Brexit. Londres divulgou 24 documentos a alertar para o pós-Brexit

O ministro britânico para o Brexit, Dominic Raab, garantiu que o governo chegará a acordo com Bruxelas até março de 2019 e que os documentos servem para “mitigar os riscos” caso não haja consenso

Caso Londres e Bruxelas não cheguem a acordo para o Brexit, pensionistas e empresas britânicas que residam ou operarem em Estados-membros da União Europeia poderão perder “o acesso das suas contas bancárias aos serviços de depósito e empréstimo”. O aviso parte de um dos 24 documentos – num total de 80 que serão publicados durante o verão – divulgados pelo governo britânico a explicar o que empresas, serviços públicos e cidadãos devem fazer na eventualidade de não haver acordo até 29 de março de 2019, data oficial para a saída do Reino Unido da UE. 

E não é o único alerta. Se não se chegar a acordo, “a livre circulação de bens entre o Reino Unido e a União Europeia acabará” de um dia para o outro, com custos ainda não calculados para as empresas. Uma situação que assume importância acrescida no que à fronteira entre a Irlanda e o Reino Unido diz respeito, um dos temas mais sensíveis das negociações. Nessa eventualidade, Downing Street está a aconselhar as empresas que transportam mercadorias pela fronteira a “perceberem se precisam de conselhos do governo irlandês sobre quais os preparativos”. Medicina, impostos, alimentos, programas Erasmus, direitos dos trabalhadores, exportação de equipamentos militares são outros dos temas abordados pelos documentos. 

O ministro britânico responsável pela pasta do Brexit, Dominic Raab, garantiu que o objetivo dos documentos “é mitigar os riscos e garantir que o Reino Unido está preparado para transformar o Brexit num sucesso”. Ainda que a incerteza reine, o governante mostrou-se confiante de que o “resultado mais provável” ser o alcançar de um acordo que agrade a ambas as partes. Neste momento, esclareceu Raab, o acordo está 80% completo, mas nem por isso deixou de referir a necessidade de se apressar o passo. 

Contrariando os avisos mais alarmistas de que as forças armadas britânicas teriam de ser destacadas para garantir o fornecimento de alimentos à população, Raab garantiu que “ainda se poderá desfrutar de uma BLT [sandes britânica] depois do Brexit e não há planos para ativar o exército para garantir o fornecimento de alimentos”.

Opção referendo

As garantias de Downing Street parecem não ser suficientes para tranquilizar a liderança do Partido Trabalhista. Em reação às declarações de Raab, Keir Starmer, porta-voz do partido, afirmou que a realização de um segundo referendo deve estar “em cima da mesa” para o caso do parlamento não aceitar o acordo alcançado pela primeira-ministra britânica, Theresa May, com Bruxelas. “Penso que é preciso um voto democrático. Não acho que a primeira-ministra possa decidir por si o futuro do país”, disse Starmer. “Se o voto decidir rejeitar o acordo do artigo 50 [de saída da UE], o parlamento deve decidir o que acontece a seguir. Nessas circunstâncias, parece-me que todas as opções devem estar em cima da mesa”, acrescentou, referindo-se à realização de um segundo referendo. 

Imigração cai a pique

Se o Reino Unido sempre foi um destino de emigração, desde o referendo do Brexit que parece ter deixado de o ser. Segundo o Instituto Nacional de Estatística britânico, a imigração oriunda de Estados-membros da UE para o Reino Unido teve a maior quebra dos últimos seis anos (dezembro de 2012). Quando antes o número chegava quase aos 200 mil imigrantes, ficou-se pelos 87 mil imigrantes até março deste ano.