França-Itália. Construção de linha férrea nos Alpes aumenta tensão diplomática

Ministro italiano diz que construção de ligação de comboio é um desperdício de dinheiro público 

A tensão entre França e Itália ganhou um novo elemento, com o governo italiano a dizer que a ligação ferroviária entre os dois países através dos Alpes, cuja construção já começou, é um desperdício enorme de dinheiro. O ministro dos Transportes italiano, Danilo Toninelli, encomendou um estudo sobre o projeto a um painel de especialistas que chegou à conclusão, num relatório de 79 páginas ontem divulgado, que o retorno económico da linha é negativo, com perdas que podem alcançar entre 7 e 7,8 mil milhões de euros.

“Como toda a gente pode ver, os números desta análise económica e de transporte são extremamente negativos”, afirmou o ministro que, entre outros fatores, apontou a diminuição nas receitas fiscais do Estado em impostos sobre os combustíveis devido à escolha do transporte ferroviário em detrimento do automóvel.

Toninelli, que pertence ao Movimento 5 Estrelas (M5S, principal partido da coligação governamental), acrescentou que cabe agora ao executivo italiano decidir se continua envolvido na construção da linha entre Lyon e Turim.

A Liga, o outro partido do governo em Itália, considera o projeto vital para a economia italiana, muito baseada em exportações. “A análise de custo-benefício não é a Bíblia”, afirmou à Sky Italia o líder da bancada parlamentar da Liga, Ricardo Molinari. Para o deputado, se os dois partidos não conseguirem chegar a um consenso, então “a palavra final deve ser dos cidadãos”, através de um referendo.

A França congelou os novos contratos do projeto em dezembro à espera do estudo de custo-benefício encomendado por Roma, e a sua ministra dos Transportes, Elisabeth Borne, referiu esta terça-feira que Paris continua empenhada no projeto.

Mas a posição do M5S é capaz de trazer ainda mais achas para a fogueira de uma relação deteriorada que na semana passada levou o presidente Emmanuel Macron a chamar o embaixador em Itália para consultas, depois de Luigi Di Maio, o líder do M5S, ter recebido uma delegação dos coletes amarelos, naquilo que o governo francês considerou uma interferência nos seus assuntos internos.

Di Maio procura recuperar a popularidade do seu partido, que está em queda nas sondagens, suplantado pela Liga, e um enfrentamento sobre gastos públicos excessivos e obras faraónicas parece capaz de agradar ao seu eleitorado.