Sporting. O candidato da união será o presidente da missão

Frederico Varandas venceu as eleições mais concorridas da história do clube leonino e prometeu ser campeão nacional de futebol. Isto, enquanto o seu antecessor dava entrada no hospital por intoxicação medicamentosa

“Ontem começámos a vencer o adversário mais terrível que já tivemos em toda a nossa história: o Sporting fraturado. Enquanto não formos realmente unidos, não nos vamos conseguir bater com os nossos rivais.” Foi com esta mensagem forte – para bom entendedor… – que Frederico Varandas se dirigiu este domingo, pela primeira vez, aos sócios e adeptos do Sporting após ser investido oficialmente como 43.º presidente da história do clube leonino.

O antigo diretor clínico dos leões, cargo que desempenhou de 2011 até maio passado, ganhou o direito a suceder oficialmente a Bruno de Carvalho ao recolher 42,33 por cento das preferências de voto nas eleições deste sábado, batendo João Benedito (36,8), José Maria Ricciardi (14,5), Dias Ferreira (2,35), Fernando Tavares Pereira (0,88) e Rui Jorge Rego (0,44) no ato eleitoral mais concorrido da história do clube: 22510 votantes. Curiosamente, João Benedito até teve mais sócios a votar em si, mas o sistema de hierarquia dos associados leoninos acabou por dar a vitória à Lista D, encabeçada por Varandas.

Na primeira reação após ser eleito, chamado ao palanque por Rogério Alves, novo presidente da Mesa da Assembleia-Geral, Frederico Varandas não fez a coisa por menos. “É a missão mais importante da minha vida”, disparou, ele que tem um passado no Exército, onde chegou a estar em verdadeiras missões. Visivelmente emocionado, o médico tirou do bolso a medalha de vencido da final da última Taça de Portugal, onde o Sporting caiu perante o Aves (1-2) no fim da negra semana marcada pelo ataque à Academia de Alcochete, e prometeu juntá-la à taça de campeão nacional que “mais tarde ou mais cedo” acredita vir a conquistar ao comando dos destinos do Sporting. “Eu prometo. É uma missão que vou cumprir até ao fim”, garantiu, elogiando os sócios leoninos pela afluência em massa às urnas: “Isto demonstra a vitalidade e a força de um clube que é gigante.”

Depois, mais uma bicada ao seu antecessor. “Hoje é uma vitória muito importante, é uma vitória simbólica: é uma vitória da independência, da resistência, da superação e assim é que vai ser o Sporting. O Sporting não vai ceder, não vai vacilar e nunca vai abdicar dos seus valores, dos seus ideias. Nunca”, frisou. Terminaria o discurso da vitória com a mesma ideia com que pautou ontem a sua intervenção após a investidura: a necessidade de os sportinguistas se unirem e acabarem de vez com as disputas internas. “Unir não é só dizer, unir é efetivar a união. Unir é estar no estádio, no pavilhão e discordar do sócio A, B ou C, mas quando a bola entrar gritar bem alto que foi golo do Sporting Clube de Portugal. Unir o Sporting é colocar os interesses do Sporting acima dos interesses individuais. Unir o Sporting é colocar o amor ao Sporting acima de tudo. Fui um candidato independente e serei um presidente independente. O único compromisso que terei é com os adeptos do Sporting e deixo aqui bem claro: eu e a minha equipa tudo faremos para lutar pelo Sporting até ao fim das nossas energias com paixão, com amor e com muita competência. Eu nasci Sporting, cresci Sporting, respiro Sporting mas não sou o Sporting. A minha missão é servir o Sporting Clube de Portugal e a minha prioridade e da minha equipa é unir o Sporting Clube de Portugal”, sentenciou.

 

Bruno de Carvalho hospitalizado O nome do novo presidente do Sporting foi conhecido já bem depois das duas horas da madrugada de domingo. Inicialmente, era esperado que os portões da Praça Centenário se abrissem a partir das 22 horas, mas “um problema técnico” relacionado com as urnas eletrónicas acabou por estar na origem de tamanho atraso, segundo revelou Jaime Marta Soares, agora ex-presidente da Mesa da Assembleia-Geral.

O dia de sábado, para Marta Soares, foi uma “autêntica lição de democracia”. “Não houve um único conflito, um único azedume entre os associados. Não houve nenhuma alteração de voz entre aqueles que por aqui passaram. Foi um ato eleitoral inexcedível, se calhar incomparável com qualquer outro clube desportivo, e mesmo uma lição de afirmação e respeito da democracia em qualquer ato eleitoral que se realize na vida social e pública do nosso país”, frisou. Na hora da despedida, o agora ex-dirigente leonino deixou agradecimentos aos órgãos sociais e à Comissão de Fiscalização que tomaram conta dos destinos do clube nos últimos dois meses e meio, com especial destaque para Sousa Cintra, que entre risos dizia aos jornalistas, logo após exercer o seu direito de voto, que “só faltou trazer a cama” para Alvalade durante o período em que desempenhou as funções de presidente da Comissão de Gestão.

No meio de tudo, uma sombra a pairar sobre o céu verde-e-branco: Bruno de Carvalho, pois claro. O único presidente do Sporting a ser destituído em 112 anos de história havia anunciado a intenção de impugnar o ato eleitoral e, na véspera, tinha recorrido ao Facebook para acusar Frederico Varandas, José Maria Ricciardi, Rogério Alves e Jorge Jesus de fazerem parte de um grupo que tinha como objetivo fazer com que a equipa de futebol dos leões terminasse em quarto lugar na temporada passada.

Durante o dia, estranhou aos associados o facto de Bruno de Carvalho não fazer qualquer publicação na sua rede social de eleição. Mais tarde, o “Correio da Manhã” viria a dar a notícia da hospitalização do ex-presidente do Sporting no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, alegadamente devido a uma intoxicação medicamentosa, e da alta hospitalar recebida por volta das seis da manhã de domingo.

No comunicado de despedida do Sporting, a Comissão de Gestão recomenda que Bruno de Carvalho, neste momento suspenso da condição de sócio durante um ano e a aguardar novo processo que o poderá suspender por mais oito anos, seja expulso devido às suas ações nocivas para com o clube, a exemplo do que já aconteceu com Elsa Judas e Trindade Barros, que estiveram à frente da Comissão Transitória da Mesa da Assembleia-Geral, órgão criado alegadamente de forma ilegal por Bruno de Carvalho.

Sousa Cintra garante deixar uma “casa arrumada” para a nova direção e apelidou ainda de “absurda” a reivindicação de Sinisa Mihajlovic, técnico sérvio contratado pelo ex-presidente e dispensado pela Comissão de Gestão, que avançou com um pedido de indemnização ao Sporting no valor de 11 milhões de euros. “Quando assinou pelo Sporting houve um período de experiência e, nesse período, exerceu as suas funções. Foi à Academia, alterou os estágios que o anterior treinador tinha preparado… alterou tudo. E o Sporting foi penalizado. O pouco trabalho que fez prejudicou altamente o Sporting. Além do ordenado monstruoso que tinha para um treinador que nunca ganhou nada e não conhecia o futebol português. Falei com os advogados e todos foram unânimes: está no período de experiência, pode ir embora. Indemnização? É fantasia. O Sporting não tem de pagar nada. O que o Sporting tinha a pagar, pagou, que foi o correspondente aos dias em que esteve a trabalhar. O assunto é limpo e transparente”, concluiu.