Operação Marquês. Salgado abdica de instrução

Na base desta decisão estão os ficheiros contaminados com vírus e a probabilidade de ser o juiz Carlos Alexandre a dirigir esta fase

Ricardo Salgado decidiu não pedir a abertura de instrução na Operação Marquês. O ex-banqueiro alegou que está impedido de se defender por falta de segurança dos ficheiros das escutas e por existir uma grande probabilidade de ser o juiz Carlos Alexandre a dirigir a instrução.

Salgado diz que existe "um justo impedimento para o exercício do direito de defesa, na vertente de requerer a abertura de instrução, na medida em que a sua defesa está impossibilitada em aceder em condições de segurança aos ficheiros das escutas telefónicas que lhe foram disponibilizados pelo próprio Ministério Público (MP)", lê-se no requerimento dirigido ao juiz do Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC), citado pela agência Lusa.

"Como foi admitido pelo MP esses ficheiros contêm vírus", diz a defesa de Ricardo Salgado, que argumenta os malwares podem causar danos irreversíveis e afetas os sistemas de segurança informática através dos quais os ficheiros foram acedidos, como os escritórios dos advogados do antigo líder do BES.

Salgado recorda que já tinha abordado esta questão, que Carlos Alexandre indeferiu,  que levou o ex-banqueiro a interpor recurso na Relação de Lisboa, onde o caso se encontra pendente, diz a Lusa.

Para além disso, Ricardo Salgado fala sobre a probabilidade de Carlos Alexandre vir a dirigir a fase de instrução: "Se tal vier a suceder, o arguido (Ricardo Salgado) não tem ilusões quanto aquele que seria ou será o desfecho de uma eventual instrução".

No requerimento, o ex-líder do BES reitera que "não praticou qualquer crime" e que na acusação só existem "suposições atrás de suposições e presunções sobre presunções". Salgado diz que Carlos Alexandre "limita-se a aderir e a aceitar tudo o que é requerido pelo MP", chegando mesmo a ir mais além que o próprio MP.

Recorde-se que Ricardo Salgado está acusado de 21 crimes de corrupção ativa de titular de cargo político, corrupção ativa, branqueamento de capitais, abuso de confiança, falsificação de documento e fraude fiscal qualificada. Os arguidos Henrique Granadeiro, Zeinal Bava, Bárbara Vara, Joaquim Barroca, Helder Bataglia, Rui Mão de Ferro e Gonçalo Ferreira, empresas do grupo Lena (Lena SGPS, LEC SGPS e LEC SA) e a sociedade Vale do Lobo Resort Turísticos de Luxo já pediram a abertura de instrução.