Universidade vai pagar 10 mil euros por documentário televisivo sobre tauromaquia

O Jornal i avança que o ISCTE vai pagar cerca de 10 mil euros pelo documentário para televisão. 

O ISCTE-IUL vai pagar 9980 euros mais IVA pela realização de um documentário sobre tauromaquia. O Jornal i teve acesso ao contrato celebrado entre a instituição pública de ensino superior, financiada pelo Estado, e a produtora à qual o serviço foi adjudicado por ajuste direto. Este contrato foi ontem enviado para o PAN e para o Blovo de Esquerda.

De acordo com o documento, está em causa a “realização de documentário para televisão com duração de 30 minutos, que incide sobre tradições e costumes da tauromaquia nacional”.

Segundo as especificação das características "pretende-se que o documentário tenha imagens de uma corrida mista de toiros; testemunhos e imagens de figuras relevantes da tauromaquia portuguesa; recurso a imagens e vídeo de arquivo; filmagens com recurso a tecnologia de ponta (câmaras full HD 1920×1080 e 4K); sinopse que assinale os vários conceitos, designações, elementos, funções e técnicas do universo tauromáquico português, nomeadamente o cavaleiro, novilheiro, forcado, toiros, cavalos, tipologias das praças de toiros, toureiro a pé, toureiro a cavala, pega, lide, procedimentos obrigatórios no regulamento tauromáquico (desembarque, reconhecimento, apartação, sorteio, embolação), bandarilhas, música, curros, campinos, médicos, veterinários, entre outros”.

O contrato enviado aos partidos prevê também a “construção de plataforma online para base de dados (página de internet), de acesso livre, contemplando: página minimalista, mas visualmente apelativa, que permita uma navegação rápida e intuitiva aos utilizadores, que se afaste do conceito de blogue; possibilidade de alojar diversos materiais, em concreto vídeos, imagens, fotografias, informação textual e documental em pdf, dispostos de forma organizada”.

André Silva, deputado único do PAN no Parlamento, reagiu de forma especialmente crítica. “É de facto lamentável que o Estado continue, através de vários expedientes, a providenciar balões de oxigénio à indústria tauromáquica, e que neste caso em concreto – não estava mesmo nada à espera, é uma surpresa muito desagradável e que não prestigia em nada esta instituição – que o ISCTE-IUL se associe ao setor mais violento que existe em Portugal, ajudando a que continue a sobreviver”, defende o porta-voz do PAN. “Enquanto esta atividade for legal, no mínimo, que estes agentes paguem impostos e não recebam dinheiros de todo nós”, pede André Silva.

Contactado o ISCTE-IUL, Luís Capucha, diretor do Departamento de Ciência Política e Políticas Públicas, disse que não há “nenhum material a ser produzido para divulgação pública, ainda menos televisiva”, acrescentando que “o ISCTE-IUL não está a utilizar qualquer verba do seu orçamento para financiar o projeto”.

Apesar de não conhecer o contrato em questão, Luís Capucha admite tratar-se de “uma encomenda de uma plataforma informática para proceder ao registo da coleção vastíssima de elementos caracterizadores da Tauromaquia enquanto parte integrante do património cultural de Portugal, de preferência em suporte de imagem” e esclarece que “a empresa à qual o trabalho foi adjudicado construirá, além da plataforma, um documentário sobre o conjunto dos materiais recolhidos no âmbito do projeto ‘Tauromaquia, Património Cultural de Portugal’”.

“Este projeto, de que sou coordenador, decorre do Orçamento Participativo do Governo cuja votação ocorreu em 2017, no sentido de preparar uma candidatura da Tauromaquia a Património Cultural de Portugal”, acrescenta.