A Procuradoria-Geral da República (PGR) confirmou esta sexta-feira que está a investigar a venda do Pavilhão Atlântico a Luís Montez, genro de Cavaco Silva.
«Confirma-se a existência de um inquérito, o qual se encontra em investigação», disse a PGR à Sábado. O SOL sabe que na base deste inquérito estão escutas e outra documentação pedida à Operação Monte Branco – a maior rede de fraude fiscal e branqueamento de capital que operou em Portugal.
Tal como o SOL avançou no verão de 2017, Luís Montez foi considerado por pessoas próximas de José Sócrates e Ricardo Salgado como uma peça importante na luta política, na medida em que podia funcionar como ‘chantagem’ para condicionar o então Presidente Cavaco Silva.
Nas escutas do processo Face Oculta figuram conversas que não deixam margem para dúvidas. Numa delas, Paulo Penedos e Rui Pedro Soares – dois dos homens próximos de Sócrates que o MP suspeitava estarem por detrás do plano para controlar o grupo proprietário da TVI – falaram do assunto em termos inequívocos. Ao ter conhecimento da tentativa de envolver Luís Montez no negócio da Media Capital (de que a TVI fazia parte) para ficar com as rádios do grupo, Paulo Penedos pergunta malevolamente ao telefone a Rui Pedro Soares: «És tu o autor desta patifaria?». Ao que outro, sem responder diretamente à pergunta, adianta: «É o preço pela paz. Esse cala-se logo, fica a cuidar dos netos».
Mais tarde, em 2012, Ricardo Salgado ajudará Luís Montez a comprar o Meo Arena, metendo uma ‘cunha’ a Zeinal Bava, líder executivo da Portugal Telecom, hoje arguido na Operação Marquês, explicou o SOL em 2017.
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Escutas telefónicas realizadas pelo Ministério Público no âmbito da daquela Operação revelaram conversas entre Luís Valadas, diretor executivo do antigo BESI (atual Haitong) e Ricardo Salgado, que demonstram que este foi fundamental para conseguir de Zeinal Bava uma ajuda sem a qual o negócio não se efetivaria.
«Sem o naming da PT, não há operação», diz Valadas a Salgado. O ‘contrato de naming da PT’ previa que esta entrasse com 12 milhões de euros repartidos por 10 anos. Mas Zeinal está incontactável.
Seis horas depois, já à tardinha, Ricardo Salgado informa Valadas que conseguiu contactar o líder da PT e que este se comprometeu a ligar-lhe daí a pouco. Mas foi logo avisando que o via «com pouca vontade» de celebrar esse contrato, pois na PT estavam «a cortar os custos». Luís Valadas faz-lhe ver que a operadora é «a principal fonte de financiamento» do negócio, e até dá como exemplo o patrocínio da Unicer, que não vai além dos 200 mil euros. A diferença é de 12 milhões para 200 mil…
Faltavam 3 segundos para as 20h00 quando Zeinal liga de volta a Salgado, dizendo: «Isto não faz parte dos nossos planos… Só fazemos isto por ser importante para o BES. Mas só fazemos um milhão a 10 anos, com as contrapartidas que falaram nas reuniões». Mal este desliga, Salgado informa Valadas: «Um milhão está confirmado. Disse que para eles não é uma prioridade, fazem isto por atender ao BES».
A venda de património da Parque Expo, empresa pública que, na altura, tinha uma dívida de 200 milhões de euros, foi decidida pelo Governo de Passos Coelho. A tutela da empresa pertencia à atual líder do CDS, Assunção Cristas – então ministra da Agricultura e do Mar –, que avançou com a venda do Pavilhão Atlântico.
Luís Montez ganhou o concurso em julho de 2012, comprando o emblemático edifício por 21,2 milhões de euros, metade do que o Estado gastara na sua construção.
Cristas explicou que o caderno de encargos exigia que as propostas promovessem a «estabilidade da gestão do imóvel» e preservassem «a vocação de sala de espetáculos com uma programação ativa, relevante e diversificada», para que a infraestrutura fosse «um polo dinamizador da economia local e nacional». «O critério que nos permitiu fazer melhor seriação e desempate foi o da maximização do encaixe financeiro», afirmou.
A história da compra do Pavilhão Atlântico já tinha sido avançada pelo Semanário SOL em 2017 . Apesar da TVI ter ilustrado a peça repetidamente com as páginas da notícia do semanário, nunca referiu o SOL nem a autoria dos jornalistas (Modernices!).