O despertar da xenofobia

Os portugueses no Reino Unido estão preocupados com o que aí vem, não só pelo custo de vida que está a aumentar, sobretudo pela discriminação.

«O Brexit trouxe ao de cima sentimentos xenófobos e racistas», conta Pedro Xavier, e passou a ser «sinónimo de repressão», nomeadamente contra a comunidade polaca que é quem mais tem sentido na pele a discriminação. O sargento especial da Scotland Yard, empresário, membro do consultivo do consulado português em Londres fala em «insatisfação enorme» com a situação que está a afetar e muito a economia do país: «O valor do imobiliário teve uma redução de 15%, só em Londres» e os preços dos bens de primeira necessidade aumentaram uns 20%.

«De certa maneira, os migrantes europeus eram a exceção a este cerco que já está em crescendo desde há uma década», conta Raquel Ribeiro, professora universitária em Edimburgo, essa «sensação de excecionalidade» é a que se perdeu depois do referendo de 2016 em que os britânicos se decidiram pela saída da União Europeia. Agora «a retórica de ódio aos imigrantes» é para todos os estrangeiros, diz.

Cláudia Belchior, assistente social, explica que desde o referendo, «nos refúgios, já não aceitam mulheres europeias», que são consideradas «um peso» para o Estado. «Não vou dizer que não somos bem vindos cá, mas há alguma reticência», refere, por seu lado, Carlos Barbosa – «têm a ideia que vimos para tirar-lhes o trabalho», acrescenta o empregado de mesa.

 «Sente-se mais pressão para explicar o que fazemos aqui, se trabalhamos, se temos residência, seja ao entrar no país, seja quando, no banco ou noutra instituição, se pedem documentos e se apresenta um cartão europeu de identidade», refere Raquel Ribeiro. «Ultimamente vem sempre a pergunta: e tem autorização de residência?», acrescenta.

Estejam há mais tempo ou há menos tempo, nota-se o receio entre os portugueses que falaram com o i e o SOL. «Acho que ninguém sabe bem ao certo as implicações que vai ter», confessa Mariana Costa, que voltou para Londres em 2016 e trabalha como guia em museus.

«A informação prestada pelas autoridades britânicas é, infelizmente, ambígua, no sentido dos direitos dos cidadãos», refere Pedro Xavier, e «o nosso Governo também não ajuda, pois elaborou um plano de contingência sem conteúdo específico para as necessidades sentidas pela comunidade portuguesa», acrescenta o consultor que é presidente da comissão política do PSD no Reino Unido.

A falta de informação parece generalizada, de acordo com os portugueses com quem falamos e a incerteza é substancial. «Tanto os que votaram para ficar como para deixar a UE estão mal informados», explica Raquel Ribeiro. «Se já não estavam bem informados sobre a UE antes do referendo, as informações contraditórias e especulativas dos últimos dois anos têm sido piores, adianta.

 «Como um dos líderes da comunidade», Augusto Nunes, membro do conselho consultivo do consulado português em Londres, tenta «passar a mensagem que não vai haver muitas mudanças», apenas burocráticas. Quem vive há mais de cinco anos tem de pedir a residência permanente, quem vive há menos de cinco anos, terá de solicitar a autorização provisória.

Lina Peries diz que no St. George’s Hospital, onde trabalha há 16 anos, a administração decidiu pagar os custos (65 libras, quase 74 euros) do pedido de residência a todos os seus funcionários oriundos da UE. Apesar de casada com um britânico e de viver há mais de 30 anos no Reino Unido, Lina Peries explica que vai manter as suas «opções em aberto até ver»