Aviões transparentes ajudam a levantar voo para o futuro

Viagens que chegaram a demorar quatro dias e implicavam nove escalas são agora feitas em voos diretos de algumas horas. A evolução chegou também aos aviões que, dentro de pouco tempo, serão «transparentes».

As listas com os voos diretos mais longos do mundo são atualizadas cada vez com mais frequência. Depois de, no início de 2016, a ligação entre a Nova Zelândia e o Dubai ter sido anunciada como a rota mais longa do mundo, multiplicaram-se novidades: voos diretos entre a Europa e Austrália e até ligações ente Singapura e Nova Iorque. Isto com cada vez mais companhias a garantirem ser possível fazer mais, melhor e em menos tempo.

Num contexto em que tudo parece acontecer a uma velocidade estonteante, as viagens que chegaram a demorar quatro dias e implicavam nove escalas são agora uma promessa de comodidade em voos diretos que demoram apenas algumas horas.

Um dos anúncios de que o futuro tinha vindo bater à porta foi feito pela companhia aérea australiana Qantas, em dezembro de 2016. A promessa era mudar a vida de quem quisesse viajar entre Perth, na costa Oeste da Austrália, e Londres, Reino Unido, numa viagem de cerca de 17 horas que cruzava os céus de três continentes, numa ligação que se traduzia em 14.498 quilómetros.

Mas não há novidade que não acabe por ter concorrência e a batalha para conseguir oferecer o voo direto mais longo do mundo começou a ser preparada pouco depois do primeiro anúncio. A guerra ganhou mais destaque e espaço mediático quando, recentemente, a Singapore Airlines (SIA) fez acontecer a ligação entre Singapura e Nova Iorque. A viagem, que chegou a ser uma verdadeira dor de cabeça devido à quantidade de escalas que tinham de ser feitas, passou para um plano de menos de 19 horas.

Ainda que muitos destes voos tenham sido desenhados no passado e deixado de ser um sonho por falta de adesão – por causa do preço das viagens –, há quem acredite que o futuro da aviação passa por dar às pessoas mais tempo e é aqui que ganha espaço a ambição dos voos diretos. Até porque projetos que foram um fracasso no passado começam a ser aperfeiçoados e prometem ser, cada vez mais, uma solução no futuro.

Quando a Singapore Airlines começou a querer apostar na ligação a Nova Iorque em voo direito, há cinco anos, o consumo de combustível era tão elevado que condenou os preços dos bilhetes e, assim, o futuro desta aposta. Agora, com o desenvolvimento tecnológico, os A350-900 Ultra Long Range, preparados para esta ligação, prometem uma poupança de 20 a 30% só no combustível. Falamos de um avião que pode voar por 20 horas sem parar, o que, dizem a maioria dos especialistas em aviação, será o futuro das viagens de longa duração para negócios e lazer. A ideia é regressar aos anos dourados da aviação, quando as viagens eram luxo. E é, por isso, que nesta nova ligação não há espaço para classe económica.

Cada vez mais especialistas garantem que estas viagens, com aviões cada vez mais capazes e a consumir menos, farão com que estas novas rotas sejam mais do que ligação: esperam-se que sejam viagens em direção a um mundo com tudo para conquistar.

Para enfatizar a importância da criação deste novo tipo de rotas e conquistas, Alan Joyce, diretor-executivo da Qantas, recordou, durante o anúncio da ligação entre o Reino Unido e a Austrália, o que já foi o passado da aviação. «Quando a Qantas criou a rota canguru para Londres, em 1947, eram precisos quatro dias e nove escalas [para chegar a Londres a partir da Austrália]. Agora bastarão 17 horas». E a transportadora aérea há muito que ambiciona não ficar por aqui.

De acordo com a empresa, o objetivo é que, no futuro, existam mais voos diretos para outras cidades do velho continente, nomeadamente Frankfurt, na Alemanha, ou Paris, França. Uma ambição que parece estar cada vez mais fora das gavetas e perto da realidade. «As pessoas podem esperar grandes mudanças nesta matéria. Para que seja possível voar tantas horas tem de haver reforço da tripulação e este tipo de voos vai ser cada vez mais frequente. A aviação está a mudar. Enquanto uns dormem, outros operam os voos porque nenhum piloto pode viajar tantas horas seguidas», explica uma fonte ligada à aviação, acrescentando: «Além dos limites impostos por lei, há as limitações até para os pilotos mais experientes. São muitas horas de voo e acredito que a escolha dos profissionais para operar estes voos passe a estar cada vez mais relacionada também com determinadas capacidades físicas e não apenas com a experiência. São viagens muito exigentes».

 

Novidades em Portugal

Também em Portugal as alterações que têm vindo a ser feitas nos últimos anos no setor da aviação estão à vista de todos. Uma das últimas novidades foi o anúncio de um voo direto para a China. No fundo, falamos de uma promessa com quase duas décadas. Em 2016, falar-se novamente da rota entre Hangzhou e Lisboa era mais uma razão de celebração, depois de todos os bloqueios à entrada da Capital Airlines serem totalmente superados pela via diplomática. O problema que se colocava era que, em 1999, tinha sido firmado um acordo que dava à Air China o exclusivo nos voos diretos para Portugal, ainda que a intenção de criar ligações diretas entre os dois países nunca tivesse saído do papel.

Mas nem só de novas rotas sem escalas se faz a evolução. Também em matéria de aviões as novidades são muitas. Uma delas é o facto de haver uma equipa de investigadores dedicada a criar aviões «transparentes», que permitam ver tudo o que se passa nos céus. Ainda que as aeronaves não passem a ser verdadeiramente transparentes, essa será a sensação transmitida por todos os ecrãs de alta definição que passarão em direto tudo o que as câmaras colocadas fora do avião captarem. E se pensa que para chegar aqui faltam vários anos, desengane-se. De acordo com Tom Taylor, da equipa de gestão do Centro de Progresso e Inovação (Centre for Process Innovation – CPI), «poderemos ver os primeiros aviões destes no mercado dentro de poucos anos».

 

Um marco chamado Concorde

No início de 2017, muito se falava de Denver, nos EUA, e da apresentação do protótipo de um avião supersónico. Objetivo? Ligar Nova Iorque e Londres em apenas três horas.

Os primeiros testes começaram a feitos já em 2017 e a Boom Technology começou a garantir, desde cedo, que estará a cruzar os céus já em 2020.

A promessa é de que este avião será 10% mais rápido do que o Concorde, o supersónico de passageiros que acabou por ver os voos serem suspensos depois de, em julho de 2000, o voo Air France 4590, que seguia para Nova Iorque, ter explodido pouco tempo depois de ter saído da capital francesa.

Os voos comerciais do Concorde ainda chegaram a ser retomados, cerca de 15 meses depois da suspensão, mas acabaram por ser novamente encerrados quando, em abril de 2003, a British Airways e a Air France decidiram que seria o melhor.

Entretanto, um grupo de fãs do Concorde foi notícia por garantir que o avião, que marcou a história do setor, poderá estar de volta nos próximos anos.

O que é certo é que no mundo da aviação tudo pode acontecer. Ouviremos cada vez mais ideias promissoras, mas também é possível que nem tudo sejam conquistas. Recorde-se que não é estranho ver ligações importantes desaparecerem ou grandes companhias caírem. Fazer uma viagem ao passado da aviação é recordar, também, a Pan American World Airways, por exemplo. Chegou a ser a companhia mais famosa do mundo. Mas a realidade transformou-se e mudou o caminho que a companhia fez durante anos. Em 1991, o que parecia ser impossível, aconteceu: a companhia faliu. Na esperança de conseguir reviver o passado glorioso da transportadora, um grupo de interessados resgatou-a. A tentativa fracassou. A companhia voltou a renascer em 2015, pela terceira vez, mas para ser uma operadora de voos VIP. Também a queda da Swissair, símbolo de orgulho nacional, foi um choque para muitos. Em outubro de 2001, aconteceu o impensável. Os aviões tiveram de ficar nas pistas, não havia dinheiro para pagar as coisas mais simples, como por exemplo as taxas aeroportuárias. A companhia viria a renascer: em 2002, aparecia a Swiss. Mas os primeiros anos foram tão difíceis que acabaria por ser obrigada, em 2005, a integrar o grupo Lufthansa.

A história mostra vários casos onde ser grande não impediu a queda e também histórias de viagens de pareciam impossíveis, mas que a maioria já experimentou.