, apesar de as relações entre Estados Unidos e China se encontrarem por estes dias no ponto mais baixo do governo Donald Trump, que abriu, e agora trava, uma disputa comercial com Pequim.

“O governo chinês assegurou-nos que também está a investigar e a adotar as medidas devidas”, anunciou o Departamento de Estado, admitindo, como no caso cubano, não conhecer a causa dos sintomas. Washington adianta também que não tem notícias de relatos semelhantes a outros americanos de serviço na China – onde a América tem cerca de dois mil funcionários. 

Os Estados Unidos continuam sem excluir a possibilidade de agentes cubanos terem usado armas ultrassónicas para atacar o seu pessoal diplomático em Havana. No entanto, parecem haver causas mais plausíveis, como, por exemplo, aparelhos avariados de espionagem e gravação clandestina de som, como sugeriram em março estudantes da Universidade do Michigan.