Caso Alcochete. MP Cândida Vilar mantém acusação de Bruno de Carvalho “na íntegra”

O atribulado debate instrutório terminou com uma expulsão da sala de audiências, uma repreensão a Bruno de Carvalho e pedidos de prisão domiciliária.

Decorreu ontem a sessão do debate instrutório do processo relativo ao ataque à Academia do Sporting, em Alcochete e, à semelhança do que aconteceu na semana passada, o dia foi agitado dentro da sala de audiências.

Bruno de Carvalho esteve presente no Campus de Justiça, em Lisboa, e chegou a ser repreendido pelo juiz de instrução criminal Carlos Delca. No período da manhã, enquanto a procuradora do Ministério Público Cândida Vilar falava, Carlos Delca avisou o antigo presidente do Sporting: “Você não veio aqui para conversar com ninguém”.

Ao final do dia, Cândida Vilar disse querer manter Bruno de Carvalho como arguido, justificando que se mantém a matéria de prova. Além disso, referiu a procuradora, Bruno de Carvalho não disse nada, durante as declarações, que a possa fazer mudar de ideias. A decisão criou tensão na sala e Cândida Vilar e Bruno de Carvalho trocaram ainda algumas palavras menos simpáticas.

Os incidentes não se ficaram pelo antigo presidente do Sporting e, depois de Carlos Delca ter avisado Nuno Mendes, antigo líder da claque Juventude Leonina, para não interromper a procuradora, o juiz de instrução criminal alertou também Elton Camará – arguido em prisão preventiva. “Quer ir embora? Então fique aí sossegado”, disse o juiz.

Mais tarde, Elton Camará acabou por ser expulso da sala de audiências. Cândida Vilar pediu a manutenção da prisão preventiva para este arguido, considerando que Elton Camará “podia ter demonstrado outra atitude” e que é um dos membros mais perigosos do grupo.

O Ministério Público pediu a medida de prisão domiciliária para vários arguidos do processo, incluindo o arguido Bruno Jacinto – que fazia a ligação entre os adeptos e o clube leonino e intermediava as relações entre as claques e a direção.

 

Novas provas

A procuradora Cândida Vilar mostrou durante o debate instrutório novas provas que pretende juntar ao processo. Nas novas provas – recebidas depois de deduzida a acusação – estavam incluídas conversas no WhatsApp entre os arguidos que falavam em agressões a jogadores como Acuña.

Quanto às novas provas, os advogados de defesa contestaram desde o início, alegando que as provas não podem ser consideradas. Carlos Melo Alves, advogado do arguido Emanuel Calças, questionou a Cândida Vilar o momento escolhido para apresentação de novas provas e pediu a nulidade das mesmas. “Se esses telemóveis foram examinados, eles não estão no processo”. Também Sandra Martins, advogada de Fernando Mendes, antigo líder da Juve Leo – libertado na passada sexta-feira devido a doença oncológica –, defendeu a nulidade das provas obtidas através dos telemóveis.

No entanto, a procuradora do Ministério Público garantiu que tudo foi feito sob a sua direção e sublinhou a dificuldade em aceder aos conteúdos dos telemóveis dos arguidos, justificada pela falta de equipamento das polícias e pelo facto de os arguidos terem apagado mensagens trocadas entre si.

Recorde-se que na semana passada seis dos 44 arguidos no caso pediram para falar na abertura da instrução e todos negaram as acusações feitas pelo Ministério Público. Agora, o juiz Carlos Delca tem um mês para produzir o despacho de pronúncia, ou não pronúncia – neste caso, se leva o caso a julgamento. Caso não exista decisão do juiz de instrução criminal até ao dia 21 de setembro, os primeiros 23 detidos serão nessa altura libertados.