A decisão política em Educação e os contributos da Ciência

Nos últimos tempos, tem-se verificado uma progressiva marginalização do conhecimento produzido no campo das Ciências da Educação, apresentado depreciativamente como uma linguagem própria, romântica, afastada da realidade das escolas e dos conhecimentos úteis. Esse esforço depreciativo foi designado por eduquês e largamente difundido por dois antigos ministros da Educação e outros opinion makers com acesso…

Nos últimos tempos, tem-se verificado uma progressiva marginalização do conhecimento produzido no campo das Ciências da Educação, apresentado depreciativamente como uma linguagem própria, romântica, afastada da realidade das escolas e dos conhecimentos úteis. Esse esforço depreciativo foi designado por eduquês e largamente difundido por dois antigos ministros da Educação e outros opinion makers com acesso privilegiado ao espaço público. 

Essa ofensiva contra as Ciências da Educação não foi desinteressada. Ao desqualificar o conhecimento produzido em muitos anos de investigação nos campos da Psicologia do Desenvolvimento, da Sociologia das Desigualdades Escolares, da Pedagogia, procurou legitimar a ofensiva conservadora no campo da Educação, de que o ministro Nuno Crato (2011-2015) foi um triste e trágico exemplo em Portugal. Essa desqualificação serviu para justificar as opções feitas, por exemplo, nos campo do curriculum, do que se ensina na escola, e da formação dos professores. A afirmação como política pública do senso comum de que há disciplinas mais importantes que outras (à revelia do que já se sabe no campo das Neurociências e já se sabia há muito nos campos da Pedagogia e da Sociologia da Educação) ou de que a formação dos professores não necessita dos conhecimentos das Ciências Sociais foram consequências trágicas desses anos de chumbo na Educação em Portugal.

Lamentavelmente, ainda não conseguimos fazer um ruptura total com esses tempos. Os campos políticos da Educação, do Ensino Superior e da Ciência têm sido, há demasiado tempo, hegemonizados por ‘engenheiros’ e ‘economistas’ mais preocupados com o ‘capital humano’ e a ‘economia do conhecimento’ do que entender que essas áreas da governação fazem parte da construção de um projeto de ação centrado na Justiça Social, enquanto equidade, distribuição de capacidades e reconhecimento.

No campo específico da Ciência, nos planos europeu e nacional, verifica-se uma marcada marginalização das Ciências Sociais, Artes e Humanidades (CSAH) nos domínios da definição das prioridades estratégicas e do financiamento, estando mesmo em risco a sua presença e autonomia em programas estratégicos como o próximo Programa Quadro 9 – Horizonte Europa. As Ciências da Educação, que fazem parte desta comunidade mais vasta das CSAH, há muito que vivem essa marginalização, materializada nos concursos europeus e nas políticas nacionais da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT).  

Parece haver a ilusão de que as sociedades – e os sistemas de educação e formação – não têm história (e memória) e que têm de estar sempre sujeitas a processos de reescrita do presente. As Ciências Sociais (entre as quais as Ciências da Educação), as Artes e as Humanidades são fundamentais para a compreensão dos desafios do presente. Mas, para isso, é necessário reconhecer a sua especificidade na compreensão das heranças políticas, sociais, culturais, educativas e religiosas do passado e na capacidade de apresentar inéditos viáveis na construção de sociedades mais justas e pacíficas. 

*Diretor do Instituto de Educação da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Lisboa. 

Contacto: a.teodoro@ulusofona.pt