Torre dos Sinos. “Ver o que nunca ninguém viu” a partir de amanhã

“As pessoas podem estar em muitos sítios, mas não num lugar tão íntimo”, é o compromisso do padre Edgar Clara para com os visitantes

Se é das pessoas que quando ouvem a palavra miradouro pensam logo em subidas intermináveis, prepare-se: o novo miradouro de Lisboa, situado junto ao Castelo de São Jorge (freguesia de Santa Maria Maior), que se encontra aberto ao público a partir de hoje, conta com uma acessibilidade que só cansa a vista.

Num local privilegiado é possível desfrutar de uma paisagem que inclui várias freguesias da cidade, tendo uma visão de 360 graus da Baixa lisboeta. O padre Edgar Clara – um dos responsáveis por este projeto – conta que todos os padres já viram o miradouro, mas nenhum fiel ali entrou – aliás, brinca, “muito menos os infiéis”.

A Signinum, empresa de gestão de património cultural, juntou-se ao padre para recuperar uma das mais antigas igrejas de Portugal. O i esteve no local para comprovar o que distingue este miradouro dos restantes.

O padre afirmou que “não há nenhum miradouro que tenha esta conotação espiritual” que a torre da igreja do castelo pode proporcionar. O lugar é pequeno e não podem estar mais do que dez pessoas ao mesmo tempo, mas a razão é simples: o objetivo não é encher o espaço de visitantes, mas sim proporcionar uma nova experiência. 

A igreja, que se encontra no coração de Lisboa, já existia antes do terramoto de 1755. Foi impossível resistir à tragédia que abalou a capital portuguesa mas, após 11 anos, viu as suas paredes novamente erguidas.

O espaço, que tinha as portas fechadas há 20 anos – e abria apenas aos sábados para a habitual missa – por falta de sustentabilidade, recebe hoje os portugueses e turistas que querem conhecer um pouco da arte, religião e história que marcaram o séc. XVIII.

A entrada na igreja continua a ser livre, mas a torre é taxada por um preço simbólico: três euros e meio. No entanto, para quem não gosta de filas e pretende ter um acesso mais rápido, pode optar por comprar o bilhete prioritário. Este dá acesso direto ao miradouro, com uma taxa de um euro e meio sobre o valor normal do bilhete. As entradas podem ser adquiridas online, através do site da igreja.

Luís Aguiar, responsável pela Signinum, acredita que este projeto tem pernas para chegar aos curiosos que vão chegar ao local, aos turistas, aos católicos, mas principalmente aos portugueses – o objetivo principal da construção deste miradouro é que chegue ao maior numero de pessoal possível. 

Equipa A equipa que é responsável pelas visitas guiadas à Igreja de Santa Cruz do Castelo e à Torre dos Sinos conta com oito elementos.

Bruno Lopes, Ana Rocha, Raquel Raposo e Bárbara Pereira vieram de áreas ligadas ao património, artes e história e encontraram-se nesta nova fase para dar vida às ideias do padre Edgar Clara.

O miradouro volta a destacar–se pela diferença graças à aposta na integração de Bárbara Pereira no projeto, uma jovem com deficiência auditiva.

A condição de Bárbara, que aparentemente representa um entrave para o mundo do trabalho, demonstrou ser uma mais- -valia para ela, pois agora faz parte dos guias, mas com uma particularidade: transmite a informação em linguagem gestual.

Mas não é tudo: o espaço, que não possui nenhum elevador por se manter fiel à construção inicial, não constitui um entrave para as pessoas de mobilidade reduzida. Vai existir uma câmara de 360 graus, em direto, que transmite som e sensações reais aos visitantes que tiverem de optar por esta via.

*Texto editado por Ana Sá Lopes