Brexit: para May é a semana do vai ou racha

O Parlamento britânico discute se aceita ou não o Acordo de Saída do Reino Unido da UE.

A primeira-ministra britânica e líder do Partido Conservador, Theresa May, está cada vez mais isolada. Não apenas no Parlamento, mas também dentro do seu próprio partido: mais de metade (64%) dos militantes rejeitam o acordo por si negociado com Bruxelas e defendem que o melhor cenário é uma saída do Reino Unido da União Europeia sem acordo, segundo uma sondagem do Economic and Social Research Council. Apenas 29% dos militantes inquiridos defendem que a melhor solução é a aprovação do acordo na Câmara dos Comuns. Os deputados começam a discutir na segunda-feira o acordo e a votação no Parlamento está prevista para o dia 15. 

«Parece que as fileiras conservadoras estão convencidas que um cenário sem acordo é melhor que o acordo de May», disse Tim Bale, responsável pela sondagem, ao Guardian. «Em resumo, a senhora May falhou não apenas em convencer o país, e provavelmente o Parlamento, de que o seu acordo para o Brexit é bom, como também falhou em convencer os membros do partido». A questão da salvaguarda da fronteira com a Irlanda é o principal motivo para a queda abrupta do apoio a May, explicou Bale.

A líder britânica tem aguentado sucessivos golpes, com demissões e moções de confiança entre as suas próprias fileiras, mas a votação do acordo é sem dúvida o maior desafio à sua liderança. Tanto pode levar à realização de um segundo referendo  como a uma saída sem acordo ou até mesmo à queda do Executivo. Nos últimos dois cenários, o Partido Unionista Democrático, o parceiro minoritário na coligação de May, é fundamental e a sua posição sobre o acordo é antagónica à de May.

Na sexta-feira, o porta-voz do DUP, Sammy Wilson, garantiu que o partido não irá apoiar o acordo na Câmara dos Comuns: «Não é apenas por causa das regulações a que a Irlanda do Norte ficaria sujeita com a salvaguarda, mas também o facto de termos de tratar o resto do Reino Unido como país terceiro. Não participaríamos em qualquer acordo comercial em que o Reino Unido pudesse entrar no futuro e descobriríamos uma fronteira no Mar da Irlanda que impediria o comércio com o nosso maior parceiro comercial, o Reino Unido». 

Em conjunto, os dois partidos têm no Parlamento 325 deputados, mas com tantas divisões o mais provável é o acordo não ser aprovado. May precisa que 318 deputados (em 650) votem a seu favor – sete deputados do Sinn Fein recusam sentar-se no Parlamento, quatro integram a mesa do órgão legislativo e outros quatro estão encarregues de contar os votos. Se o acordo for rejeitado, o Governo terá um prazo de 21 dias para anunciar os próximos passos. Recorde-se que o Executivo tem dito que não há tempo para renegociar um novo acordo até à data de saída da UE, a 29 de março.
Sem o apoio do DUP e com fortes divisões dentro do seu partido, não restam alternativas a May. Os Democratas Liberais sempre se opuseram ao acordo, enquanto o Partido Nacional Escocês é contrário à saída do país da UE, exigindo um segundo referendo ou, na pior das hipóteses, um acordo com Bruxelas nos moldes do da Noruega – que não é um Estado-membro, mas está no mercado único. Por fim, o Partido Trabalhista, de Jeremy Corbyn, sempre manteve uma posição dúbia, fazendo da convocação de eleições antecipadas o seu objetivo e, se não for isso, quer manter todas as opções em cima da mesa, incluindo a de um segundo referendo. 

Todavia, a indefinição do partido começa a ser intolerável entre os seus militantes, com aumento daqueles que exigem a tomada de posição a favor de um segundo referendo. Em resposta às pressões, Corbyn reafirmou a linha do partido, recusou avançar para um segundo referendo antes da votação e exigiu o regresso de May a Bruxelas para reabrir as renegociações. «Vamos votar contra o acordo de Theresa May e nessa altura ela deve voltar a Bruxelas e dizer: ‘Isto não é aceitável para o Reino Unido’ e renegociar a união aduaneira, formando uma que garanta o comércio com a UE», disse Corbyn. 

Os desejos do líder trabalhista esbarram nas já conhecidas posições europeias. Depois de ter retirado o acordo de votação na Câmara dos Comuns, por saber que iria sofrer uma pesada derrota, May fez um périplo pelas principais capitais europeias para reabrir as negociações sobre a salvaguarda da fronteira irlandesa. Os líderes europeus recusaram, tanto em  declarações individuais como coletivas, como aconteceu na cimeira europeia de 14 de dezembro. A única concessão foi a do Presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, ao garantir que existe «margem de manobra, se usada de forma inteligente» para se «clarificar e interpretar o acordo». Posição ambígua que não satisfez May.