Infarmed. Comerciantes do Porto contra suspensão da transferência

Presidente da Associação Comercial do Porto juntou-se ao coro de críticas. Nuno Botelho também pede a demissão do ministro da Saúde

O recuo do governo em relação à mudança da sede do Infarmed continua a gerar polémica. Às vozes que já se tinham levantado contra a mudança de estratégia, juntam-se cada vez mais e há até quem peça a demissão do ministro da Saúde, Adalberto Campos. É o caso de Nuno Botelho, presidente da Associação Comercial do Porto (ACP), que entende que a suspensão desta transferência é “um escândalo” e faz com que o responsável pela pasta da Saúde não tenha “condições para continuar em funções”. 

“Mesmo depois de todos os relatórios favoráveis a essa deslocalização relatórios técnicos por comissões independentes, o ministro resolve devolver essa decisão, decisão essa que já tinha sido tomada por outra comissão”, sublinha Botelho, que acusa ainda o executivo de António Costa de “falência do poder político face aos funcionários públicos”.
Para aumentar o tom, o presidente deste organismo diz ainda que “o ministro da Saúde não será, pelo menos nesta casa enquanto eu for presidente, mais recebido aqui, se alguma vez cá vier”.

Já no domingo, este recuo do executivo de António Costa tinha levado a distrital do PSD do Porto a pedir a demissão do ministro da Saúde. Num comunicado, o líder da direção, Alberto Machado, acusou Adalberto Campos Fernandes de “faltar com a palavra e compromisso” e de “lesar a região Norte” através de um processo que classifica de “atabalhoado e incoerente”.

A estas posições junta-se a da associação cívica “Porto, o nosso movimento”, sucessora do movimento de apoio à candidatura independente de Rui Moreira à Câmara do Porto. O organismo em questão questionou mesmo António Costa sobre a “cambalhota do ministro da Saúde” no processo de transferência da sede do Infarmed de Lisboa para o Porto. Num comunicado, a associação questiona o primeiro-ministro sobre se a alteração de planos conhecida na última sexta-feira “tem a sua cobertura e concordância, já que não se conhece a publicação de qualquer resolução desse órgão contrária à publicada em Diário da República”. O movimento relembra ainda que a decisão de transferir a sede do Infarmed de Lisboa para o Porto foi do governo, “sem que alguma vez tal tivesse sido reclamado pelo presidente da Câmara do Porto e, tanto quanto se sabe, por ninguém”. 

A líder do CDS, Assunção Cristas, também reagiu e classificou a decisão do governo como o desfecho de um processo “desastrado”, “incongruente” e “mal gerido”. “É mais um exemplo de um governo que anuncia sem estudar”, afirmou. 
Recorde-se que a transferência do Infarmed para o Porto foi anunciada em novembro de 2017. Mas rapidamente começaram a surgir diversas críticas, nomeadamente, de trabalhadores. Já em julho, o ministro da Saúde assumia que a decisão de mudar para o Porto dependia apenas de pequenos pormenores: “Teremos condições para uma decisão a curto prazo”. No entanto, na sexta-feira, Adalberto Campos Fernandes explicou aos deputados da comissão parlamentar de Saúde que “o contexto político” tinha mudado “significativamente” e que, por isso, a transferência estava “suspensa”.