Back to basics: o espírito de tribo regressou ao Meco

Não falta espírito de grupo na Herdade do Cabeço da Flauta, onde decorre o festival Super Bock Super Rock. ‘O nosso grupo de amigos vale tanto quanto o espetáculo’, diz ao SOL um dos campistas.

Quando o panorama dos festivais, em Portugal, parecia morrer lentamente surgiu o Super Bock Super Rock (SBSR). Corria o ano de 1995, na Gare Marítima de Alcântara dava-se início a uma nova era dos eventos musicais em território lusitano. Para celebrar a sua 25.ª edição, o SBSR regressou a um lugar onde já foi feliz, a Aldeia do Meco, em Sesimbra E, claro, onde já fez os festivaleiros igualmente felizes.

O evento conhecido por trazer a território lusitano artistas que oferecem um alinhamento baseado em rock, indie e alternativa abre-se este ano a outros géneros, com a presença de artistas como a britânica Lana Del Rey, que nos brindou com o seu pop barroco, os The 1975 com o seu pop rock com sonoridades indie rock e de rock alternativo, os indie franceses Phoenix ou a cantora R&B Janelle Monáe.

Durante o primeiro dia, o único esgotado, o SOL esteve à conversa com campistas para compreender o motivo pelo qual viajam de vários pontos do país até à Herdade do Cabeço da Flauta. Entre as opções disponibilizadas aos campistas encontram-se o camping com carro, o glamping (acampar com mais conforto, privacidade e comodidades) ou até a modalidade free spirit campers (para aqueles que pretendem chegar ao Meco e deparar com as tendas já montadas, não tendo sequer de arrumar nada no final do evento).

 

Da cidade à aldeia

Sete jovens conversam alegremente enquanto aguardam pelo arranque oficial das festividades, trocando segredos e gargalhadas perto das tendas coloridas. Carolina, de 19 anos, explica que o dia está a ser «muito fixe» devido à temperatura elevada e à proximidade da praia. Mónica, de 18, expõe a sua opinião acerca da mudança do local do festival: «Ouvi dizer que a Música no Coração comprou o Pavilhão Atlântico e que, do ponto de vista dos interesses da organização, foi mais fácil passar quatro anos em Lisboa, mas o espírito de tribo perdeu-se». Nuno Figueiredo, de 26 anos e a namorada Sara, de 23, desconhecem as burocracias envolvidas no processo de venda do pavilhão, mas de uma coisa têm a certeza: valeu a pena percorrer os quase 300km que separam Espinho do Meco pelo «cartaz extremamente completo». Contudo, esperavam «outras condições de campismo».

Mais adiante, seis amigos de diversos pontos do país – Barreiro, Almada, Ribatejo e Aveiro – resumem assim a sua estada de três dias em Sesimbra: «Um vizinho ajuda o outro». Com idades entre os 18 e os 21 anos, não se conheciam antes e decidiram juntar-se quando colocaram, pela primeira vez, os pés no chão árido setubalense. A magia rural surpreende-os e, acima desta, só estaria uma aparição do rapper e produtor norte-americano J. Cole ou do DJ Childish Gambino.

Para Guilherme, de 23 anos, não é novidade andar nestas lides, habituado que está a «escapar ao rebuliço da cidade e à rotina». Segue à letra a máxima de Baden-Powell, o fundador dos escuteiros – «Esteja preparado mentalmente, esteja preparado psicologicamente» – ou não pertencesse ele ao maior movimento juvenil mundial de cariz educacional e de voluntariado.

Também há quem não se deixe levar totalmente pela celebração da 1.ª arte e se sinta desiludido. Inês, de 20 anos, natural de Paços de Ferreira e estudante de Psicologia em Inglaterra, está a experimentar acampar pela primeira vez e acha «horrível». Enquanto penteia a irmã, Francisca, admite que «apesar de as pessoas serem simpáticas, o calor é insuportável». Só espera que Lana Del Rey faça dissipar a sua ‘Summertime Sadness’ até ao encerramento.

«O nosso grupo de amigos vale tanto quanto os espetáculos», avança Guilherme, de 24 anos, à medida que observa cuidadosamente a subida enérgica de um dos melhores amigos a uma árvore. A razão? «Estamos a tentar colocar a lona por cima de todas as tendas, é um projeto de engenharia», confessou o aventureiro experiente cuja alcunha que lhe foi atribuída pelos colegas de acampamento é ‘ministro’. Como estuda Economia e deseja lutar pela Administração Pública e «trabalhar em prol dos outros», tem assumido as rédeas da resolução dos problemas num grupo vasto. Entre colegas de turma da faculdade e amigos de amigos, rumaram ao festival três dezenas. «Os poucos lavatórios, os poucos duches, a falta de terminais para carregar os telemóveis e a sinalização da praia quase inexistente» parecem ser colocados de parte quando o companheirismo fala mais alto que as adversidades.

Segundo os dicionários, uma tribo corresponde a um tipo de agrupamento humano unido pela língua, costumes, instituições e tradições. No SBSR, espera-se que a música una uma tribo de quase 90 mil pessoas até à noite de domingo.