Super Bowl. Brady e os Patriots são mesmo os donos daquilo tudo

Na final com menos pontos de sempre, os “velhinhos” de Massachussets bateram os Rams por 13-3 e conquistaram o sexto troféu, igualando o recorde dos Pittsburgh Steelers

É fatal como o destino: a cada ano, no primeiro domingo de fevereiro, é conhecido o campeão da NFL, a modalidade conhecida por todo o mundo como futebol americano. E, regra geral, com um denominador comum: Tom Brady. Aos 41 anos e 183 dias, o lendário quarterback conquistou a sexta Super Bowl da sua carreira (em nove aparições), tornando-se o jogador com mais vitórias de sempre e também o mais velho a vencer o troféu – tal como o técnico Bill Belichik, de 66 anos. Do outro lado, Sean McVay, de apenas 32 anos (o mais jovem treinador de sempre na Super Bowl), terá de procurar outra oportunidade para ser feliz.

A finalíssima deste domingo, a 53.ª da história, foi mesmo aquela com menor número de pontos de sempre, destronando a decisão de 1973, quando os Miami Dolphins venceram os Washington Redskins por 14-7. Desta feita, os New England Patriots baterem os Los Angeles Rams por 13-3, obtendo o sexto troféu do seu historial e igualando assim o recorde de seis títulos dos Pittsburgh Steelers.

Brady até nem começou particularmente inspirado, permitindo logo a abrir uma interceção. Os Rams, todavia, começavam aí um festival de desinspiração ofensiva, principalmente para Jared Goff, numa partida marcada pela supremacia das defesas. Julian Edelman, um wide receiver que começou a carreira como quarterback, acabou por ser eleito MVP (Jogador Mais Valioso), depois de conseguir dez receções para um total de 141 jardas, mais oito em corrida.

 

Brady assumiu quando foi preciso Ao intervalo, os Patriots venciam por 3-0. Depois da atuação da banda de Los Angeles Maroon 5 – que viria a ser bastante criticada, em especial pela falta de um gesto ou palavra para com Colin Kaepernick, o atleta que deu origem ao movimento de revolta dos jogadores afroamericanos para com a brutalidade policial (depois redirecionado contra Donald Trump) -, a partida foi retomada e um pontapé de Greg Zuerlein empatou o jogo. Acabava o terceiro período, pela primeira vez na história sem qualquer touchdown e com apenas seis pontos no marcador – mínimo histórico.

Nos últimos 15 minutos, um drive daqueles que fizeram de Tom Brady um dos maiores jogadores da história catapultou os New England para a vitória final, com um passe magistral para Gronkowski. Sony Michel não desperdiçou, no que foi o único touchdown da partida. De novo com a bola, depois de mais uma perda de Goff, Brady foi avançando no relvado e controlando o tempo enquanto alternava passes com corridas, acabando por proporcionar mais um pontapé a Gronkowski, que a 41 jardas dos postes não perdoou: 13-3 e a vitória final, numa reedição da edição de 2002, então ganha pelos Patriots por 20-17, naquela que foi a primeira Super Bowl conquistada por Brady (MVP desse encontro, feito que repetiu em 2004, 2015 e 2017).

Brady, de resto, voltou a frisar, tal como já havia feito antes do jogo, não ter quaisquer planos para “pendurar as botas”. O marido da supermodelo brasileira Gisele Bündchen iniciou-se em 2000, sendo apenas a 199.ª escolha do draft, e no espaço de quase duas décadas mudou a história dos Patriots. Na época passada, caiu na final perante os Philadelphia Eagles; desta feita, e apesar de pela primeira vez não ter feito qualquer passe para touchdown numa Super Bowl, reencontrou a glória e nem quer ouvir falar de reforma. “Criei o objetivo de continuar até aos 45 anos. Sei o quanto foi difícil chegar aqui e o que é necessário para que isso aconteça”, reiterou.

 

Milhões e mais milhões A Super Bowl é uma das grandes atrações do desporto norte-americano, prendendo dezenas de milhões de pessoas aos ecrãs e gerando muitos e muitos milhões de dólares, e a edição deste ano não foi exceção. Em média, as marcas e empresas multinacionais pagam 5,2 milhões de dólares (cerca de 4,5 milhões de euros) à CBS, cadeia televisiva que transmite o jogo, por um anúncio de 30 segundos nos 15 minutos de intervalo da final da NFL – a Audi até comprou 60.

Os bilhetes para a finalíssima no impressionante Mercedes Benz-Stadium, em Atlanta, Georgia (o segundo estádio mais caro do mundo, orçado em 1,5 mil milhões de dólares e com capacidade para 70 mil espetadores), ascendiam aos milhares de euros. E aos milhões chegaram as perdas de um apostador anónimo, que cheio de fé depositou 3,8 milhões de dólares (cerca de 3,3 milhões de euros) em três casinos de Las Vegas na vitória dos Los Angeles Rams. De acordo com a imprensa norte-americana, este indivíduo – designado por Bettor X – ganhara há um ano cerca de dez milhões de euros ao apostar na vitória dos Philadelphia Eagles, precisamente sobre os New England Patriots. Desta feita, a aposta milionária poderia ter-lhe rendido lucros de 4,5 milhões de dólares (€3,9M)… mas a sorte não bateu à porta uma segunda vez.

O futebol americano, refira-se, é rei apenas nos Estados Unidos. No resto do globo, é um desporto ainda acolhido com alguma desconfiança, seja pelas regras ou simplesmente pelo facto de se chamar… futebol. Como frisou Ronaldo, o antigo avançado brasileiro, numa publicação divertida nas redes sociais que acabou por espoletar críticas de muitos norte-americanos. “Alguém pode me explicar por que chamam esse esporte de futebol se isso não é uma bola e não jogam com o pé?”, escreveu o Fenómeno, acompanhando o post com uma fotografia onde segurava uma bola de futebol americano e com a legenda “#futebolSQN”, sendo o SQN uma abreviatura para “só que não”. De imediato surgiram também publicações antigas de Wayne Rooney no Twitter, onde o internacional inglês – hoje a jogar futebol… nos Estados Unidos – dizia coisas como “Como é que podem chamar a isto futebol? É como ficar a ver tinta a secar. Ansioso para ver os anúncios e a música”.

Apesar do ceticismo, a modalidade também já vai granjeando muitos adeptos e até atores do “outro futebol”. Vários foram os atletas a parabenizar os Patriots e Tom Brady em especial, com destaque para Pelé ou Neymar.