O reforço das urnas isola os radicais

A extrema-direita prepara-se para o próximo grande embate eleitoral na Europa e a violência cresce à medida da retórica.  

A extrema-direita europeia tem vindo a estreitar relações a pensar na próxima grande batalha eleitoral: as eleições europeias de maio de 2019. No centro das novas movimentações está Matteo Salvini, líder da Liga e ministro do Interior italiano. Tornou-se num dos líderes mais próximos de Marine Le Pen, líder da União Nacional francesa, estabeleceu uma frente antimigração com Viktor Orbán, o primeiro-ministro húngaro, e, agora, aliou-se a Steve Bannon, ex-estratega da vitória de Donald Trump nas presidenciais de 2016 e fundador do The Movement. Alianças que pretendem reforçar o peso das ideias que os partidos de extrema-direita partilham e cuja mensagem ganha força se se unirem dentro do espaço da UE.

E que ideias são essas? «Serão, sem dúvida, fronteiras, soberania, combater o islamismo radical e limitações à imigração», diz Mischaël Modrikamen, advogado belga e sócio de Bannon no The Movement, em entrevista à Vice News. «Sabemos que estes quatro assuntos têm o acordo de todos, de norte a sul e de leste a oeste», acrescentou.

Se a extrema-direita se está a organizar a nível europeu, há muito que na política doméstica conseguiu deslocar as suas ideias e narrativas marginalizadas para o centro do debate. Banalizaram-se os discursos de ódio e de medo, as sucessivas discriminações com base na nacionalidade, religião ou cor de pele e fecharam-se fronteiras e portos a quem fugia da guerra por terra e por mar. 

As fileiras dos partidos aumentaram com as vitórias eleitorais, mas para conquistarem o eleitorado mais conservador, alguns, como a então Frente Nacional francesa e o Alternativa para a Alemanha, afastaram militantes mais extremistas. Isolados, esses militantes  continuaram a defender as suas ideias e discursos. Criaram organizações e mantiveram-se na área de influência dessas forças, ainda que lhe sejam críticos. 

Alguns não veem alternativa à alegada invasão da Europa por imigrantes e aderem à violência. «Os que levam a cabo atos violentos tendem a ser críticos de grupos de maior dimensão por parecerem não ser suficientes, as organizações maiores são cruciais para desenvolver uma cultura sustentada de extremismo», explica Paul Jackson, da Searchlight. Aos porta-vozes dos partidos de extrema-direita cabe desvalorizar os seus atos, desculpando-os implicitamente. 

Foi o que o AfD fez  depois das perseguições em Chemnitz, no leste da Alemanha. «Em vez de condenar fortemente os ataques fatais à faca e agir contra eles com todo o empenho, em palavras e ações, só se fala sobre supostas ‘perseguições’», reagiu então a bancada parlamentar. «O AfD legitima as queixas das pessoas e amplifica a raiva e ira que sentem. Isso pode acabar por encorajar as pessoas com visões de direita a recorrerem à violência», diz Marcel Dirsus, do think thank Fundação Konrad Adenaur.