Geringonça da esquerda espanhola dependente dos independentistas

Moção de censura do PSOE derrubou o Governo minoritário do PP e deixou o lugar de primeiro-ministro a Pedro Sánchez que nunca ganhou eleições.

Geringonça da esquerda espanhola dependente dos independentistas

OPartido Socialista Operário Espanhol (PSOE) voltou à liderança do Governo sete anos depois de José Luis Zapatero e com uma geringonça de engenharia mais complicada que a que António Costa conseguiu em Portugal. Além do Unidos Podemos, o seu principal aliado, Pedro Sànchez tem agora uma maioria composta por uma série de partidos regionais, alguns deles independentistas, e quer fazer-se valer desse apoio não convocando imediatamente eleições antecipadas.
Mercê do que lhe permite a Constituição espanhola, Sánchez, ao fazer passar no Parlamento a sua moção de censura ao Executivo minoritário do Partido Popular (PP) , ganha assim uma maioria para governar. A tomada de posse estava marcada para a manhã deste sábado. Sánchez já falou ontem com o rei Felipe VI. 

Tal como Costa em Portugal – que já ontem enviou uma mensagem de felicitações, desejando que o futuro Governo continue «a melhorar as relações com Portugal» – também Sánchez chega a primeiro-ministro sem ganhar as eleições. E não uma, mas duas vezes. Aliás, demitiu-se em outubro de 2016 depois de nova derrota eleitoral, para ser eleito secretário-geral em maio do ano passado. As diretas no PSOE foram mesmo as únicas eleições que conseguiu vencer.

Prometendo diálogo aos catalães e dinheiro aos bascos do PNV (garantiu-lhes que não haveria cortes orçamentais para o País Basco), o socialista juntou os votos suficientes para fazer passar a moção de censura sem precisar do Ciudadanos, que acabou por votar ao lado do PP.

Pedro Sánchez tornou-se, desta maneira, o sétimo presidente do Governo desde o regresso da democracia a Espanha em 1976.

Pablo Iglesias, o líder do Unidos Podemos, já lhe propôs prolongar a coligação nas urnas. Ontem no Twitter do movimento político já se abriam grandes avenidas de reformas em perspetiva: «O adeus a Rajoy cria a oportunidade para iniciar uma agenda social com as reformas que as pessoas deste país precisam: a reforma das pensões, os avanços para a igualdade de género e o travão à bolha do aluguer».

Na justificação da moção que foi, ao mesmo tempo, um programa do novo Governo, Sánchez falou em «coerência, responsabilidade e democracia. Proponho um Governo socialista, paritário e europeísta que cumprirá com a União Europeia e a Constituição». O líder socialista estabeleceu três pontos para o seu Executivo: «Estabilizar, responder às emergências sociais e convocar eleições».