Legionella continua sem dar tréguas

O número de casos de legionella tem aumentado nos últimos anos. O último foco foi detetado no IPO de Lisboa, não havendo registo de pessoas infetadas pela bactéria

Legionella continua sem dar tréguas

Uma inspeção regular feita às instalações do Instituto Português de Oncologia (IPO), em Lisboa, detetou na última semana a presença de legionella. O conselho de administração do hospital foi de imediato avisado e, segundo informou João Oliveira, presidente do IPO, foram implementadas «as medidas de segurança necessárias». No entanto, João Oliveira afirmou, em declarações aos jornalistas, que «não há nenhum surto de legionelose [doença dos legionários] no IPO» e ainda que «não há nenhum doente infetado, nem com suspeita de infeção». 

Não existe, neste momento, motivo para alarme e o presidente da instituição garantiu que «não há qualquer risco para as pessoas internadas no IPO, nem para as pessoas que frequentam o IPO». 

O foco de legionella foi identificado nos exames feitos regularmente à água quente para verificar a presença de legionella. Depois de detetada a bactéria na água em dois dos 13 edifícios do IPO – onde decorrem neste momento obras – procedeu-se à colocação de filtros e foram realizados choques térmicos regulares, processos utilizados nestas circunstâncias. 

Esta é, aliás, uma das formas de propagação da bactéria. Por exemplo, para perceber se o doente está infetado com legionella, os médicos têm sempre em conta vários fatores de risco como tomar banho em banheiras de hidromassagem, ter estado em piscinas, ou em contacto com pessoas que tenham estado num dos sítios indicados e que também estejam com sintomas respiratórios. Estas situações aumentam as probabilidades de uma pessoa estar infetada com legionella e, na verdade, são muito comuns. João Oliveira referiu exatamente isso, dizendo que «as infeções por legionella são muito menos frequentes do que a presença da legionella, com a qual as pessoas lidam todos os dias, em edifícios públicos ou em casa».

Casos e números
Esta bactéria é responsável pela doença dos legionários, uma variante de pneumonia grave que começa normalmente com sintomas de gripe – tosse, febre, dores musculares, dor de cabeça e dificuldades respiratórias. No entanto, há casos em que a bactéria não é detetada, podendo ser tratada com recurso a antibióticos que abrangem diversas bactérias.  

O número de pessoas infetadas tem vindo a aumentar ao longo dos anos, sem esquecer o ano atípico de 2014, quando no Hospital de Vila Franca de Xira a legionella infetou mais de 400 pessoas, causando a morte a 12 – este caso foi o mais grave dos últimos anos. O surto teve início a 7 de novembro de 2014, mas só em 2017 é que o Ministério Público deduziu a acusação contra as empresas Adubos de Portugal, General Electric e outros sete arguidos por responsabilidades no surto. 

Há cinco anos, o surto de legionella afetou sobretudo as pessoas residentes nas freguesias de Vialonga, Póvoa de Santa Iria e Forte da Casa, mas o Ministério Público apenas apurou nexo de causalidade em 73 pessoas afetadas e em oito das 12 vítimas mortais. O processo está ainda em fase de instrução e, esta semana, as empresas constituídas arguidas tentaram um acordo com algumas das vítimas para evitar que o caso avance para julgamento. No entanto, o  dirigente da Associação de Apoio às Vítimas do Surto de Legionella de Vila Franca de Xira, Joaquim Perdigoto, explicou que a proposta foi recusada por não abranger todas as vítimas. 

O «Atlas de Vigilância de Doença Infecciosas» é claro e nunca foram registados tantos casos, tanto em Portugal, como na Europa, como nos últimos anos. Os últimos dados deste relatório, elaborado pelo Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças, são de 2017, ano em que Portugal registou 232 casos de legionella. São, no entanto, números muito abaixo quando comparados com outros países da Europa, como Espanha, que registou 1363, França,  com 1630 e Itália, com 2013. 

No ano passado, também um surto de doença teve inicio em janeiro – no Hospital CUF Descobertas – e terminou no mês de fevereiro do mesmo ano. Segundo os dados disponibilizados pela Direção-Geral de Saúde (DGS), desde 27 de janeiro do ano passado até 8 de fevereiro, foram confirmados 15 casos de doença dos Legionários. A bactéria infetou um maior número de pessoas com idades entre os 50 e os 69 anos, sendo que duas delas ficaram internadas nas Unidades de Cuidados Intensivos. Na altura, a DGS garantiu que «foi iniciada, de imediato, uma investigação epidemológica e ambiental com o objetivo de detetar as possíveis fontes de infeção». 

À semelhança do caso do IPO de Lisboa registado esta semana, que não infetou nenhuma pessoa, também no Hospital de S. João, no Porto, – em outubro do ano passado – uma análise à qualidade da água detetou a presença de legionella em alguns pontos de água do serviço de obstetrícia. É um dos casos mais recentes, sendo que também não existiu qualquer caso de doença em utentes ou profissionais.