Luís Onofre vai ser o novo presidente da Confederação Europeia da Indústria de Calçado. Ainda que considere prematuro falar sobre um papel que ainda não assumiu, não esconde que a escolha é um motivo de «orgulho» para ele e para a própria indústria portuguesa.
À frente da Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado conta ao SOL que «temos muitos desafios pela frente, principalmente, num ano como este, até pelo Brexit ou pelo protecionismo norte-americano. Os últimos dois anos não foram fáceis, mas, mesmo assim, tivemos uma prestação positiva, conseguimos dar a volta. Este ano, vai ser ainda mais difícil».
Sobre a importância de conquistar os mercados externos e da necessidade de alcançar as metas que foram estabelecidas neste sentido, o designer português explica que «haver mercado é muito importante. As pessoas estão a retrair-se e assim o consumo desce. A moda é o que perde primeiro». E, por isso, defende que é preciso inverter esta tendência.
Ainda assim, importa referir o valor que tem o que é feito por cá e que sempre foi reconhecido fora de portas. «Acima de tudo, o made in Portugal é muito reconhecido. As campanhas têm sido excelentes e isso ajuda a que seja um setor muito forte. No entanto, é mais a nível geral do que particular (marcas específicas) e vamos ter de apostar nisso. Dois milhões – dos 18 milhões que vão ser investidos pelo setor – vão ser para isto. Os EUA são, por exemplo, um dos mercados onde estamos a apostar fortemente. A China, por outro lado, também tem vindo a ganhar importância».
A somar a todos os desafios que o setor tem de enfrentar e continuará a ter como grande pressão está a falta de mão de obra, por exemplo. De acordo com Luís Onofre, a mão de obra continua a ser uma questão: «Tem sido o calcanhar de Aquiles desta indústria. Há quem não aceite encomendas porque não as pode aceitar, não tem como as fazer. Acontece em mais indústrias».
Para resolver a situação, já foi pedido ao Governo que sejam tomadas medidas no sentido de proteger mais este setor em relação a este cenário. «Era bom que, nas cidades onde a indústria está mais presente, existam disciplinas ligadas ao setor. Até pode acontecer com outras indústrias que estejam mais presentes em determinados pontos. Esta última geração tem uma visão diferente sobre este negócio, é muito diferente da que existia antigamente. É bom pensarmos em apostar numa ligação que seja incentivada desde cedo».
Já numa entrevista dada há pouco tempo ao Dinheiro Vivo, Luís Onofre dava conta deste problema, apontando-o como um dos mais graves. «É um problema muito grande e que as alterações que o Governo introduziu ao nível das reformas antecipadas veio agravar. Falo por mim que tenho quatro ou cinco trabalhadores que se vão reformar, excelentes profissionais que me vão fazer muita falta. É muito difícil encontrar pessoas, principalmente jovens, que queiram vir para esta indústria, e não é pelo salário. O que eu não percebo quando vejo que ainda há 7% de desempregados em Portugal. Estamos em pleno défice de mão de obra especializada, uma tendência que, se se agravar, pode por em causa toda uma indústria», fez saber.