Oito em cada dez jovens não vivem onde gostariam

Lisboa é a região onde os jovens indicam ter um custo maior com as despesas da habitação, a atingir os 425€, mensais, seguida do Porto, onde a casa implica um custo médio de 363€. 

Cerca de 78,1% dos jovens entre os 18 e os 34 anos não vive onde gostaria. A razão principal passa pela falta de recursos económicos para a habitação que desejam. A conclusão é de um estudo realizado pela Century 21 Portugal.

“Mesmo os 25,9% dos que já estão a trabalhar não atingem os rendimentos necessários para a casa pretendida. A falta de meios suficientes para aquisição de habitação (16,4%) a somar aos 6,4% que estão desempregados, aos 4,7% que sentem insegurança no trabalho e aos 4,4% que não conseguem arrendar são os principais obstáculos para os jovens acederem à sua habitação”, diz o II Observatório do Mercado da Habitação em Portugal.

No entanto, o documento garante que o facto de viverem fora da casa dos pais não significa que sejam economicamente independentes, dado que 37,2% dos jovens emancipados depende financeiramente da família ou parceiro. Já os jovens que ainda vivem com os pais, e que já dispõem de algum rendimento pontual, mais de 75% conta com o apoio económico da família Na realidade,19,2% dos jovens não tem qualquer tipo de rendimento, indicador que sobe para 38,9% no segmento etário dos 18 a 24 anos, que ainda dependem inteiramente dos pais. Esta percentagem diminui à medida que a idade aumenta.

No entanto, mais de 5% dos que têm mais de 30 anos ainda não têm rendimentos. Na base total dos jovens inquiridos, 62,9% conta com menos de 1000 euros mensais e 17,2% têm ganhos inferiores 500 euros. Apenas cerca de 12% indicam rendimentos entre 1000 e 1500 euros, por mês.

Qual o desejo?

Quando se questiona onde desejaria viver, 33,4% dos jovens admite que gostaria de morar numa casa própria com o parceiro, 18,5% gostaria de viver sozinho e 1,9% com amigos. De qualquer das formas, 53,8% prefere uma opção de casa própria, enquanto 36,7% se inclina para uma habitação arrendada. Apenas 4,5% optam por habitação partilhada, quer seja arrendada ou própria.

Já quando analisadas as preferências em função das diversas faixas etárias, verifica-se que a intenção de adquirir casa regista um crescimento constante em linha com o aumento da idade. A opção por casa própria dispara para 64,5% nos jovens com mais de 30 anos, que são também os mais inseridos no mundo do trabalho. A aquisição de habitação é a solução apontada por 54,6% dos jovens entre os 25 e 29 anos e cai para 43,2% entre os menores de 25 anos.

No sentido inverso, a preferência pelo arrendamento é maior nos mais jovens e atinge os 48,1% nos que têm entre 18 e 24 anos, mas diminui à medida que a idade aumenta. Na faixa etária dos 25 aos 29 fixa-se nos 36,4% e desce para 25,1% a partir dos 30 anos.

 “Quando procuramos identificar as motivações da juventude atual face à habitação, constatam-se sinais muito claros dos mesmos valores que orientaram as gerações anteriores. Neste estudo, evidencias o desejo dos jovens de saírem de casa dos pais para viverem em casal, numa tendência que aumenta com a idade. Também se verifica que os jovens portugueses mantêm ainda uma forte cultura de proprietários, à semelhança do que se verificou na geração dos seus pais. Porém, o arrendamento já é uma opção desejada por um em cada quatro jovens no limiar da vida adulta", refere Ricardo Sousa, CEO da Century 21 Portugal.

Quanto ao tipo de habitação, a primeira opção para 44,5% dos jovens é um apartamento. Contudo, esta preferência muda para uma moradia nos que têm mais de 30 anos (36,1%) e para 36,6% dos jovens algarvios. Esta tendência pode evidenciar uma maior apetência para começar a constituir família num espaço mais adequado para iniciar a vida adulta, consoante as características do parque imobiliário da região onde pretendem habitar. Viver num estúdio é a segunda preferência (18,1%) dos que têm entre 25 e 29 anos e dos jovens de Lisboa (14%). Esta opção também é indicada por 17,1% dos portuenses e por quase 15% dos jovens no resto do País. Um estúdio também é mais apetecível 3% para as mulheres do que para os homens. Surpreendentemente, a opção de coliving é irrelevante e a menos atrativa para os jovens de todas as faixas etárias, exceto para 3,4% dos que têm entre 25 e 29 anos.

Já se preferiam uma habitação nova ou usada, a maioria dos jovens (64,1%) não se importa se a casa é nova ou não, desde que esteja em boas condições. No entanto, para os que têm opinião mais concreta sobre esta questão, uma casa nova é a opção preferida de 18,8%. Em segundo lugar, com 16,8% das preferências, indicam uma habitação usada, em bom estado. A preferência de uma habitação nova é maior entre os homens (21,8%), os jovens dos 25 aos 29 anos (20,6%) e os que vivem no Algarve (25,6%).

Casas: dois quartos e duas casas de banho

A primeira casa a que os jovens portugueses aspiram para se tornarem independentes devia ter uma área de 82,8m2. Contudo, os homens são mais exigentes em 4m2 do que as mulheres em relação ao tamanho da habitação. Em geral, as expectativas de todos os jovens estão muito alinhadas sobre a área da casa que desejam. Porém, a dimensão pretendida aumenta com a idade, com os jovens a partir dos 30 anos a desejarem já uma casa com área superior a 88m2.

Na análise por área geográfica, os jovens lisboetas são os mais moderados, a ambicionarem casas com 80 m2. No extremo oposto estão os algarvios, com a expectativa de se emanciparem para uma casa de 88m2. Já quando se questiona o número de quartos e de casas de banho que gostariam que a primeira casa tivesse, todos os jovens- de ambos os géneros, em todos os segmentos etários e de todas as regiões do país- foram unânimes nas respostas: a habitação que pretendem para se emanciparem deve ter dois quartos e duas casas de banho.

Quanto à distribuição dos espaços da habitação, 56,9% dos jovens que ainda vive com os pais prefere que a sua primeira casa tenha uma sala grande e quartos pequenos. Esta tendência é mais significativa em Lisboa com 63,3% a privilegiarem o espaço social da casa em detrimento dos quartos, nos homens e nos jovens dos 25 aos 29 anos.

"Embora esta escolha seja maioritária em todos os segmentos etários, opinião contrária têm os jovens do Porto e do Algarve, onde 52,4% e 56,6%, respetivamente, preferem uma casa com quartos grandes e uma sala de estar menor. A maioria (55,1%) dos jovens prefere também que a sua primeira casa tenha uma cozinha e sala de estar separadas, com os jovens do Porto a liderarem com 69,9%. No entanto, 44,9% optou por colocá-los numa única divisão, o que pode indiciar uma nova tendência para uma melhor gestão do espaço. A opção de ter a cozinha e a sala de estar no mesmo espaço é mais atractiva para as mulheres (49,8%) e para os jovens residentes no resto do país (56,2%)".

Despesas sobem na capital

Na análise às questões económicas que envolvem a habitação, comprova-se que oito em cada 10 jovens assumem parte das despesas da casa onde vivem e o custo com a habitação varia com a idade e a área de residência. Para os que já colaboram nos gastos com a habitação, o custo médio mensal que têm com arrendamento, hipoteca ou colaboração nas despesas da casa é de 348 €, a nível nacional. Este valor médio sobe para mais de 350 € entre os jovens com mais de 25 anos.

Lisboa é a região onde os jovens indicam ter um custo maior com as despesas da habitação, a atingir os 425€, mensais, seguida do Porto, onde a casa implica um custo médio de 363€. Já no Algarve este valor desce para os 341€ e no resto do país a média não supera 309€ mensais. Porém, estes custos também variam em função dos modelos de habitação.

Para os que vivem com os pais, a média de colaboração nas despesas da casa não ultrapassa os 311€, enquanto os que vivem numa habitação arrendada pagam uma média de 379 €, mais 33 € mensais do que os que vivem em casa própria.