No início do ano, o Palacete Viscondes de Valmor, número 38 da Avenida da República, em Lisboa, esteve em obras. Dois meses depois abriu como guest house e sem que qualquer projeto tivesse sido entregue à Direção-Geral do Património Cultural (DGPC).
Tal como tinha noticiado o SOL em fevereiro, estavam a ser feitas modificações no interior do imóvel sem qualquer licença para obras afixada à entrada, como acontecia, por exemplo, no edifício contíguo.
Agora, o Prémio Valmor chama-se Dear Hotels, está completamente renovado e, nele, uma noite pode chegar aos 200 euros, segundo o site da empresa. Contactada pelo SOL, a DGPC confirma «que não houve qualquer nova entrada na DGPC sobre o palacete em assunto». Ainda de acordo com a entidade que gere o património nacional, «os processos de obras para o Palacete Viscondes de Valmor correspondem a projetos bastante antigos».
Em fevereiro, a DGPC havia referido ao SOL não existir «qualquer intenção de trabalhos de reabilitação no referido imóvel classificado», situação que se mantém, apesar de efetivamente terem sido feitas obras – situação agora evidenciada pela renovação do espaço. Confrontada, a autarquia de Lisboa não enviou qualquer resposta até ao fecho desta edição.
O Prémio Valmor foi atribuído ao Palacete Viscondes de Valmor em 1906 pela conjugação de «elementos neorromânticos, neoclássicos, de Arte Nova, para além de fazer alusão ao padrão da Casa Portuguesa», segundo consta no site da Câmara Municipal de Lisboa (CML). Além disso, sendo também classificado como Imóvel de Interesse Público – em 1977 –, é obrigatório que seja submetido um projeto de conservação à CML para aprovação quer pela câmara municipal, quer pela Direção-Geral do Património Cultural.
Como também já tinha sido noticiado, o SOL questionou a autarquia de Lisboa no dia 18 de janeiro sobre se tinha conhecimento de que as obras estavam em curso, tendo o município, a 21 de janeiro, intimado «os proprietários do Palacete Viscondes de Valmor (…) a realizar obras de conservação».
Ou seja, o ultimato da Câmara Municipal de Lisboa só foi enviado depois de as obras terem começado e, na altura, decorriam – também segundo a CML – «trabalhos de limpeza do logradouro, corte e desbaste de arvoredo, consolidação do muro que delimita a propriedade, reparação do respetivo gradeamento e substituição dos vidros partidos».
O Palacete Viscondes de Valmor foi projetado pelo arquiteto Miguel Ventura Terra e construído nos anos de 1905 e 1906. Já foi um edifício de habitação e, mais tarde, em 1983, albergou o Clube dos Empresários – um restaurante de luxo. Em 2007 ainda era o local de encontro dos empresários da cidade de Lisboa, conhecido como o sítio ideal para fazer negócio, mas foi encerrado pela ASAE por falta de condições. Abriu portas dias depois e voltou a encerrar até hoje, tendo agora uma nova vida, a de guest house.
O Prémio Valmor foi lançado em 1902 e fundido com o Prémio Municipal de Arquitetura em 1982, tendo já distinguido cerca de 70 edifícios e monumentos que representam o que de melhor se faz na capital em termos arquitetónicos. Os últimos prémios foram atribuídos este ano, referentes ao ano de 2017, ao arquiteto Aires Mateus, pelo edifício sede da EDP, e ao arquiteto Carrilho da Graça, pelo terminal de cruzeiros.
Além dos prémios foram também atribuídas quatro menções honrosas: a reabilitação do Palácio de Santa Catarina, da arquiteta Maria Teresa Magalhães Nunes da Ponte, a ampliação de um edifício de habitação em Alfama, do arquiteto Pedro Gameiro, a requalificação do Largo de Santos, do ateliê 92 Arquitetos e, por fim, o edifício Lisbon Stone Block, do arquiteto Alberto Souza Oliveira.