Piruetas do Brexit empurram cada vez mais empresas para fora do Reino Unido

Nissan juntou-se ontem à lista de gigantes que desistiram de investir em território britânico. X-Trail SUV vai ser produzido no Japão

A Nissan fazia parte da lista de empresas que tinham o Reino Unido nos planos dos grandes investimentos. A ideia desta fabricantes de automóveis era produzir o modelo X-Trail SUV em território britânico. No entanto, à semelhança do que tem estado a acontecer com outros setores de atividade, os receios por causa do Brexit ditaram uma mudança de estratégia e a empresa voltou atrás na decisão. 

De acordo com a Agência France-Presse, a posição oficial foi tomada este domingo. Uma nota enviada aos trabalhadores britânicos dava conta da decisão de fabricar o modelo no Japão.  

De acordo com a Reuters, uma das consequências mais imediatas diz respeito ao número de trabalhadores afetados: cerca de 7 mil trabalhadores da fábrica localizada em Sunderland.

A Nissan vem assim juntar-se a outras empresas que tomaram uma decisão neste mesmo sentido. Panasonic e Sony já tinham engrossado a lista de companhias com esta intenção.  

A fuga de alguns investimentos já tinha sido prevista por vários especialistas, mas a falta de consenso político quanto à forma como a saída acontecerá tem estado a atrasar muito o processo e a afastar cada vez mais empresários. 

Há poucos dias, uma nova sondagem, elaborada pelo Institute of Directors (IoD), mostrava que uma em cada três empresas britânicas queria deixar o Reino Unido. A IoD, que agrupa diretores de cerca de 30 mil empresas britânicas, afirmou mesmo que 29% das empresas acredita que a saída do Reino Unido da União Europeia (UE) supõe um “risco significativo” para as suas operações no país.

A complicar todo o cenário está facto de muitas já o terem feito. De acordo com a referida análise, 11% das empresas já mudou os escritórios para outros países europeus.

Entre as que já realizaram a mudança ou parte dela estão grandes empresas como a Sony. As médias e grandes têm estado agora a seguir-lhes as pegadas. No entanto, esta realidade não é novidade para os especialistas que estimaram, desde o primeiro momento, que o Reino Unido acabaria por perder. 

Os estudos feitos com estimativas de custos, perdas e ganhos sucederam-se. As opiniões continuaram divididas, mas ninguém pode negar os sérios avisos feitos por muitos.

O pioneiro setor da banca Apesar de serem várias as empresas que agora anunciam mudanças na estratégia, existem setores que há muito garantiam deixar Londres para trás. Um deles sempre foi a banca. Em maio de 2017, uma análise sobre o impacto do Brexit revelava que a saída do Reino Unido da União Europeia iria significar a perda de 9 mil empregos na área da banca.

Estima-se então que alguns bancos com atividade na City de Londres deslocassem trabalhadores. Instituições como a Goldman Sachs e o JP Morgan foram das primeiras a anunciar planos para o pós-Brexit. Um outro estudo, da seguradora de crédito Solunion, já tinha, nesta altura, determinado que a saída do Reino Unido da União Europeia ia trazer, entre 2017 e 2021, perdas de milhões aos países da Zona Euro. Em questão estava o facto de as economias estarem perto de um cenário que implicava a perda de cerca de 24 600 milhões de euros só em exportações de bens, aos quais se somavam perdas na ordem dos 5 500 em exportações de serviços.