“Pai acompanhou todo o processo e está com o filho desde o parto”

Filho de Catarina Sequeira, a jovem de 26 anos que foi mantida ligada às máquinas em morte cerebral, nasceu esta madrugada

Salvador nasceu com 1700 gramas e 40 centímetros e tem um quadro favorável. Vai permanecer internado no serviço de neonatologia do Centro Hospitalar Universitário de São João, no Porto. A equipa responsável pelo parto deu esta manhã algumas informações sobre aquele que é o segundo caso de uma gestação com a mãe em morte cerebral no país. Catarina Sequeira, uma jovem de 26 anos, não resistiu a uma crise de asma. Estava grávida do primeiro filho e, declarada a morte cerebral no dia 26 de dezembro, foi mantida ligada às máquinas em suporte artificial de vida de forma a permitir o desenvolvimento do bebé.

A equipa do hospital informou que a gestação foi levada até às 31 semanas e seis dias. O parto estava planeado para esta sexta-feira uma vez que se iriam completar as 32 semanas, "a barreira entre o prematuro e o moderadamente prematuro", explicaram os médicos. Esta madrugada, a cesariana teve de ser realizada de urgência, visto que foram detetadas alterações nos sinais vitais do bebé. 

O hospital de S. João esclareceu que Catarina foi transferida para o hospital já depois de ter sido declarada a morte cerebral, na sequência de um ataque de asma agudo com hipoxia grave (privação de oxigénio), não tendo sido possível a reanimação. Permaneceu ligada às máquinas desde dia 27 de dezembro, tendo sido transferida para o Hospital de S. João há 56 dias.

Filipe Almeida, o médico que dirige a comissão de ética e o serviço de humanização do Hospital de S. João, disse que a decisão de prosseguir a gestação mesmo sendo irreversível a situação da mãe foi, desde o início, apoiada pela família. "Apesar de tudo conseguiu-se aquilo que era o objetivo primordial, levar esta gravidez tão longe quanto possível perante uma ponderação de riscos aceitáveis", afirmou o médico.

Filipe Almeida sublinhou que o pai tem acompanhado o caso desde o início, sendo o "responsável direto e único" pela criança e tem contado com o acompanhamento da família materna. O caso de Lourenço Salvador, que nasceu em 2016 em circunstâncias idênticas no Hospital de S. José, dá confiança à equipa num desenvolvimento normal do bebé, havendo riscos inerentes à prematuridade.

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