A Prisa anunciou esta semana a compra de 25% da editora Santillana, numa operação que levou o grupo espanhol a acelerar o negócio de venda da Media Capital, detentora da TVI. Há cerca de um mês, a TV Record (da IURD) e a Cofina (detentora do Correio da Manhã e da CMTV) negaram interesse na aquisição da estação de televisão de Queluz, mas o SOL sabe que o grupo espanhol está em fase de conclusão de um acordo de princípios com um grupo de investidores com ligações aos media em Portugal e no Brasil. O negócio, curiosamente, ascenderá a valores muito próximos do novo investimento que a Prisa fará na Santillana (sendo este de 315 milhões de euros).
Recorde-se que, depois de ter adquirido a Media Capital em 2005, o grupo espanhol chegou a ter um acordo fechado com a Altice para a venda da dona da TVI por cerca de 440 milhões de euros, mas o negócio acabou por esbarrar na demora das autorizações necessárias da Concorrência e de outras entidades reguladoras.
A compra da Santillana
A verdade é que a situação do grupo espanhol tem estado a mudar. O grupo anunciou esta semana que fez um acordo para adquirir mais 25% do grupo editorial Santillana por 315,5 milhões. Tendo em conta que a Santillana é líder em Espanha e na América Latina, o objectivo da Prisa é reforçar nesse segmento, que faturou em 2018 um total de 600 milhões de euros. No entanto, e mesmo tendo em conta a atual situação financeira da Prisa, esta operação não obriga à venda de ativos.
Ao SOL, Eduardo Silva, da XTB, explica que, «neste caso, optaram por novo aumento de capital com direito de aquisição preferente, ou seja, todos os acionistas poderão participar e 40% já estão assegurados. O grupo vai ainda usar dinheiro em caixa, que ainda tinha do último aumento de capital feito há um ano, de 565 milhões de euros, evitando assim ter de vender para pagar esta operação».
Porém, a venda de ativos é um cenário em cima da mesa, nomeadamente para abater o gigantesco passivo – e a dona da TVI é obviamente um dos principais atrativos, porque continua a apresentar resultados positivos. No ano passado, lucrou 21,6 milhões de euros, o que representou um aumento de 9% face a 2017.
Aquisição ambiciosa
Para Eduardo Silva, a aquisição que foi anunciada pelo grupo há três dias é «ambiciosa e é vista com bons olhos pela Amber Capital, dona de 27% da Prisa, e pelo Santander, que mantém 4,1%, assim como pela Telefónica, que detém 9,4%. O grupo está em fase de expansão e os acionistas, ao apoiar a operação, mostram que procuram exatamente este nível de ambição».
No entanto, não esconde que existem diversas formas de olhar para a questão da possível venda de ativos, nomeadamente, a Media Capital. «A dona da TVI é um dos ativos mais apetecíveis do grupo espanhol». Na opinião do analista, a operação anunciada esta semana pode mostrar «exatamente essa preocupação».
2017: credores fazem pressão
Recorde-se que, no verão de 2017, o El Confidencial avançava que a estratégia de salvação do grupo espanhol teria de passar pela venda da Media Capital. A alienação da dona da TVI era então avaliada em cerca de 450 milhões de euros.
De acordo com a publicação, os bancos HSBC e BNP Paribas, credores da Prisa, tinha contratado a instituição Houlihan Lokey: especialista em processos de resgate de empresas em situações de insolvência. A publicação espanhola insistia que a solução para livrar a Prisa de uma situação grave de incumprimento estava no país ao lado: Portugal. «A solução para garantir a viabilidade da Prisa passa pela venda da Media Capital, a sua filial portuguesa de televisão, e pela realização de um aumento de capital», escrevia o El Confidencial.
Com a venda, o grupo Prisa «poderia obter entre 400 e 450 milhões de euros, o que lhe permitiria a reduzir a dívida para entre mil e 1100 milhões de euros». No entanto, é de notar que, nesta altura, a posição da Prisa era especialmente complicada: A suspensão da venda do grupo Santillana deixava a administração, que tinha de resolver o problema da dívida, numa situação frágil perante os credores.
De acordo com as notícias avançadas em Espanha esta semana, o grupo perdeu, em 2018, 269,3 milhões de euros, mais do dobro do ano anterior: 102,6 milhões.
O SOL tentou, sem sucesso, contactar a Media Capital e a Prisa.