Brabazon. Vida e morte do elefante branco…

O maior avião do mundo não cabia estacionado num campo de futebol. Os cem passageiros que iam a bordo tinham direito a todos os confortos. Desde uma sala de cinema a 80 camas situadas na parte mais elevada do aparelho.

Nasceu para ser o Palácio dos Céus. Cem passageiros a bordo, envoltos no incrível luxo do conforto que só as nuvens sabem dar. Chamaram-lhe o Bristol Brabazon e voou, pela primeira vez, no dia 4 de Setembro de 1949. Depois de ter dedicado toda a sua indústria aérea à construção de aviões de combate, durante o período da II_Grande Guerra, o Governo britânico sentiu que precisava de recuperar o atraso enorme que levava em relação à produção de aeronaves de carreira. Há sempre nos ingleses uma tendência para o exagero. A Bristol Aeroplane Company avançou para um plano de concepção do maior avião de todos os tempos. O tenente-coronel John Theodore Cuthbert Moore-Brabazon, 1º Barão de Brabazon de Tara, ministro do Ar, seria honrado com atribuição do nome ao aparelho. Convenhamos que batia certo: tanto o nome de John Theodore como o avião eram infinitos.

Quando se entra por dentro do túnel dos números dentro do qual o projeto-Brabazon ficou entalado, deparamos com algo próprio de Brobindnag, o lugar em que Gulliver foi minúsculo: a fuselagem ia até aos 54 metros, cada asa tinha mais de 70 metros de comprimento. Basicamente, o Brabazon não podia ficar estacionado num campo de futebol. Para erguer o monstro no ar foram concebidos oito motores Bristol-Centaurus cada um deles capaz de gerar a potência de 2650 cavalos.

Há um vídeo curiosíssimo sobre o primeiro voo do Brabazon, uma viagem de 25 minutos, observado em terra por cerca de dez mil entusiasmados curiosos. As manchetes rebentaram num grito uníssono: «The queen of the skies, the largest land-plane ever built!». Orgulho da Inglaterra! Havia em tudo aquilo uma necessidade exibicionista que ultrapassava a mais simples das realidades. O corpo do aeroplano estava dividido em dois andares. No de cima, havia os lugares para os passageiros, a cozinha e a possibilidade de se subir um pouco mais para junto do teto onde se encontravam 80 beliches preparados para que quem quisesse pôr o sono em dia o fizesse sem mais delongas. No andar de baixo, os vestiários e quartos-de-banho. Como a preocupação principal estava focada no conforto, cada passageiro dispunha de 8 metros cúbicos de espaço próprio, havia um salão que podia albergar até 23 pessoas de cada vez, lugar ideal para uma bebida, um charuto ou um jogo de canasta. Ah! Claro! E uma sala de cinema.

Visto do exterior, o Brabazon era um gigantesco cilindro prateado que desafiava todas as teorias de Isaac Newton. Em 1952, os gastos com a construção do modelo atingiram os 3 milhões e 400 mil Libras estrelinas. Nenhuma companhia o comprou. Nem a própria BOAC (British Overseas Aircraft Company) se mostrava muito entusiasmada com os dois exemplares que possuía. A sua construção levantava problemas atrás de problemas no único hangar com capacidade para receber tamanho monstro, o do aeroporto de Bristol Flinton. Um esforço enorme para o tornar mais leve, utilizando outro tipo de materiais e de estruturas, revelou-se desastroso. Em julho do ano seguinte, Duncan Sandlys, ministro da Energia, anunciou na Câmara dos Comuns o fim do Brabazon. No cemitério dos elefantes, havia mais um elefante branco.